Cerca de 20 a 30 homens encapuzados e armados invadiram o território ocupado pelo povo Anacé, localizado no município de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza. Os indígenas denunciam que pelo menos dois ataques foram registrados, um na madrugada e outro na noite dessa quinta-feira, 18, resultando na depredação dos materiais de construção e das barracas construídas pelas famílias que voltaram a ocupar o território desde setembro de 2023.
Durante a madrugada, enquanto estava trabalhando, cacique Roberto Anacé, pertencente à comunidade indígena, recebeu informações de que as famílias estavam sendo atacadas por um grupo de pessoas que portavam armas de fogo e máquina de arado e patrol, habitualmente utilizada para nivelar terrenos.
“Eles esboçaram as armas, mostrando o seu poder bélico e ameaçando a todo instante a população daqui. Disseram que nós quebramos acordos, mas eles quebraram primeiramente, ao tentar danificar os cemitérios que aqui haviam, com uma patrol e com aqueles carros de arado”, pontua o cacique.
As famílias foram expulsas do local intitulado pelos Anacés como “Parnamirim”.
Segundo os indígenas, agentes do Comando de Prevenção e Apoio às Comunidades (Copac), da Polícia Militar do Ceará (PMCE), foram ao local durante o dia de quinta, 18, mas quando os PMs saíram para fazer uma ronda, os ataque foram reiniciados.
"Só deu tempo ela [a Copac] sair que eles [os encapuzados] começaram de novo. [...] Quando eles vêem a Polícia, eles todos correm. Quando a Polícia sai, eles voltam todos e ficam ameaçando. Quando percebem que alguém passa para lá, eles começam a atirar", contou uma das moradoras que teve a casa destruída.
Os indígenas ainda contam que animais como vacas e cavalos foram colocados no território em disputa, a fim de destruir as plantações deles.
De acordo com Elber Anacé, as 46 famílias que habitam na aldeia vivem da sustentabilidade da lagoa, da terra e da mata. No entanto, em detrimento das ações de desmatamento, os moradores não dispõem totalmente do sistema agrícola.
Áurea Anacé, liderança indígena, explica que as famílias continuarão na resistência.
“Não é justo eles saírem, eles continuam na resistência, queriam que saíssem, mas não vão sair, estão lá e vão continuar. Sei que é perigoso, coloca a minha vida, a do cacique e a dos demais em risco, mas vamos pedir a Deus que dê tudo certo”, compartilha.
Ainda conforme Áurea, a suspeita é de que o ataque tenha sido articulado por um posseiro da região.
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) informou que monitora o caso. A Secretaria dos Povos Indígenas do Ceará (Sepince) informou, na manhã desta sexta-feira, 19, que tem acompanhado atentamente os acontecimentos com o Povo Anacé, em Parnamirim, no município de Caucaia.
"Estamos em diálogo contínuo com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social e com o coordenador da Regional 2 da Funai, buscando contribuir na mediação pacífica e tranquila. Como parte desse esforço, em conjunto com a SSPDS, buscamos garantir a proteção e a defesa do povo indígena", destaca.
Na nota, a Sepince ainda reitera o compromisso com a segurança e o bem-estar do povo Anacé. "Continuaremos a monitorar a situação de perto, buscando sempre soluções que promovam a paz", completa.
O Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace) também foi procurado e repudiou os atos de violência.
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