A
dançarina e o marcador rodam no mesmo ritmo. Gritam com o mesmo fervor.
Batem no peito com a mesma garra. A vontade de vencer é gêmea nos dois.
Toma o tablado inteiro, do chão branco até o céu colorido por
bandeirinhas. Só que a jovem se despede, enquanto o rapaz volta a viver
um sonho.
Pisar
no Quadrilhódomo é um sonho cheio de cor. É uma festa de cheiros. De
gentes. Das alegrias e das felicidades. Mas também uma festa banhada
pelo suor. Pelas horas intermináveis de ensaios meses a fio. Pelos calos
nos pés minutos antes de a sanfona dar o primeiro acorde. Por tudo
quanto represente a perseverança. Da oração coletiva ao grito de guerra.
O
festejo é de todos. É da criança com trancinha e sarda pintada pelo
pai. É da senhorinha com o pé enfaixado mas toda animada pra ver o
casamento matuto. É da menina dividindo uma maçã-do-amor com o namorado.
E por isso é também da Talita Brunela, nascida Francisco Tadeu de
Araújo Brandão.
Aos
24 anos, 18 dos quais vividos em trajes típicos todo junho/julho, ela
dá adeus aos holofotes dos quadrilhódomos. Vai para os bastidores
coordenar os colegas. “Eu comecei a dançar quadrilha tinha seis anos, na
escola. Nem sabia direito o que acontecia, mas amava o São João. É o
amor que me move.”
É
nesse amor que ela sublima toda dificuldade. Que a faz ter certeza de
que esse é o melhor período do ano. E que os festivais municipais de
quadrilha de Caucaia são os melhores do mundo. “Foram 18 anos de luta,
de dor, de tristeza e de alegria. Tudo por um só ideal: dar o melhor em
quadra. Foi aqui onde dancei o meu primeiro festival profissional. Isso
aqui é um sonho pra gente.”
Um
sonho compartilhado por quem depois de anos voltou a pisar num
quadrilhódomo. O quadrilhódomo do I Chitão de Caucaia, iniciado nessa
terça-feira (27/6). Foi a apresentação acabar pra Regivaldo Araújo, o
Régis, cair no choro. De emoção. De cansaço. Mas principalmente de
orgulho. Ao ponto de os companheiros abandonarem as duplas para o abano e
o abraço do presidente-marcador.
A
lágrima era uma síntese. Foram seis meses de ensaio resumidos em 35
minutos de apresentação. Dias sem dormir direito. Sem comer direito. A
ansiedade do antes e o orgulho do durante. “A gente lutou muito pra
estar aqui. Quem vê tudo pronto nem sonha como é difícil, como a gente
se sacrifica... E voltar aqui [no antigo CSU, onde acontece o I Chitão
de Caucaia] depois de tanto tempo é uma emoção muito forte”, diz Régis.
Ele e Talita são de quadrilhas diferentes. Mas o amor pelo São João é um só. Do chão branco ao céu colorido por bandeirinhas.
SERVIÇO
I CHITÃO DE CAUCAIA
Quando: de 27 de junho a 2 de julho, sempre a partir das 18 horas.
Onde: antigo CSU.
http://www.caucaia.ce.gov.br/
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