Antes de ir à escola, Vitória Marinho dos Anjos, 9, tem de arrumar os
livros, colocar o uniforme e preparar uma garrafa de água para conter a
sede durante a tarde letiva. Na Escola Municipal Manoel Gomes de
Moraes, no pequeno distrito de Mucunã, em Maracanaú, onde cursa o 4º
ano, a água, quando tem, não sobe à caixa desde setembro último. A
estrada carroçável até a localidade, por onde passam constantemente
caminhões vindos de uma pedreira, revela um pouco da situação da região,
com sua vegetação espinhenta e seca, sem um verde sequer.
“O
jeito é beber pouca água, pra ela durar a tarde toda”, releva a menina.
Quando a falta chega ao extremo, Vitória e os poucos mais de 50
estudantes são liberados mais cedo. E as aulas, compensadas aos sábados.
A condição da escola foi agravada pela seca de 2012, a pior dos últimos
29 anos. Por conta da carência de chuva, o Governo do Ceará decretou
situação de emergência em 174 municípios. Desses, nove são da Região
Metropolitana de Fortaleza (RMF). O POVO visitou algumas escolas para saber de que forma a seca interfere nas salas de aula.
São
cerca de 50 colégios nas cidades da RMF que têm problemas com
abastecimento. Vinte e cinco deles somente em Caucaia, segundo o
coordenador da Agricultura do Município, Henrique Matias. Na cidade, a
situação é mais complicada nos distritos de Várzea do Meio, Brasília,
Bom Princípio e Feijão. Em Cascavel, o total de escolas prejudicadas
chega a 18.
O POVO mostrou nas edições dos dias 5 e 6 de setembro
deste ano a condição de 2.556 famílias com falta de abastecimento de
água, a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Segundo o instituto, existem casas com ausência de
encanamento em 52 distritos, além das sedes, em todas as cidades da RMF.
Aperreada
com a situação da escola, a dona de casa Edna Marinho Araújo, 26, mãe
de Vitória, fala que o colégio tem bons professores, mas diz que água é
problema de sempre. Há algum tempo, ela não recorda quando, a escola
interrompeu as aulas por não ter água. “Minha menina gosta é muito de
lá, mas não tem condições de a escola funcionar sem água.” A falta, além
de prejudicar a alimentação das crianças, também interfere na limpeza dos banheiros e no banho dos professores que ensinam nos dois turnos no distrito
Sem intervalo
Em Maranguape, a condição não é diferente. A Escola
Municipal João Arino Nogueira, no distrito de Tabatinga, é bem cuidada,
preservada e limpa, mas estava há três semanas sem água. Os 838 alunos
eram liberados mais cedo justamente por não ter água para beber. E não
há reposição das aulas porque o tempo que é retirado dos estudantes é o
do recreio. O lanche foi resumido a um suco, tomado com rapidez entre as
aulas. “A água da torneira só chegou de manhã e já acabou”, conta o
diretor Raimundo Soares Júnior.
Por causa da
demanda da escola, o carro-pipa enviado pela Secretaria Municipal de
Educação de Maranguape dura apenas dois dias. Mas, segundo o diretor do
colégio, assim que termina, a água é enviada novamente. Mas quem não
gosta mesmo de ficar sem recreio são os alunos. “É um tempo até de você
parar o que estava estudando, pra começar de novo outro assunto”, aponta
Daiane Oliveira, 15, estudante do 9º ano.
Por quê
ENTENDA A NOTÍCIA
O problema da falta de água
afeta o funcionamento das aulas porque os colégios deixam de realizar
um atendimento básico, como o fornecimento de água potável, de merenda
escolar e de limpeza dos banheiros.
Serviço
Reclamações sobre falta d’água, no Ministério Público Estadual
Telefone: 0800 2758001.
Ouvidoria da Cagece: 3101 1918
Saiba mais
Cidades que têm escolas com falta d’água:
Caucaia – 25 escolas
Maracanaú - uma escola
Guaiúba - uma escola
São Gonçalo - A Secretaria da Educação afirma que todas as escolas tiveram problema de abastecimento resolvido
Maranguape - cinco escolas
Cascavel - 18 escolas
Pindoretama – Secretário da Educação afirma que não tem problema de água
Chorozinho e Pacajus - não atenderam as ligações.
A Secretaria da Educação do Ceará (Seduc),
por meio de sua assessoria de imprensa, informa que não tem registro de
encerramentos ou suspensões de atividades por conta da seca. Segundo a
assessoria, não chegou nenhuma informação ou solicitação sobre o
assunto.
Fonte: O Povo