O combate à corrupção e ao crime organizado foi foco dos principais
projetos aprovados no primeiro semestre de 2019 na Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), ao lado da proposta de emenda à
Constituição (PEC) do orçamento impositivo e de proposições ligadas à
segurança pública.
A avaliação foi feita pela senadora Simone Tebet (MDB-MS), a primeira
mulher a assumir a presidência da comissão, encarregada de examinar a
constitucionalidade de todas as proposições em tramitação no Senado,
entre outras atribuições. Em entrevista à TV Senado, ela destacou as
principais ações do colegiado no primeiro semestre deste ano.
— A comissão foi o pulmão que oxigenou o Plenário do Senado com as
propostas ali relatadas. A CCJ relatou propostas de iniciativa popular,
como a criminalização do caixa dois e a compra de votos, a
caracterização da corrupção como crime hediondo, a apreensão de bens
adquiridos por meio de corrupção — afirmou.
Em 2019, a CCJ fez 35 reuniões deliberativas, aprovou mais de 300
proposições e promoveu 10 audiências públicas para instrução de projetos
relacionados à responsabilidade civil do Estado, modernização do
turismo no Brasil, redução da maioridade penal, registro e porte de
armas e regulamentação da profissão de leiloeiro público oficial, entre
outros temas.
A comissão aprovou ainda, após sabatinas, a indicação de um ministro
do Tribunal Superior do Trabalho (TST), seis conselheiros para o para o
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e dez conselheiros para o Conselho
Nacional do Ministério Público (CNMP).
Combate à corrupção
Entre os projetos aprovados, Simone Tebet citou o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 27/2017,
conhecido como Dez Medidas contra a Corrupção. De iniciativa popular, o
texto amplia penas para os crimes de corrupção, criminaliza o caixa
dois eleitoral e facilita a recuperação de bens ou valores desviados da
população, além de contemplar medidas de combate a abusos de autoridades
de juízes e procuradores.
Simone Tebet explicou que a CCJ derrubou o decreto de armas editado
pelo presidente Jair Bolsonaro, tendo em vista que o texto infringia
dispositivos do Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826), aprovado pelo Congresso Nacional, em 2003.
— Foi preciso uma posição firme, necessária. A população não
entendeu, é preciso que se utilize o racional para entender o papel do
Senado. Tiramos o excesso de inconstitucionalidades. A gente está aqui
para fazer o jogo democrático, combater excessos. A CCJ, corretamente
respaldada pelo Plenário, sustou o efeito do decreto — explicou.
A senadora destacou ainda que a CCJ avançou no Projeto de Lei (PL) 3.715/2019, que prevê a posse ampliada de arma de fogo em área rural, e na PEC 17/2019,
que inclui a proteção de dados pessoais, inclusive os disponíveis em
meios digitais, na lista das garantias individuais da Constituição.
— Há um mundo desconhecido e sem regulamentação na internet. Estamos à
mercê do mercado, das ações de hackers. Isso precisa de controle, sem
tirar o direito de liberdade de expressão. Ninguém pode infringir o
Código Penal. O que fizemos foi constitucionalizar a proteção de dados
digitais. Quem infringir, de forma ilícita, será punido.
Violência doméstica
Em relação à pauta feminina, Simone Tebet destacou que a CCJ tornou
mais rigorosos dispositivos da Lei Maria da Penha e já discute um
projeto que prevê a retirada de armas de fogo da residência do agressor
em caso de violência doméstica.
Em relação à pauta econômica, a presidente da CCJ destacou a aprovação do orçamento impositivo,
que torna obrigatória a execução das emendas de bancada, a exemplo do
que já ocorre com as emendas individuais. E ainda a PEC que aumenta para
26% a parcela do produto da arrecadação dos impostos sobre a renda e
proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados
destinada aos fundos de participação.
Na área jurídica, a senadora destacou o projeto que institui o cadastro positivo (PLP 54/2019), já transformado na Lei Complementar 166, de 2019.
O cadastro positivo poderá beneficiar 130 milhões de pessoas, inclusive
22 milhões que se encontram fora do mercado de crédito. O governo
argumenta ainda que a medida tem o potencial de reduzir em 45% a
inadimplência no país.
Saúde e segurança
Na área de segurança, Simone Tebet destacou o Projeto de Lei do Senado (PLS 128/2018), que institui o Inquérito Policial Eletrônico, já remetido para exame da Câmara dos Deputados. A senadora citou ainda o PLS 483/2017,
que permite o uso de veículos apreendidos e sem identificação pelas
polícias civis, federal, rodoviária federal e militares, e o PLC 48/2018, que institui o Cadastro Nacional de Pedófilos, a ser examinado agora em Plenário.
Na área de saúde, a presidente da CCJ destacou o PLS 769/2015,
que proíbe a propaganda de cigarros nos pontos de venda e o fumo em
veículos com passageiros menores de 18 anos. O texto, que torna a
inserção de sabor e aroma nos cigarros infração gravíssima, com cobrança
de multa, agora será analisado pela Câmara dos Deputados.
Outro projeto já enviado à Câmara, também destacado por Simone Tebet, é o PL 550/2019,
que institui a Política Nacional de Segurança de Barragens. O texto
torna mais rígidas as regras de responsabilização civil, penal e
administrativa das mineradoras; estabelece multas que chegam a R$ 10
bilhões; e classifica como hediondo o crime de poluição ambiental que
resultar em morte. O projeto foi uma resposta do Senado às tragédias do
rompimento das barragens de rejeitos em Brumadinho e Mariana, em Minas
Gerais, explicou a senadora.
Homofobia
Em relação a temas polêmicos, Simone Tebet citou a criminalização da
homofobia pelo Supremo Tribunal Federal e disse que a questão tem que
ser discutida no Senado.
— A criminalização da homofobia é um tema delicado, exige coragem
devida para enfrentar. O Supremo Tribunal Federal tem mandado recados. A
lei tem que proteger quem se sentir discriminado. Homofobia é crime.
Ninguém pode discriminar alguém pela sua orientação sexual. O projeto
não foi para a frente antes da decisão do Supremo. Tentamos avançar, mas
o projeto ficou paralisado, não houve acordo e o STF se antecipou. Mas o
tema deve ser tratado em lei específica, e não no âmbito da Lei do
Racismo — afirmou.
Na avaliação da senadora, a reforma da Previdência e os projetos de
combate à corrupção serão os principais temas a serem debatidos na CCJ
no segundo semestre de 2019.
— Em agosto receberemos a reforma da Previdência. Vamos designar
relator e dar prazo para emendas. Vamos ser rigorosos no prazo para
podermos mandar a reforma para o Plenário, e lá cada um vai votar de
acordo com a sua consciência — concluiu.
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