A prisão de Francisco Cilas de Araújo Moura, o 'Mago', principal chefe do tráfico de drogas no município de Caucaia e um dos homens mais procurados do Ceará, pode ter mexido com a dinâmica do crime no município de Caucaia. Cilas foi preso no dia 7 de julho, em Teresina, capital do Piauí, em um apartamento alugado no qual morava com a família. Contudo, não foi o suficiente para que, um mês após a sua desarticulação, os índices de criminalidade na maior cidade da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) viessem a reduzir.
Entre 7 de julho e 6 de agosto deste ano, foram contabilizados pela própria Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) 28 homicídios, latrocínios, feminicídios ou lesões corporais seguidas de morte em Caucaia. A média, de quase um crime violento por dia, ocorre desde o início do ano. As exceções são os meses de fevereiro e março, cujos índices foram inflados em razão do motim de parte da Polícia Militar no Ceará, segundo especialistas e a própria Secretaria.
Em uma coletiva de imprensa após a detenção de Cilas, o delegado-geral da Polícia Civil do Ceará, Marcus Rattacaso, afirmou: "Temos certeza que, com essa prisão, teremos um processo de calmaria nos índices criminais naquela área". Pouco mais de 30 dias após a prisão do número 1 do tráfico de drogas da Caucaia, ainda é difícil dizer quando os índices devem acalmar.
Disputas
De acordo com o diretor do Departamento de Inteligência Policial (DIP) da Polícia Civil, Nelson Pimentel, esse é um processo lento.
"No primeiro momento, pode surgir um efeito de disputa pela liderança. Podem surgir alguns homicídios até mesmo entre os próprios integrantes do grupo criminoso; um querendo tomar o lugar do outro para assumir a liderança. Isso gera impacto no número de homicídios", pontua, ao explicar que, até o momento, não foi identificado nenhum novo líder na facção.
Por outro lado, o chefe da Inteligência avalia que um grupo criminoso rival também pode aproveitar o momento de enfraquecimento do inimigo para tentar dominar um território. "Isso a gente observou em alguns homicídios principalmente depois da morte do 'Darlan'. Foi justamente a facção contrária querendo ganhar territórios em cima desse grupo criminoso que a gente conseguiu prender e desarticular a liderança", explica.
No fim do mês de julho, Alban Darlan Batista Guerra, o 'Darlan' - segundo homem mais procurado do Ceará e principal subordinado de Cilas na árvore da facção - foi morto durante uma operação policial no Rio de Janeiro.
Ele teria trocado tiros com agentes cariocas, mas veio à óbito. De acordo com a SSPDS, ele saiu do Ceará em direção ao Estado do sudeste três semanas após a prisão do seu chefe.
Para o sociólogo Luiz Fábio Paiva, do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará, "a prisão em si não resolve o problema" da redução dos índices criminais na região, especialmente porque as situações de homicídio ocorridas em grupos armados como esse da Caucaia envolvem crimes de pistolagem.
Conforme o pesquisador, há um envolvimento generalizado de várias pessoas dentro dessas organizações que praticam o assassinato, mas também há os pistoleiros, que são os responsáveis pelas execuções do grupo.
Dificuldades
Três dias após a prisão de Cilas, houve outro golpe na facção: Walisson César Marinho Borges, o 'Guabiru', um dos principais matadores da organização, foi preso. Ele afirmou em depoimento que todos os homicídios por ele praticados foram ordenados por Cilas, a quem ele se referia como "Paizão". Este seria, na visão de Luiz Fábio, um ponto fora da curva, pois "em função de uma série de deficiências na investigação e nos processos criminais, muitos desses que protagonizam homicídios não são alcançados. É muito mais simples para o sistema de segurança e justiça alcançar alguém que está no gerenciamento ou no varejo da droga", avalia.
Outro ponto também levantado pelo sociólogo é o frequente recrutamento de novos integrantes ocorrido nas periferias cearenses, pois, para entrar no grupo criminoso, é preciso "praticar missões", conforme Luiz Fábio Paiva. "Essas missões são homicídios. Como há uma demanda considerável esperando a possibilidade de entrar no grupo, isso também tem um impacto porque são novos sujeitos praticando homicídios e que, de certa forma, não são alcançados durante um tempo", argumenta.
Na visão do diretor do DIP, Nelson Pimentel, a prisão da principal liderança da Caucaia tem efeitos mais fortes, tornando o grupo criminoso "acéfalo" e gerando "desorganização nas ações criminosas". "Isso é positivo para a segurança pública porque a gente consegue ganhar tempo, prender e localizar outros integrantes de importância do grupo criminoso", afirma. Isso seria possível porque, com a baixa no "cérebro da organização", os demais integrantes acabam cometendo erros que facilitam suas identificações e consequentes prisões.
Renovação
Para Luiz Fábio Paiva, porém, as facções têm uma rápida capacidade de se renovar. "É muito complicado a gente falar no desaparecimento de um grupo. Na verdade, o que acontece em muitos casos são outros arranjos que vão substituir aquele que, naquele momento, foi desbaratado por uma ação mais efetiva do Estado ou mesmo de outros grupos no enfrentamento a esse", explica o pesquisador.
Pimentel, por sua vez, confirma que o agrupamento que era comandado por Cilas continua sendo o mais forte da cidade de Caucaia, mas que a Secretaria da Segurança está atuando por meio das polícias Militar e Civil para desmantelar toda a organização.
Para isso, o Estado tem monitorado a assunção de novas lideranças.
"Em paralelo a isso, a Secretaria tem investido muito na polícia comunitária, com instalação de uma base do programa Proteger na Caucaia, no bairro Itambé". O delegado ainda cita a criação do Núcleo de Homicídios e Proteção à Pessoa (NHPP) do município e as ações de dissuasão focada, com identificação de líderes e importunação dessas dinâmicas criminais.
Mais de 30 dias depois de uma operação que prendeu um dos homens mais procurados do Estado, a área de tráfico de drogas a qual ele gerenciava não apresentou melhorias no principal índice de segurança: os Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs)
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