Nas últimas 24 horas o presidente Michel Temer (PMDB) decidiu exonerar
ministros para voltar à Câmara dos Deputados temporariamente e votar a
favor do governo e publicou medida provisória para aliviar dívidas
previdenciárias de ruralistas. Como estratégia, o peemedebista recebeu
deputados no gabinete presidencial, almoçou com a Frente Parlamentar da
Agropecuária e jantou com dezenas de parlamentares.
A força-tarefa na véspera da votação da denúncia da
Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o peemedebista por
corrupção passiva foi uma tentativa de mobilizar os deputados da base a
dar quórum na votação de hoje e enterrar um possível afastamento do
cargo.
Após reuniões nas últimas horas de ontem, a base mudou o
discurso e prometeu garantir a presença mínima para abrir a votação por
volta das 11 horas da manhã. “A orientação é todo mundo chegar e dar
presença para concluir logo isso aí”, disse o deputado Raimundo Matos
(PSDB).
O governista Aníbal Gomes (PMDB) garantiu que aliados do presidente
vão dar quórum “desde cedo”. “Eu acho que quanto mais rápido for,
melhor. Esse é o sentimento da grande maioria”, disse Danilo Forte
(PSB).
O presidente Temer, por outro lado, adotou o mesmo discurso
da semana passada: o de responsabilizar a oposição pelo início da
votação. Disse que quem precisa dar quórum é “quem quer destruir o que a
CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) decidiu”, que aprovou o
arquivamento da denúncia.
O peemedebista, no entanto, fez um
apelo inclusive aos deputados que votarão a favor da denúncia para
marcar presença no plenário. “Vote como deve votar, de acordo com a
consciência de cada um, mas precisa estar presente”, pediu.
Enquanto
a base se mostra confiante na vitória, a oposição decidiu não marcar
presença até que aliados do presidente se “exponham” desde o início da
sessão. “Nós estaremos presentes intensamente, mas não vamos dar quórum
para engavetar a denúncia”, disse ao O POVO o deputado Chico Alencar (Psol-RJ).
Mais
realista, André Figueiredo (PDT) admite a derrota, mas espera uma
vitória da oposição por maioria simples para se fortalecer para uma
possível segunda denúncia contra o presidente por obstrução de justiça.
“Não temos expectativa de termos 342 votos, nessa denúncia não. Mas
temos sim a expectativa de ganharmos nominalmente, o que seria uma
grande derrota contra essa pouca vergonha”, disse. Segundo ele, o PDT
também não vai registrar presença antes da base. “Se não derem (quórum),
nós também não daremos”, prometeu.
A mesma linha é defendida pelo
líder da oposição, deputado José Guimarães (PT). “Não vamos dar quórum
de manhã, e vamos empurrar a votação para o horário nobre. A obrigação
do governo é colocar voto”, disse.
Saiba mais
Confiante
que tem os votos mínimos para barrar a denúncia, o governo apela para
deputados dissidentes pela presença na sessão de hoje. Temer precisa
de apenas 172 votos para barrar denúncia.
A oposição promete
registrar presença se a base garantir o quórum sozinha. Caso as 342
presenças sejam registradas, a oposição promete criticar o rito da
votação para que o debate se estenda até o horário nobre para desgastar
ainda mais o governo e constranger parlamentares que votam a favor de
Temer.
A estratégia já circula nas redes sociais. “A votação
pode ser na hora da novela. Todo mundo vendo em horário nobre os que
querem salvar Temer”, publicou no Facebook a deputada federal Jandira
Feghali (PCdoB).
Quem usou as redes para atacar o PMDB foi o
senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Crítico de Temer, ele afirmou que
fechar questão contra a denúncia “é tatuar deputados com o ferro de um
governo que aprofunda as dificuldades do País”.
WAGNER MENDES