Guayaquil, cidade mais rica do país, vive situação “apocalíptica” com corpos dentro de casa ou enterrados em terrenos baldios, elevando risco de contágio. População do país também enfrenta a falta de alimentos.
São Paulo – O sistema de saúde entrou em colapso, no Equador, em função do elevado número de doentes infectados pelo coronavírus. Os números oficiais falam em 7.500 casos confirmados e 333 mortos pela covid-19. Mas estimativas apontam que o número de casos pode ser pelo menos o dobro, devido à subnotificação por falta de testes.
Ainda mais dramático, o país enfrenta também o colapso no sistema funerário. Corpos das pessoas que morreram em casa, sem conseguir ter acesso aos hospitais do país, levam dias para serem recolhidos.
Desesperados para conter a disseminação, os equatorianos estão enterrando seus mortos em terrenos baldios. Sem o manejo devido, e enterrados em caixões de papelão, o risco de contágio permanece por conta do líquido expelido pelos corpos contaminados.
Uma força tarefa criada pelo governo há 3 semanas já recolheu mais de 700 corpos em casas e nas ruas da cidade de Guayaquil, principal centro econômico e epicentro da pandemia no país.
“Não se consegue fazer os testes antes, (os doentes) morrem sem fazer os testes, e não há espaço para fazer as autópsias e os reconhecimentos dos corpos. Então, simplesmente colocam nos atestados de óbito que essas pessoas morreram por alguma doença respiratória”, disse a prefeita de Guayaquil, Cynthia Viteri, em uma entrevista à TV CNN.
O analista e consultor internacional Amauri Chamorro classifica a atuação do governo do presidente Lenín Moreno como “genocida”, já que demorou a adotar medidas restritivas de circulação para conter a propagação da doença. O primeiro caso de covid-19 no país foi registrado em 29 de fevereiro. O toque de recolher foi imposto apenas em 21 de março, e vigora somente entre as 14h e as 5h da manhã.
“Temos um cenário apocalíptico em Guayaquil, onde a curva só cresce. Sem tratamento, o vírus deve contaminar a todos. Depois, com toda a população contaminada, a tendência é reduzir o número de contágios e também de mortes. Mas ainda falta muito. Os números seguem crescendo. A situação é caótica”, disse Chamorro em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta terça-feira (14).
Ele relata que o sistema privado de saúde de Guayaquil colapsou ainda antes do sistema público, em função de uma festa de casamento promovida por famílias ricas da cidade que contou com cerca de 400 convidados, inclusive com a participação de integrantes do governo federal. Um convidado chegou da Itália e foi direto para a celebração, desrespeitando a quarentena para retornados de áreas infectadas. “Matou grande parte dos idosos da elite da cidade e os hospitais mais caros colapsaram antes.”
Milhões aos bancos
O analista também criticou o pagamento de US$ 324 milhões em bônus da dívida externa do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI), à revelia da própria entidade, que suspendeu a cobrança de dívidas em função da pandemia. A maior parte desses recursos ficou nas mãos dos banqueiros equatorianos, que detêm a maioria dos títulos da dívida.
Enquanto isso, o governo federal não gastou “nem um centavo em equipamentos médicos ou contratação de profissionais de saúde”. Com a economia dolarizada, sem divisas, o país também não consegue importar insumos hospitalares. O único carregamento foi trazido pela Força Aérea , mas destinado aos hospitais militares, e não à população em geral.
Chamorro também destacou que o governo não construiu nenhum hospital de campanha, nem articulou programas assistenciais às famílias. Com os impactos da pandemia somados à crise econômica vivida pelo país, começa a faltar alimentos, inclusive com relatos de saques à supermercados em função do desespero das pessoas pela própria sobrevivência.
Com informações da Agência Brasil.