Caucaia Trabalhar há alguns bairros de onde mora. O que pode parecer comum, para quem vive na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) está se transformando em uma nova realidade. Tidas como "cidades dormitório", Caucaia e Maracanaú evoluem e vislumbram uma mudança de perfil embalada pelo desenvolvimento econômico.
Quem antes precisava ir a Fortaleza para trabalhar, com o crescimento da economia das cidades da RMF, já pode se dar ao luxo de ter um emprego na cidade onde reside. O cenário mostra, ainda, uma outra faceta: a de fortalezenses que aproveitam o boom econômico das cidades vizinhas e fazem o caminho inverso, transformando a Capital em seu dormitório.
Especialistas, entretanto, afirmam que o conceito de "cidade dormitório" é algo limitante, frisando que a Capital e sua Região Metropolitana "se articulam com o conjunto de cidades".
Detentora do segundo Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará - atrás apenas de Fortaleza - Maracanaú vive em constante transformação. Desde a década de 70, quando da instalação do Distrito Industrial, a cidade pulsa na velocidade do maquinário de suas fábricas.
Franquias
Inicialmente, com a construção dos conjuntos habitacionais, a cidade carecia de atrativos para segurar a mão de obra. Foi o que aconteceu. Hoje, com a presença de franquias e marcas de nível nacional, a oportunidade de emprego bate à porta da população local. "Antes, qualquer emprego que fosse, a pessoa tinha que ir para outra cidade. Tendo oportunidade aqui mesmo é muito mais comodidade", disse o atendente de loja Davi Diniz.
O vendedor Antônio Dennes também comemora. "É muito bom não ter que sair para Fortaleza, ter essa proximidade com a família", frisou, enfatizando os benefícios que conquista ao não ter de perder tempo com grandes deslocamentos.
Pela proximidade com a Capital, Caucaia servia de "berço" para os trabalhadores. Agora, com a chegada de indústrias de grande porte, o município cresce internamente, forçando a criação de empregos para os habitantes.
O inspetor de qualidade Eliardo Pereira, empregado na Companhia Sulamericana de Cerâmica (CSC), uma das indústrias recém-instaladas na cidade, comemora a proximidade do trabalho à sua casa. "Vejo essa mudança de perfil da cidade de uma forma muito positiva, só veio trazer benefícios para o trabalhador. Antes não era muito legal, por ter de pegar ônibus (e ir a outra cidade). Hoje, para mim, é mais seguro", revela.
O funcionário Wellington Maciel, colega de Eliardo, comemora a chance de ter o primeiro emprego na porta de casa. "É uma ótima oportunidade por ser perto e o transporte não chega tarde em casa", avaliou.
A CSC é uma das empresas que escolheu Caucaia para se fixar. Desde fevereiro de 2013, quando foi dado o pontapé inicial de instalação da fábrica de cerâmicas, toda a mão de obra contratada é cearense. "Hoje temos 300 funcionários, mas na construção foram 600. E temos a intenção de dobrar a capacidade", adianta o diretor administrativo financeiro da empresa, Luiz Soffarelli.
Se antes os moradores da RMF tinham de se deslocar a Fortaleza para trabalhar, hoje profissionais fortalezenses é que tomam o rumo de Caucaia e Maracanaú. É o caso do gerente de loja Ailton Ferreira. Todos os dias, ele deixa a família na Capital e parte para Maracanaú, onde trabalha no comércio. "É cansativo. A distância é algo complicado", disse, revelando que, diante da circunstância, já pensa em abandonar de vez a Capital.
A situação ainda é mais delicada para quem tem que conciliar trabalho e estudo. É o caso da instrutora de produção Ana Caroline. Morando no Conjunto Ceará, em Fortaleza, Caroline viaja todos os dias a Maracanaú para trabalhar.
Ao final do expediente, ela retorna a Fortaleza, desta vez, para a Praia do Futuro, onde cursa Engenharia de Produção em uma faculdade particular. "Aqui é bom pois eu não pego trânsito", opinou.
