De janeiro a março deste ano, 455 comunidades solicitaram à Sohidra perfuração de poços profundos (média de cinco por dia). Em 2012, foram 1.400. Mas falta de estrutura impede atendimento. Por ano, apenas 300 são feitos
O paliativo, estafante acesso à água de dona Diná, 68, no Guajiru (Caucaia), é realidade sonhada por pelo menos 1.855 comunidades sertanejas do Ceará desde 2012. “Pego o balde, encho no chafariz, boto no carrinho de mão e coloco pra dentro. Uso pra beber, tomar banho, lavar louça, tudo”, resume a aposentada Maria Pereira de Goes, 68, conhecida como Diná.
Afetados pela pior seca dos últimos 20 anos, moradores dessas localidades solicitaram à Superintendência Estadual de Obras Hidráulicas (Sohidra) a perfuração de poços profundos. Gotas de esperança que não brotaram do subsolo para 79% deles, já que o órgão tem capacidade de executar apenas 300 serviços do tipo anualmente.
Segundo o diretor de águas subterrâneas da Sohidra, José de Oliveira Borges Neto, foram 1.400 pedidos feitos em 2012 (média de três por dia) e 455 neste ano, entre janeiro e março (cinco por dia).
A expectativa é de 2013 superar o ano passado em 28% as requisições, se o quadro atual de escassez de precipitações manter-se. O POVO solicitou, mas não teve acesso à lista de comunidades que acionaram a Sohidra. “Só temos seis máquinas. Mas não produzimos mais também por causa do deslocamento. A logística é difícil”, explica Borges.
Investimento
Ele prevê mais poços profundos para este ano do que a média de 300 unidades dos anteriores. Motivo: o anúncio da presidente Dilma Rousseff (PT) no último dia 3, durante reunião com os governadores do Nordeste em Fortaleza, de investir R$ 208 milhões na perfuração e recuperação de poços na região. “Estamos recebendo quatro perfuratrizes. E a Sohidra já tinha providenciado uma. Com isso, vamos para 11. Quase dobrar. Mas ainda é insuficiente (para atender a toda a demanda)”, cita o diretor.
Além da Sohidra, perfuram poços no Ceará o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Não se sabe quantos equipamentos existem no Estado, se consideradas as três entidades. Estima-se 10 mil chafarizes ligados a poços profundos sob a tutela apenas da Sohidra. “Abaixo de cinco casas, a gente não faz. Não compensa o investimento. Mas que é necessário, é. A qualidade de vida melhora. Tem comunidade em que a salvação é o poço. Porque não tem açude perto”, diz Borges.
O POVO apurou a existência de apenas uma perfuratriz na Funasa. “Sem dúvida, maiores investimentos são de suma importância para reduzir os efeitos negativos das secas, que são cíclicas, e por via de consequência dar condições de o sertanejo seguir habitando o semiárido brasileiro”, destacou a Fundação, por meio de nota.
Dona Diná concorda. “Não fosse esse chafariz, não sei o que teria sido da gente. Melhorou muito a situação. No verão, por exemplo, a gente fica só com ele porque a Cagece nem vem de dia nem de noite. E esse ano, com essa seca que tá aí, vai ser sufoco.”
O comerciante Clóvis Wilson Paiva de Lima, 51, é considerado o “síndico” do motor que bombeia água do poço para o chafariz do Guajiru. Ele diz que o equipamento melhorou muito a vida da comunidade e está lá “há uns 25 anos”. Jorra tanta água que ele pensa em construir outro chafariz por conta própria. “Quando falta a da Cagece - e vive faltando por aqui -, forma fila grande nesse chafariz. Porque aqui não falta.”
ENTENDA A NOTÍCIA
Com a liberação da verba prometida por Dilma Rousseff, a Sohidra espera quase dobrar a estrutura atual de perfuração de poços. Não há data fixada para a aplicação do recurso. Mas ordem da presidente foi de ação imediata.
Números
1.400
É o número de pedidos para perfuração de poços profundos no Ceará feitos a Sohidra em 2012
455
É o número de pedidos para perfuração de poços profundos no Ceará feitos a Sohidra em 2013 (até março)
300
É a média anual de poços profundos perfurados pela Sohidra no Ceará
Serviço
Solicitação de perfuração de poços profundos
Onde: Sohidra (rua Adualdo Batista, 1.550, bairro Parque Iracema, Fortaleza)
Telefone: 3101 4706
o povo
