A proposta do Banco do Brasil (BB) de fechar 112
agências e desligar 5 mil funcionários abriu uma crise no governo e deve
levar à demissão do presidente do banco, André Brandão, menos de quatro
meses após sua posse. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que
o presidente Jair Bolsonaro decidiu demiti-lo pelo desgaste provocado
com o anúncio, mas o ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda tenta
demovê-lo da ideia.
Embora a reestruturação do banco tenha
agradado investidores e tenha sido considerada positiva pela equipe
econômica para um reposicionamento do banco com enfoque no digital, o
anúncio foi considerado inoportuno neste momento em que o Palácio do
Planalto negocia apoio para os comandos da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal. A eleição está marcada para o início de fevereiro.
Em campanha pelo deputado Arthur Lira (PP-AL),
Bolsonaro recebeu em um só dia oito deputados e ouviu reclamações sobre o
fechamento de agências do BB em cidades menores. O presidente
argumentou que não foi avisado antes do plano de reestruturação, embora
Brandão tenha sido contratado exatamente com a missão de enxugar o
banco.
No ano passado, em um evento, o presidente já tinha
sido cobrado por um manifestante para reabrir uma agência. Em 2019,
Bolsonaro chegou a admitir que pediu ao Banco do Brasil que abrisse uma
agência num município do Maranhão que o elegeu. Agora, o anúncio do
fechamento de mais de uma centena delas, em meio à pandemia do novo
coronavírus, foi considerado um desgaste político inoportuno.
Com os rumores sobre a possível demissão de Brandão, as
ações do Banco do Brasil na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3,
fecharam na quarta-feira com queda de 4,71%.
Desgaste
A saída de Brandão seria mais um desgaste para Guedes,
já que o enxugamento do banco é uma orientação da equipe econômica.
Próximo do presidente da Caixa Econômica, Pedro Guimarães, o presidente
Bolsonaro sempre tem feito comparações na atuação entre os dois bancos.
Guedes já perdeu vários integrantes da sua equipe em
choque com as determinações do presidente. Foi assim com os secretários
Salim Mattar, por causa do fracasso da agenda de privatizações; Paulo
Uebel, pelo atraso no envio da reforma administrativa; e Marcos Cintra,
pela resistência à recriação da CPMF.
Antes do BB, Brandão atuava como chefe global da
instituição para as Américas do HSBC. Foi escolhido por Guedes para
fazer a transformação no banco e não estaria disposto também a
retroceder nesses planos.
Desde o início do governo, Bolsonaro tem se mostrado
sensível às críticas de parlamentares e prefeitos sobre fechamento de
agências do BB e da Caixa.
A pressão aumentou com o anúncio do BB, que foi visto
também pelos políticos como a abertura de caminho para privatização do
banco. A Frente Parlamentar em Defesa dos Bancos Públicos está
programando convocar o presidente do BB para ir ao Congresso explicar o
plano de reestruturação.
Brandão entrou no lugar de Rubem Novaes, que pediu
demissão em meio a um processo de desgaste que incluía insatisfação da
equipe econômica com a velocidade das vendas de ativos do BB e com o
desempenho da instituição no crédito, segundo fontes.
Além disso, à época causou mal-estar a reação de Novaes
ao questionar decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) que impedia o
banco de fazer propaganda em sites acusados de espalhar fake news,
prática associada à ala ideológica do governo.
Depois de pedir demissão, o executivo também causou
polêmica ao declarar que não se adaptou à cultura de "compadrio" e
"corrupção" de Brasília. Disse também que o BB precisava de sangue novo
para fazer frente a desafios tecnológicos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
O POVO