A era do lixo espacial está definitivamente iniciada. Pela terceira vez em menos de quatro meses um grande objeto lançado ao espaço pela tecnologia humana voltará em queda à atmosfera terrestre por aposentadoria ou, nesse caso, falha de concepção.
A Fobos-Grunt seria a primeira sonda espacial a aterrissar em Fobos, satélite natural (ou lua) de Marte, e pesquisaria como se formou a matéria inicial do Sistema Solar, enviando material recolhido à Terra em 2014. Devido à grande margem de erro do prognóstico da reentrada da Fobos-Grunt na atmosfera terrestre, só será possível calcular os prováveis locais de queda com 24 horas de antecedência.
O raio da órbita da sonda está entre 51,4° N e 51,4°S, ou seja, pode atingir praticamente todos os continentes ou oceanos, excetuando a Antártida, os Oceanos Glaciais Ártico e Antártico e os extremos nortes da América (Canadá, Alasca e Groenlândia), Europa (Escócia, Islândia e Escandinávia, por exemplo) e Ásia (Rússia).
Riscos são mínimos, diz Roscosmos, erros foram máximos, diz revista
Apesar das eventuais preocupações que a queda da Fobos-Grunt possa causar, a Roscomos afirma que as chances de alguém ser atingido são mínimas, já que apenas de 20 a 30 fragmentos, somando cerca de 200 quilos podem atingir o solo. Todo o restante (cerca de 13 toneladas) será desintegrado no processo de reentrada do objeto na atmosfera.
O fracasso da sonda Fobos-Grunt tem recebido pesadas críticas na Rússia, principal nação herdeira do império espacial soviético. De acordo com o diretor da revista “Cosmonautic News”, Igor Lisov, “a estação foi projetada e construída com graves defeitos, do sistema de comando ao programa de abastecimento”.
Ele aponta “o envelhecimento dos especialistas, o estado obsoleto dos equipamentos, a paralisação da produção de alguns componentes e materiais e a interrupção do trabalho em certos campos da cosmonáutica”, como os principais motivos para a perda de qualidade do programa espacial russo nas últimas duas décadas.
Programa espacial soviético: do sucesso ao fim
Antes da criação da Roscosmos em 1992, o Programa Espacial Soviético foi uma das mais bem sucedidas experiências em termos de exploração espacial no planeta.
A antiga nação comunista conseguiu entre outras façanhas: colocar o primeiro satélite em órbita em torno da Terra, o Sputnik, em 1957; o primeiro ser vivo no espaço, a cadela Laika, naquele mesmo ano; a primeira sonda não-tripulada a pousar na Lua, a Lunik, em 1959, e o primeiro astronauta, Yuri Gagarin, em 1961.
A partir de meados da década de 1960, o programa começou a entrar num lento declínio e perdeu a corrida para mandar uma nave tripulada à Lua em 1969, para a
Nasa, agência espacial dos Estados Unidos. Na década de 1990, com o fim da União Soviética, cada uma das nações resultantes da separação do bloco tocou seu próprio programa espacial, sendo a maior herdeira, a agência Roscosmos, da Rússia.
Especialistas apontam que a Rússia deve perder a vice-liderança na exploração espacial para a
China e talvez para a
Índia, já que os dois gigantes asiáticos estão apostando alto em seus respectivos programas espaciais.