A pandemia da Covid-19 acelerou um processo que naturalmente se tornava mais comum a cada eleição: as campanhas virtuais. A primeira pesquisa Ibope/TV Verdes Mares na corrida à Prefeitura de Fortaleza mostrou que uma parcela significativa dos eleitores declarou se informar sobre eleições por meio das redes sociais e da internet. De olho nesse hábito do eleitor, os candidatos em Fortaleza partiram para um mergulho na produção de conteúdos para as redes.
Levantamento realizado pelo Sistema Verdes Mares, a partir de dados do Facebook, indica três candidatos à Prefeitura de Fortaleza como os que mais investiram no Brasil em impulsionamento de conteúdo no Facebook e no Instagram. Encabeçam a lista nacional Sarto Nogueira (PDT), Capitão Wagner (Pros) e Célio Studart (PV).
É nesse ambiente que parte significativa dos eleitores está em busca de informações sobre política. Conforme a pesquisa Ibope, 30% dos eleitores de Fortaleza declaram se informar sobre o assunto por meio de redes sociais. Essas mídias só perdem para os sites e portais de notícias, que são fonte para 35% dos eleitores, e da televisão, usada para se informar por 51% dos entrevistadas. Cada eleitor apontou duas fontes de informação.
A pesquisa foi encomendada pela TV Verdes Mares e registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número CE-05307/2020. O Ibope ouviu 602 eleitores entre 12 e 14 de outubro. O nível de confiança da pesquisa é de 95%.
Investimento virtual
De olho nesse eleitorado, entre 22 de setembro e 21 de outubro, o Facebook informou que o perfil do candidato Sarto aplicou R$ 393 mil em propaganda na plataforma. Wagner gastou R$ 216 mil em impulsionamento. Já Célio aparece com R$ 122 mil.
Eles são os três primeiros colocados em valores gastos com a modalidade de campanha no País. Para efeito de comparação, em São Paulo, o líder nos gastos virtuais é o candidato Arthur do Val (Patri) que concorre à Prefeitura. Ele gastou nesse período o valor de R$ 48,1 mil.
Para professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará, Monalisa Torres, era esperado o investimento massivo em campanha virtual na Capital. "Tanto pela pandemia quando, no caso do Sarto, pelo desconhecimento da população, somado ao peso da coligação que ele participa. Ele tem o maior tempo de TV, então faz parte da estratégia de campanha se apresentar ao eleitor", avalia.
Desequilíbrio
Outros postulantes à Prefeitura também aplicaram recursos nas mídias sociais. Luizianne Lins (PT), com gasto de R$ 46,5 mil, Heitor Freire (PSL), com R$ 34 mil, ficariam entre os líderes, se comparado a candidatos de outras capitais. No entanto, pelo alto volume investido em Fortaleza, os deputados federais acabam ocupando apenas o quarto e o quinto lugar no ranking local, respectivamente.
Para a cientista política e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Monalisa Soares, a internet trouxe a expectativa de democratização da informação. "Mas isso foi sendo colocado em xeque. Esse debate sobre financiamento de campanha é muito denso, inclusive nas redes. É muito difícil garantir que todos os candidatos tenham as mesmas condições", disse.
É o caso, por exemplo, de Renato Roseno (Psol) e Anízio Melo (PCdoB), que investiram apenas R$ 1,28 mil e R$ 1,05 mil, respectivamente, neste tipo de propaganda. Os demais candidatos à disputa não constam no relatório on-line do Facebook - o que indica que ainda não gastaram recursos na modalidade.
A lógica da campanha
A coordenação de campanha de Célio Studart informou que "o candidato acredita que, em meio à pandemia, é impensável a realização de agendas de rua e formatos tradicionais de campanha que possam ocasionar aglomerações e impactos negativos na saúde da população, restando o campo virtual como o mais responsável para a atuação política".
A assessoria de imprensa da candidata Luizianne Lins afirmou que os algoritmos reduziram o alcance orgânico das publicações. "Somos obrigado a gastar bastante dinheiro para alcançar o eleitor. É um grande panfleto eletrônico, como se jogássemos no ar todos os panfletos que antes eram de papel. O problema é que quem controla o vento não somos nós, é uma empresa internacional. Então, quem tem mais dinheiro faz com que as informações cheguem mais vezes e em mais pessoas", criticou.
Renato Roseno (Psol) disse que "a internet há muito tempo deixou de ser um território livre e está sobretudo dominada, a partir das redes sociais, pelas grandes corporações dessa economia de plataforma". Ele também criticou a falta de regulação dos espaços virtuais.
Já Heitor Férrer (SD) declarou que a "campanha tem recursos mais limitados em comparação a esses candidatos", e que mesmo assim deve fazer o investimento. "Demos início aos impulsionamentos esta semana e iremos continuar a fazer", disse.
Paula Colares (UP) criticou o volume gasto. "Achamos um absurdo, numa situação de pandemia, onde milhões estão sem emprego e passam fome, candidatos ostentarem esses gastos", disse.
Procurada, a assessoria do candidato Heitor Freire (PSL) afirmou que a campanha não comenta o assunto. Os demais postulantes foram procurados, mas não responderam.
dn