Os estudantes de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Ceará, foram os únicos vencedores cearenses do Prêmio {Cura}: Transposições
Um novo olhar sobre a ponte José Martins Rodrigues. Foi dessa forma que quatro estudantes de Arquitetura eUrbanismo, da Universidade Federal do Ceará (UFC), venceram o 2º Prêmio {Cura}: Transposições, no último dia 8 de abril.
Rafaela Müller e Daniel Benevides, ambos de 26 anos, Edson Macedo, 24, e Amura Al Houch, 21, criaram o projeto Travessias Urbanas, que imagina a ponte sobre o rio Ceará mais confortável para quem realiza o cruzamento entre os municípios de Caucaia e Fortaleza. Além desse cuidado com os pedestres, ciclistas e cadeirantes, o grupo propõe tornar os espaços públicos da Barra do Ceará locais de permanência. Tudo isso em áreas existentes, sem necessidade de remoção dos moradores da região.
O Prêmio {Cura}, entregue no Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), em São Paulo, incentiva a reflexão sobre o tratamento das cidades em relação a transposições, assunto diretamente ligado ao desenho urbano, ocupação do solo e modais de transporte.
O ponto de partida do projeto foi a pesquisa para Trabalho Final de Graduação (TFG) da jovem Rafaela Müller, em sua primeira visita técnica à ponte. “Passando sobre a ponte nós vimos duas mulheres carregando seus filhos em carrinhos de bebê, dividindo a linha de acostamento com os carros”, relata. “Foi uma cena tão forte que passamos a estudar essas travessias”.
O estudo da passagem
“A gente começou a analisar o processo de como a ponte foi feita. Percebemos que a infraestrutura poderia ter sido realizada de uma forma melhor. Os ciclistas e os pedestres, por exemplo, poderiam estar inclusos”, continua, lembrando que a travessia não é propícia para modais não-motores. A opção dos pedestres, fora o acostamento, é por meio fluvial.
O local chamou atenção do grupo pelos aspectos naturais e históricos da área, como o encontro do rio com o mar, o Forte de Santiago e o balneário na área de Caucaia. O pôr do sol marcante é outro grande atrativo. O sol, aliás, incomoda a quem passa, já que não existe cobertura. A ponte, erguida em 1997, tem 633,75 m de extensão.
Daniel Benevides, estudante do 10º semestre de arquitetura, lembra que as condições para quem atravessa a pé são desfavoráveis. “A ponte é um grande arco, além do calor que é irradiado pelo asfalto e pelos veículos. Muitas pessoas que moram lá não têm condições financeiras para pagar o serviço fluvial diariamente”.
Espaços de permanência
Benevides conta que, além da necessidade e ampliar o acesso, a proposta também quer transformar a travessia em espaço permanente de “contemplação lúdica e prazerosa” a ser percorrido. “Nós podemos brincar com o desenho da ponte de maneira que as paisagens sejam valorizadas. As pessoas vão lá para observar o pôr do sol, tomar banho de rio e praia, além da paisagem de serra ao fundo”.
“Queremos trazer esse trajeto para a escala humana”, aponta Rafaela. “Que as pessoas sintam-se convidadas a estarem na ponte, que não seja apenas uma travessia”. O projeto propõe ainda ciclofaixas, parques e pier no entorno da conexão.
Estratégia urbanística
Para Daniel, a iniciativa é também uma questão de segurança pública. “Quando você traz pessoas para as ruas dessa maneira, traz a convivência. Isso oferece mais segurança para a cidade porque as pessoas estão olhando umas pelas outras”, explica. “A ocupação das ruas é uma estratégia urbanística”.
O próximo passo, indicam os jovens, é apresentar o trabalho para outros estudantes e incentivar um novo pensamento sobre a cidade, com a valorização do pedestre e das memórias em espaços públicos. Chegar no executivo também é um objetivo, mas os estudantes preferem dar um passo de cada vez.
Foram inscritos 76 projetos, de 19 estados do Brasil. Arquitetos e urbanistas de renome nacional, como Lizete Rubano (Mackenzie) e Marina Grinover (rede urbana) compuseram o júri. O grupo foi o único de cearenses entre os três premiados. Os dois lugares seguintes ficaram para estudantes de São Paulo.
Fonte: Jornal O Povo