Até 2012, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação de Aids (Sinan), ligado à Sesa, revelava que 70% dos casos eram em homens e 30% no sexo feminino. Entretanto, o Sistema destaca que, no Ceará, a taxa de incidência da doença entre o sexo masculino diminuiu de 14,9 - para cada grupo de 100 mil habitantes em 2011 - para 12,7 no ano passado.
Já entre as mulheres, houve uma evolução da incidência de 5,8% para 6,0%. "A feminização da aids é reflexo do comportamento da população feminina, associado a aspectos de vulnerabilidade biológica da mulher com o crescimento dos casos de aids em mulheres em idade reprodutiva", diz o informe epidemiológico feito pela Sesa.
O estudo ressalta que, de 1983 a 2012, a faixa etária de 20 a 49 anos tem as maiores taxas de incidência da doença, com 10.551 casos (86,1%), o que, para a Sesa, pode confirmar que a principal forma de transmissão é sexual. A contribuição das outras faixas etárias nestes últimos 29 anos é apresentada da seguinte forma: 1.169 (9,5%) notificações em adultos com 50 ou mais, 298 (2,4%) em menores de 13 anos e 230 (1,8%) em adolescentes de 13 a 19 anos.
De acordo com a médica infectologista do Hospital São José, em Fortaleza, e presidente da Associação Cearense de Infectologia, Melissa Medeiros, a unidade recebe diariamente pacientes de todo o Estado que chegam, na sua grande maioria, sem o diagnóstico da doença.
"Muitas vezes, ele vem em estado debilitado por ocasião das infecções oportunistas, porque, nos seus municípios de origem, não há a testagem de rotina. Há tratamento no hospital, medicação disponível e exames laboratoriais, mas é preciso um diagnóstico precoce e isso não vem ocorrendo. Assim, é preciso reforçar urgentemente as campanhas de testagem nos postos de saúde para que essa realidade mude", alerta.
Redução
No Ceará, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação de Aids enfatiza que, com relação ao casos da doença em pessoas com 13 anos e mais idade, ano passado, foram registrados 795 casos, 64 a menos que em 2011. Ainda neste contexto, percebe-se que nos dois últimos anos houve uma redução no número de casos nas três principais categorias que lideravam as notificações: em heterossexuais diminuíram de 422, em 2011, para 349, em 2012; os registrados em homossexuais decaíram de 128 para 103, e em bissexuais, os números caíram de 36, em 2011, para 27, ano passado.
Já a taxa de mortalidade por sexo subiu de 3,1 para 3,3, se comparado ano passado a 2011, sendo registrado a maior taxa no universo feminino: de 1,7, em 2001 para 2,0, em 2012. No contexto masculino, a taxa permaneceu a mesma nos dois anos: 4,6.
Um dado curioso especificado no Sistema é pertinente ao aumento no número de ocorrências na faixa etária acima de 50 anos, entre 2001 e 2012. No primeiro ano, foram registrados 44 casos. Este número saltou para 127, ano passado. Sob a ótica da Sesa, o acréscimo no registro neste tipo de público "pode estar associado à mudança de comportamento sexual nessa faixa etária. A modificação dos costumes e das práticas sexuais seguras talvez ainda não tenham sido absorvidas por essa população, por formação cultural, o que faz com que este grupo populacional tenha um risco potencial em crescimento nos últimos anos".
Por fim, o relatório de diagnóstico da doença no Ceará enfatiza que, de 2008 a 2012, os pardos lideram em torno de 80% dos casos, seguidos da raça branca, que correspondem a aproximadamente 5,7% a 10,1%, da raça negra em torno de 3,1%, e dos amarelos, que variam de 0,1% a 3,6%.
Transmissão
Em todo o País, quanto à forma de transmissão da doença, entre os maiores de 13 anos, prevalece a sexual, segundo o relatório do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde. No público feminino, 86,8% dos casos registrados no ano passado são de relações heterossexuais com pessoas infectadas pelo vírus. Entre os homens, 43,5% dos casos se deram também por relações heterossexuais, 24,5% por relações homossexuais e 7,7% por bissexuais. Os demais casos ocorreram por transmissão sanguínea e vertical (da mãe para o filho).
A pesquisa realizada com mais de 35 mil meninos revelou que, nos últimos cinco anos, a prevalência do HIV nesta população passou de 0,09% para 0,12%. Foi percebido também que, quanto menor a escolaridade, maior o percentual de infectados e que o resultado positivo está relacionado ao número de parceiros, à coinfecção (quando o organismo sofre com duas ou mais doenças ao mesmo tempo) com outras doenças sexualmente transmissíveis e às relações homossexuais.
Em relação à taxa de mortalidade, o relatório demonstra queda. Em 2002, era 6,3 por 100 mil habitantes, passando para 5,6 em 2011 - queda de aproximadamente 12%. Na comparação regional, o Sudeste apresenta comportamento similar, enquanto nas regiões Norte, Nordeste e Sul há a tendência de aumento. O coeficiente do Centro-Oeste encontra-se estável.
Evento discute perspectivas de cura
A aids é tema constante em eventos acadêmicos e profissionais, de pequeno e grande porte, como congressos e encontros. Prova disso é que Fortaleza receberá a partir deste sábado, dia 31 de agosto, até o dia 4 de setembro, o 18º Congresso Brasileiro de Infectologia, que reunirá palestrantes de seis países, além de conferencistas nacionais no Centro de Eventos do Ceará.
O evento é destinado a médicos infectologistas, profissionais e acadêmicos da área da saúde. Discutirá, além das perspectivas de cura do vírus da aids, outros assuntos voltados às doenças infectocontagiosas, como universalização do tratamento de hepatites virais, medidas de controle de infecções hospitalares e análise de impacto das vacinas. O Congresso é uma promoção da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Relatos
De acordo com o presidente do Congresso, o médico infectologista do Hospital São José e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologista, Érico Arruda, há registros de cura da aids no mundo. Cita como exemplos um paciente que realizou um transplante de medula, em Berlim, na Alemanha, uma criança americana de um ano e meio que foi tratada precocemente e não tem mais o vírus no organismo e 14 casos de pacientes franceses que se curaram com o tratamento precoce.
No Brasil, ele revela que ainda não há relatos. "A cura é possível, a questão é como teremos perspectivas de quantas pessoas podem ter este benefício da cirurgia ou do tratamento precoce", pondera.
Programação
A abertura do evento será hoje, às 20h, no Centro de Eventos do Ceará. Durante todo o dia, haverá os cursos do pré-congresso.
De 1º a 4 de setembro serão realizadas conferências, durante as quais serão abordados temas de grande importância relacionados às doenças infecciosas e parasitárias.
Também está programado espaço para os estudantes, o Fórum de Ligas Acadêmicas de Infectologia. O objetivo é promover as atividades desenvolvidas por estas organizações envolvendo estudantes de graduação em Medicina. Durante o Congresso, haverá a entrega do Prêmio Produção Intelectual Jovem Infectologista.