A Polícia Federal (PF) decidiu concluir o inquérito sobre o vazamento de
uma investigação sigilosa da corporação, a respeito de uma tentativa de
ataque hacker aos sistemas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mesmo
sem colher o depoimento do presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele era o
principal investigado no caso e faltou ao interrogatório na última
sexta-feira, 28.
A delegada federal Denisse Dias Rosas,
responsável pelo inquérito, enviou nesta quarta-feira, 2, o relatório
final com as conclusões da PF ao Supremo Tribunal Federal (STF). No
documento, ela minimiza a ausência de Bolsonaro no depoimento e diz que o
fato "não trouxe prejuízo ao esclarecimento dos fatos".
A delegada reafirma ter visto crime na conduta do presidente,
do deputado bolsonarista Filipe Barros (PSL-PR) e do ajudante de ordens
presidencial Mauro Cid, mas não pede o indiciamento em razão do foro. A
investigação sigilosa da PF foi tornada pública por Bolsonaro nas redes
sociais em agosto do ano passado. O objetivo, conclui Denisse, foi
alimentar o debate sobre a chamada "PEC do Voto Impresso", que acabou
rejeitada na Câmara.
"Todas as pessoas ouvidas que promoveram a divulgação
confirmam suas condutas e a consciência de que o fornecimento de cópia
do inquérito policial em andamento ao deputado federal Filipe Barros foi
feito originalmente com o fim específico de subsidiar as discussões
relativas à PEC no 135/2019", diz um trecho do relatório.
"Milícias digitais"
O documento ainda relaciona a atuação do presidente, do
assessor e do deputado ao inquérito das milícias digitais. "O modo de
agir é correlato", escreve a delegada. A íntegra da investigação
sigilosa sobre a tentativa de invasão aos sistemas do TSE foi obtida por
Filipe Barros, a partir de um pedido formal na qualidade de relator do
"PEC do Voto Impresso", junto ao delegado federal Victor Neves Feitosa
Campos. Em depoimento, o parlamentar admitiu que compartilhou o material
com o presidente e com o assessor dele. Também reconheceu que, no dia
da live presidencial, soube que Bolsonaro poderia "abordar os fatos
contidos no inquérito policial".
Para a delegada, houve desvio de finalidade no pedido
do deputado, sobretudo porque ele sabia que a investigação corria sob
sigilo, e no uso do conteúdo para validar o que ela chama de "ilações" e
de uma "narrativa que os participantes já sabiam ser inconsistente".
"Se a finalidade indicada fosse para subsidiar uma live presidencial, a
entrega da cópia do inquérito policial teria sido indeferida", afirma.
O relatório da PF também afirma que o ajudante de
ordens presidencial participou de "outros eventos também destinados à
difusão de notícias promotoras de desinformação da população", incluindo
a live em que Bolsonaro associou a vacina contra a covid-19 com o vírus
da aids.
A PF também esclarece que, em relação ao delegado
federal Victor Neves Feitosa Campos, não houve "participação dolosa" e
que não há elementos para atestar que ele forneceu a cópia do inquérito
por "aderência de desígnios" com Bolsonaro e Barros.
"O repasse de cópia, portanto, é aqui compreendido como
uma decisão tomada no decorrer do exercício da presidência do
inquérito, que compartilhou com outro órgão (Poder Legislativo), com
finalidade específica (auxiliar o relator no debate da PEC no 135/2019
em comissão oficial do Congresso Nacional), documento legalmente
sigiloso, situação que ninguém pode alegar desconhecimento", pontua o
relatório.
O POVO