Mais informações
Agência de Desenvolvimento Econômico de Caucaia (Adeca): (85) 3342.7415
Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Maracanaú: (85) 3521.5952
ENQUETE
Como é trabalhar perto de casa
"Moro na Caucaia e já tive de trabalhar em outras cidades e ter de viajar. Agora está bom, antes era difícil conseguir emprego aqui. Com as indústrias, temos mais oportunidades"
Jackson Bento Moura, 34
Auxiliar de produção
"Moro em Maracanaú e acho que é muito melhor trabalhar aqui mesmo pois deslocamento é difícil. Aqui é perto de casa, chego sempre mais cedo depois do expediente"
Katiane Rodrigues, 23
Atendente de loja
Prefeituras tentam atrair empresários e investidores
Maracanaú A geração de emprego para os habitantes das cidades de Caucaia e Maracanaú tem sido um dos objetivos dos órgãos responsáveis pelo acompanhamento do desenvolvimento econômico dos municípios.
A Agência de Desenvolvimento Econômico de Caucaia (Adeca) e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Maracanaú trabalham, dentre outras prioridades, na “sedução” de empresários e investidores que apostem no crescimento da Região Metropolitana.
Mudança de cenário
De acordo com o presidente da Adeca, Antônio Vieira de Moura, houve uma mudança de cenário em Caucaia nos últimos cinco anos em termos de geração de novas vagas de emprego.
“De 2009 para 2014, 219 novas empresas se instalaram aqui. Isto gerou 54 mil novos empregos diretos”, disse.
Moura destaca seu otimismo em relação à atratividade do município aos investidores. “O desenvolvimento do Ceará passa por Caucaia", enfatizou, frisando que há ainda maior perspectiva de necessidade de profissionais em diversas áreas em um futuro breve. “Atraímos investimentos através de Leis de incentivo, com a isenção e redução de impostos, por exemplo. Com isso, teremos aqui um novo shopping, que está em início de construção, além da cidade da confecção, que até o final de 2015 contará com 4500 boxes, gerando mais de 15 mil empregos", afirmou. "Caucaia é a melhor cidade do Brasil para investir, na minha opinião", avaliou o presidente.
Crescimento
Por sua vez, o titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Maracanaú, Antônio Filho, destaca o crescimento dos segmentos industrial, comercial e de serviços na cidade.
Antônio cita um intervalo de oito anos para exemplificar sua empolgação. "De 2004 para 2011 aumentamos de 2.228 para 4.547 empresas, nos três segmentos. Quando as empresas procuram lugar para instalar, elas querem potencialidades como água, saneamento, gás na porta. E nós temos isso. Maracanaú só não cresce mais por falta de território", citou.
O secretário revela ainda os números de empregos gerados no município. “Em 2012, 53.110 carteiras de trabalho foram assinadas em Maracanaú. Apostamos na qualificação da mão de obra para poder atender a esta demanda”, disse, frisando a existência de um campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE).
Geógrafo não crê em desfiguração
Fortaleza De acordo com o professor do curso de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e sócio efetivo do Instituto do Ceará, Eustógio Dantas, não há mudança na relação das cidades da RMF com a Capital.
"O conceito que temos de cidade dormitório poderia ser entendido quando a cidade tinha uma independência (em relação à Capital). Hoje ela se articula com o conjunto de cidades, dentre elas, Fortaleza, que tem papel hegemônico, onde demandas por lazer, habitação e espaços são atendidos em outros municípios, que são os da RMF", disse.
Assistência
O professor destacou também a interação que existe entre as cidades da Região Metropolitana e a própria Capital. "Estamos falando no nível de especialização que não se justifica somente no limite de Fortaleza, mas se justifica na RMF. Eles vivem em articulação", explica Eustógio. O professor, que é sócio efetivo do Instituto do Ceará, instituição que realiza estudos científicos sobre geografia, história e antropologia, esclarece, ainda, o fenômeno de mudanças observado em Caucaia e Maracanaú. "As pessoas que trabalham e moram (na mesma cidade) ou as de Fortaleza que vão para lá são casos particulares. Não significa dizer que há a fragilização de uma em relação a outra ou que a cidade cresceu e consegue viver independente da Metrópole", define.
dn