O ex-governador do estado do Ceará, Adauto Bezerra, morreu vítima da
Covid-19 na madrugada deste sábado, 3 de abril. Aos 94 anos, ele foi
internado há cerca de 10 dias no Hospital Monte Klinikum com o
diagnóstico de pneumonia. Governador do estado entre 1975 e 1978, o
empresário e ex-parlamentar teve carreira no Legislativo e Executivo,
chegando a integrar a tríade dos coronéis-governadores, com Virgílio
Távora e César Cals.
Nascimento e família
José Adauto Bezerra nasceu em Juazeiro do Norte, no
interior do Ceará, no dia 3 de julho de 1926. Filho de José Bezerra de
Meneses e de Maria Amélia Bezerra de Meneses, sua família é radicada no
sul do Ceará desde o século XVIII, onde tornou-se a mais rica de
Juazeiro e uma das mais poderosas do estado, tendo interesses em vários
setores da economia. Fizeram também carreira política seu irmão gêmeo,
Humberto Bezerra, deputado federal pelo Ceará de 1967 a 1971 e em 1975, e
o irmão mais novo, Orlando, deputado federal de 1983 a 1995.
Adauto ingressou na Escola Militar do Realengo, no Rio
de Janeiro, então Distrito Federal, em fevereiro de 1943, sendo
declarado aspirante a oficial da arma de artilharia em dezembro de 1949.
Foi promovido a segundo-tenente no ano seguinte, a primeiro-tenente em
junho de 1952 e a capitão em dezembro de 1954. Durante sua carreira
militar, fez ainda o curso da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais
(Esao).
Iniciou-se na política em outubro de 1958, quando foi
eleito deputado à Assembleia Legislativa do Ceará (ALCE) na legenda da
União Democrática Nacional (UDN). Tendo assumido o mandato em fevereiro
de 1959, em outubro de 1962 foi reeleito, na legenda da Aliança União
pelo Ceará, coligação que congregou a UDN e o Partido Social Democrático
(PSD).
Em novembro de 1964, meses após a vitória do movimento
político-militar de 31 de março, que depôs o presidente João Goulart,
foi promovido a major. Com a extinção dos partidos políticos pelo Ato
Institucional nº 2 (27/10/1965) e a posterior instauração do
bipartidarismo, filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido
de apoio ao governo.
Na legenda, voltou a se eleger deputado estadual em
novembro de 1966. Ao longo dessas três legislaturas, foi presidente da
Assembleia Legislativa por duas vezes, da Comissão de Orçamento e
Finanças e de diversas outras comissões da casa. Em 1968 passou para a
reserva com a patente de coronel e em 1970 reelegeu-se para mais um
mandato de deputado estadual, concluído em janeiro de 1975.
1975/1978 - Governador do Ceará e o apoio de Ernesto Geisel
Em maio de 1974 foi indicado pelo presidente da
República, general Ernesto Geisel, como seu candidato ao governo do
Ceará. Contando com o apoio de uma ala da Arena liderada pelo veterano
político cearense Virgílio Távora, sua candidatura prevaleceu sobre a do
coronel Luciano Salgado, que era apoiado pelo então governador César
Cals – o qual, por sua vez, tinha como vice-governador Humberto Bezerra,
seu irmão.
Eleito pela Assembleia cearense em outubro de 1974,
foi empossado no governo do estado em março do ano seguinte. Como
governador, liderou a campanha da Arena cearense para as eleições
municipais de novembro de 1976, tendo prometido ao presidente Geisel a
vitória do partido governista em 90% dos 141 municípios do estado. Após a
apuração, apresentou a Geisel um quadro geral dos resultados, mostrando
que a Arena havia obtido 55% dos votos em Fortaleza e 84% no interior.
Renúncia e carreira no Legislativo
Visando a concorrer ao Senado em 1978, renunciou ao
governo do Ceará em fevereiro desse ano, passando o cargo ao
vice-governador Valdemar Alcântara. Em seu discurso de despedida, citou
como realizações mais importantes de sua administração a instalação do
sistema básico de saneamento da capital e a valorização do serviço
público através de aumentos salariais e de novos planos de promoção
funcional.
Seu projeto de concorrer ao Senado sofreu, contudo, a
oposição dos setores arenistas liderados por Virgílio Távora, que já
havia sido indicado pelo poder central para governar o Ceará entre 1979 e
1983. Esses setores teriam ameaçado boicotar sua candidatura e apoiar
Chagas Rodrigues, candidato do Movimento Democrático Brasileiro (MDB),
partido de oposição. Desgastado ainda pelo fato de Távora não ter aceito
o nome de Ossian Araripe, que havia indicado para vice-governador,
desistiu da candidatura ao Senado e concorreu a uma cadeira na Câmara
dos Deputados. Obtendo quase 118 mil votos, foi o deputado federal mais
votado da história do Ceará em 1978.
