Relatórios obtidos por VEJA detalham 24 situações de risco na região de Brasília apenas em 2010. Uma delas envolveu avião da Presidência
A manobra feita por uma aeronave da TAM na região de Brasília não foi um incidente isolado. VEJA teve acesso aos relatórios das 24 ocorrências semelhantes registradas em 2010 (a maioria, em dezembro) somente na região da capital federal. A conclusão é assustadora. Há documentos que mostram aeronaves desobedecendo os controlares, interferência de rádios piratas e a exaustão dos responsáveis por monitorar os voos e falhas de comunicação.
Uma das aproximações perigosas ocorreu em 11 de dezembro entre um jato da TAM e uma pequena aeronave. Em sua defesa, o controlador justifica, candidamente: “Estava efetuando coordenações com o controle Brasília e Uberaba e não observei o conflito”. Ele lista também um fator importante que contribuiu para o lapso: “Dormi muito pouco a noite anterior, em decorrência de problemas com insônia devido à alta carga de trabalho. O meu sono está totalmente desregulado. Raramente consigo dormir quatro horas seguidas”.
Em uma quase-colisão registrada em três dias antes, o supervisor conta que duas aeronaves, uma da TAM e uma da Azul, iniciaram um processo de descida simultaneamente num espaço exíguo. O comandante da primeira aeronave não respondia. A separação mínima chegou a 300 metros – o que, para uma aeronave que chega a 800 quilômetros por hora, significa pouco mais do que um segundo.
O excesso de tráfego também é citado como a causa de algumas ocorrências. Em alguns casos, não há sequer uma justificativa: o relatório apenas conta como o controlador constatou a falha e a corrigiu.
Em 15 de dezembro, outro incidente envolveu um voo da TAM e um jato da Força Aérea geralmente usado pela Presidência da República. Dessa vez, o funcionário alega que a aeronave comercial desobedeceu seus comandos. "O controlador de voo não autorizou em nenhum momento o início da descida".
A interferência de uma rádio pirata também causou uma aproximação perigosa entre um voo da American Airlines e um da TAM, em 30 de novembro. A baixa qualidade da comunicação entre a torre e a aeronave da companhia brasileira gerou um mal-entendido e, consequentemente, a quase-colisão.
As situações, é bom ressaltar, ocorreram no espaço aéreo da capital do país, onde fica a própria sede da Força Aérea Brasileira.