Alvo de um debate sobre a política de preços dos combustíveis, a Petrobras tem registrado um salto no lucro e, consequentemente, nos dividendos pagos a acionistas, em especial, o governo federal, sócio majoritário.
Dados repassados pela empresa à CNN
mostram que, entre 2020 e o ano passado, o repasse ao grupo de
controle, formado pela União e outros entes federais, como o BNDES,
saltou de R$ 2,5 bilhões para R$ 27,1 bilhões, um aumento de quase
1.000%. Já neste ano, a parcial até julho é de R$ 32 bilhões.
De olho nesse dinheiro para tentar defender a arrecadação dos estados, o Comitê Nacional de Secretários de Fazenda (Comsefaz)
levou ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, em reunião nesta
segunda-feira (30), a proposta de um fundo com dividendos para conter os
aumentos nos valores da gasolina e diesel e amenizar o impacto aos
consumidores.
O objetivo dos secretários é evitar a aprovação do projeto que limita
o ICMS sobre energia e combustíveis, o que, segundo o órgão, poderia
trazer um prejuízo de até R$ 83 bilhões aos estados.
O Comsefaz
sugere que cerca de 40% dos dividendos sejam depositados em um fundo
para uso durante períodos de volatilidade no preço do petróleo, como é o
caso atual por conta da guerra entre Ucrânia e Rússia.
O
presidente do comitê, Décio Padilha, defende que seria uma maneira de
reduzir o valor dos combustíveis e seus impactos na inflação, sem
intervir na autonomia da Petrobras.
Já o Ministério da Economia,
em nota, informou à CNN que não comentará a proposta. Também divulgou
que os recursos vêm sendo utilizados para amortização da dívida pública
federal, baseando-se na Lei 9.530/1997.
“Serão destinados à
amortização da dívida pública federal: a receita do Tesouro Nacional
decorrente do pagamento de participações e dividendos pelas entidades
integrantes da Administração Pública Federal indireta, inclusive os
relativos a lucros acumulados em exercícios anteriores”, diz a lei.
Enquanto
o debate sobre o ICMS corre, a Petrobras vive um período político
conturbado. A empresa aguarda os nomes do Ministério de Minas e Energia
para compor a nova gestão do Conselho de Administração, já que o governo
federal decidiu fazer mais uma troca na presidência, tirando José Mauro
Ferreira Coelho e indicando Caio Paes de Andrade.
A política de
preços da empresa é alvo de constantes críticas do presidente Jair
Bolsonaro. Na semana passada, segundo apuração do analista da CNN Caio
Junqueira, a Petrobras alertou o governo sobre o risco de ser
responsabilizado legalmente em caso de interferência e preços
desalinhados ao mercado.
No ofício, a estatal também apontou
experiências internacionais para amenizar o impacto nos preços, sem
interferência na estatal, como programas de transferência de renda e
subvenções. Questionado pela CNN se estuda algum tipo de subsídio, o
Ministério da Economia negou nesta segunda-feira.
Evolução dos dividendos
Segundo
dados divulgados pela Petrobras, entre 2015 e 2017, sem registrar
lucros, a empresa não fez pagamento de dividendos à União. Em 2018,
houve o repasse de R$ 1,2 bilhão ao governo federal, valor que subiu
para R$ 2,9 bilhões em 2019.
No início de maio, quando divulgou o
resultado financeiro do primeiro trimestre deste ano, com lucro recorde
de R$ 44,5 bilhões, a empresa também divulgou uma nota, dizendo que a
“sociedade brasileira é a principal beneficiária dos resultados da
Petrobras.”
A companhia publicou que o pagamento de dividendo é
obrigatório em caso de lucro para empresas de capital aberto e que a
política de remuneração aos acionistas busca o alinhamento com os demais
atores do setor de petróleo e gás natural.
Também destacou que, entre janeiro e março deste ano, pagou R$ 70 bilhões em impostos, royalties e participações governamentais.
“Por
anos, a Petrobras deixou de pagar dividendos para União e qualquer
acionista e praticou investimentos que não geraram resultados, o que
levou ao alto endividamento da companhia, chegando a ser o maior entre
as empresas no mundo. Agora vivemos uma nova realidade, com foco em
eficiência.
Os recursos gerados pela Petrobras são revertidos em
investimentos realizados com responsabilidade e que geram maior
desenvolvimento econômico e geração de empregos e renda para os
brasileiros”, defendeu o atual presidente da Petrobras, José Mauro
Coelho, em nota divulgada no dia 5 de maio.
cnn