Iniciou o mandato na Câmara em fevereiro de 1979, pouco
antes de o general João Batista Figueiredo ser empossado na presidência
da República (15/3/1979). Durante a legislatura, pronunciou-se
favoravelmente à anistia para os cidadãos brasileiros exilados e
banidos, afinal concedida em agosto de 1979. Nos debates que antecederam
a extinção do bipartidarismo (29/11/1979) e a reformulação partidária,
alinhou-se aos parlamentares arenistas que defendiam a organização de
dois partidos de apoio ao governo em substituição à Arena. No entanto, a
questão foi decidida conforme a diretriz do governo federal, segundo a
qual deveria ser constituído um único partido situacionista. Estruturada
essa agremiação — o Partido Democrático Social (PDS) —, filiou-se a
ela.
Defensor de eleições diretas para os governos estaduais
e para a presidência da República, em novembro de 1982 foi eleito
vice-governador do Ceará na chapa encabeçada por Luís Gonzaga Mota. Em
janeiro de 1983 concluiu o mandato de deputado federal e em março
seguinte tomou posse no executivo estadual. Logo em seguida, acusou
Virgílio Távora, que acabara de deixar o governo, de ter levado o estado
à falência por não ter respeitado o equilíbrio orçamentário, gastando
acima da arrecadação. Em abril, quando Gonzaga Mota foi a Brasília, na
tentativa de obter recursos junto ao governo federal para solucionar a
crise do estado, assumiu o governo do estado.
Com a saída de Gonzaga Mota do PDS em abril de 1985,
depois de divergências em torno da escolha do candidato do partido às
eleições municipais de novembro para a prefeitura de Fortaleza, deixou
também o cargo de vice-governador. No pleito de novembro de 1986
candidatou-se ao governo do estado na legenda do Partido da Frente
Liberal (PFL), em coligação com o PDS e o Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB).
1986 - “Aliança dos três coronéis” e a derrota para Tasso
Sua candidatura foi apoiada por Virgílio Távora e por
César Cals. A coalizão, conhecida como a “aliança dos três coronéis”,
aludia ao fato de os três políticos terem feito também carreira militar e
recebido diversos benefícios do poder central, impondo uma forma de
manutenção de poder fundada no conceito de “coronelismo”. A “aliança dos
três coronéis” dissolveu-se, contudo, em decorrência de divergências
políticas existentes entre eles desde o início da década de 1960,
sofrendo Adauto, inclusive, acusações de não apoiar os candidatos dos
outros partidos que compunham a coligação.
A dissidência não só levou à sua derrota para Tasso
Jereissati, como inviabilizou a candidatura da coligação ao governo do
estado. Apoiado por Gonzaga Mota e por Mauro Benevides, então presidente
do PMDB no Ceará, em abril de 1986 o nome de Tasso foi confirmado como
candidato do partido ao governo do estado nas eleições a serem
realizadas em novembro. Assumindo o compromisso de “mudar, renovar e
acabar com a miséria” no Ceará, atraiu as esquerdas para sua
candidatura, aliando-se ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e ao
Partido Comunista Brasileiro (PCB) e obtendo ainda a adesão do Partido
Democrata Cristão (PDC) para enfrentar Adauto Bezerra.
1990/1991 - Presidente da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e acusações
Em maio de 1990, foi designado pelo presidente Fernando
Collor de Melo para a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
(Sudene). A indicação provocou descontentamento nos meios empresariais e
políticos de Pernambuco, pois estes, chefiados pelo senador Marco
Maciel, desejavam ter um nome daquele estado à frente da Sudene.
Descontentou também políticos ligados ao presidente Collor, que o
acusaram de ser “cliente do Fundo de Investimento do Nordeste (Finor)”,
com o qual havia contratado um empréstimo de 21 milhões de dólares. Além
disso, foi acusado de ter montado sua fortuna com recursos provenientes
de incentivos fiscais e de empréstimos conseguidos junto a instituições
de desenvolvimento regional do governo federal.
No início de 2007, quando o PFL decidiu renovar-se,
transformando-se em Democratas (DEM), permaneceu na agremiação.
Deixou-a, porém, em outubro do mesmo ano, filiando-se ao Partido
Progressista (PP).
Proprietário, ao lado do irmão Humberto, do Banco
Industrial do Ceará (Bicbanco) desde o início da década de 1980,
tornou-se também proprietário de numerosas indústrias e de uma estação
de rádio em Juazeiro do Norte.
Rádio O POVO/CBN - Especial Adauto Bezerra
As
rádios O POVO CBN e CBN Cariri realizam um programa especial neste
sábado, 3, sobre o ex-governador do Ceará, Adauto Bezerra, que morreu
nesta madrugada em Fortaleza. A partir das 14h30min, os jornalistas
Jocélio Leal e Farias Jr entram no ar ao vivo.
o povo