Elas conciliam suas famílias e afazeres domésticos com uma profissão de risco e cheia de surpresasElas
são mães, filhas, esposas, donas de casa e conseguem conciliar tudo
isto com a paixão irreversível, que as levou à carreira militar. No mês
em que o mundo todo dedica um dia às mulheres, o contingente feminino da
Polícia Militar do Ceará dá o exemplo de que já não há espaços que não
possam ser ocupados pelo sexo, que um dia foi denominado erroneamente de
´frágil´.
Mesmo
com a formalidade que a profissão que escolheram requer, elas não
perdem a suavidade própria das mulheres. Sempre belas, as PMs desfilam
suas belezas em fardas duras, mas que não escondem a feminilidade fotos:
Kléber GonçalvesAtualmente, 429 mulheres fazem parte das
fileiras da corporação. Elas desempenham as mesmas funções que os
homens, vestem fardamento igual, são acionadas para atender os mesmos
tipos de ocorrências e participam da mesma formação. Por reconhecimento
ao desempenho, estão conquistando patentes cada vez mais elevadas. Por
ordem de hierarquia, já são oito majores, 12 capitães, 27 tenentes, 27
subtenentes, 28 sargentos, 77 cabos e 250 soldados.
As PMs
precisam obedecer a regras rígidas, começando pelo vestuário. Devem usar
cabelos presos a um coque, unhas e maquiagem básicas, apenas um par de
brincos pequenos e a menor quantidade possível de acessórios. A medida
prevê a segurança delas próprias, para que não possam ser lesionadas por
um adorno que estejam usando na hora de efetuar uma prisão.
A
profissão de risco é cada vez mais procurada pelo segmento feminino. Em
1994 ingressou a primeira turma de mulheres da PMCE. Desde lá, o número
foi se tornando maior e ficou ainda mais expressivo com a criação do
Ronda do Quarteirão, no ano de 2007, quando dezenas mulheres puderam
ingressar na tropa.
A
sargento Rosilene Queiroz, do Batalhão de Policiamento de Eventos
(BPE), se diz feliz com a profissão que abraçou e com o carinho e a
compreensão dos filhos. Em datas importantes, como o Natal, ela sai de
casa para tirar plantão nas ruas da cidadeAs policiais
femininas ainda geram admiração e estranheza nas ruas. Mas também passam
uma sensação maior de conforto. "Nós acabamos suavizando um pouco as
situações que costumam ser tensas. Quebramos um pouco a imagem de
truculência que a Polícia tem", afirmou a soldado Sarah Brasil, 28, do
Batalhão de Polícia de Choque.
As atenções e olhares da população
são sempre voltadas para a mulher, que costuma estar em uma viatura com
três outros policiais homens.
A também soldado do Ronda do
Quarteirão, Rochelle Ferreira, 30, dona de uma beleza marcante, disse
que no bairro Serviluz, onde trabalhava era constantemente solicitada
para fotografias com os moradores do local.
"Foram muitas fotos.
Lembro também do dia em que uma criança acenou para mim e eu respondi de
dentro da viatura. Ela chamou a mãe e disse muito feliz que a policial
tinha falado com ela. Naquele momento, vi como nós somos notadas de
forma diferente", contou Rochelle, que usava brincos e maquiagem azuis,
como o tom de sua farda.
A sargento Rosilene Queiroz, do Batalhão
de Policiamento de Eventos (BPE), disse que percebe que nas ruas as
pessoas se sentem mais à vontade de pedir ajuda a elas mais que aos
homens. "As pessoas percebem que somos rígidas, formais, mas sem perder o
toque feminino".
PreparaçãoA sargento
lembra que os grandes eventos que se aproximam - Copa das Confederações,
em 2013 e Copa do Mundo, em 2014 - exigem uma nova maratona de
treinamentos. "Estamos passando por frequentes aperfeiçoamentos para
lidar com multidões e com os distúrbios que elas podem gerar", afirmou.
A
filha de Rosilene, Letícia Cindy Queiroz, 17, disse que mesmo tendo
convivido a vida toda com o ofício da mãe ainda se sente apreensiva e
teme que aconteça algo a ela na rua. "É sempre assim, mas eu sinto
também muito orgulho do que a minha mãe faz". O filho mais novo de
Rosilene, Jackson Fábio e o enteado, Carlos Jhonatan dizem que querem
seguir o exemplo da sargento e serem militares.
A mãe lembrou que
os filhos precisaram também se adaptar à sua rotina. "Nas datas em que
todos estão comemorando, como Natal, nós estamos trabalhando. Hoje eles
entendem".
NÚMERO249 mulheres fazem
parte no efetivo atual da Polícia Militar do Ceará. A primeira turma
feminina ingressou no ano de 1994. Hoje, elas estão em todas as unidades
Treinamento e sentimentosA
realidade que os policiais enfrentam nas ruas é bem diferente do que
pensam os civis. "A maioria das coisas que vemos nas rua e que nos
impressiona tanto, são exatamente pelo fato de sermos PMs", disse a
policial Sarah Brasil, do BPChoque.
A sargento Rosilene Queiroz
disse que já foi surpreendida várias vezes por pessoas que perguntam
quantas vezes ela já matou. "Nunca me perguntam quantas pessoas eu já
salvei. E isso eu nem saberia responder, por que já perdi a conta".
A
rotina de uma policial de rua exige muita coragem e também técnica, daí
a importância da formação. "Nós nunca sabemos o que nos espera quando
recebemos um chamado", completou a soldado Rochelle.
Mesmo diante
de tantas emoções durante o trabalho, onde muitos riscos acometem os
profissionais, o sentimentalismo, próprio das mulheres precisa ser
controlado. Para a major Asmenha Torquato isto é parte do trabalho. "As
pessoas que estão nas ruas e que dependem do nosso desempenho não vão
entender se naquele dia você não está bem. Você precisa estar bem com
você mesma para conter suas emoções e desempenhar suas funções agindo
sempre de forma racional", explica a oficial à Reportagem.
A
natureza do trabalho da Polícia exige dos profissionais uma necessidade
de agir com firmeza e não permite erros, pois estes podem ser fatais.
"Comparo nossos erros com o dos médicos. Ninguém nunca vai entender ou
perdoar quando falhamos. Lidamos com vidas. Precisamos agir em fração de
segundos e é preciso que tomemos a decisão certa", ponderou a major.
Mesmo
demonstrando grande capacidade para lidar com as funções que lhe são
delegadas dentro da corporação, as mulheres ainda se consideram vítimas
de preconceito, que segundo elas, parte dos próprios colegas. "Muitos
deles não aceitam que a gente ocupe os mesmo cargos, que tenha as mesmas
habilidades", disse Sarah Brasil.
No entanto, Asmenha Torquato
acredita que a situação já está melhor que na época em que ela ingressou
nos quadros da PM, no ano de 1994. "O preconceito ainda existe, mas já
somos muito mais reconhecidas pelo nosso bom desempenho".
EquilíbrioA
major afirma que é importante para as mulheres, em momentos em que as
emoções estão mais afloradas, colocar em prática o treinamento, que
exige delas muito equilíbrio. "Somos treinadas para agirmos de forma
correta. Erros não podem ser justificados por sentimentos".
PROTAGONISTAElas abrilhantam a PM do CearáRosilene
Queiroz de Lavor, 41, está na PM há 19 anos. A sargento atua no
Batalhão de Policiamento de Eventos (BPE). Ela diz que seu sonho não era
ser policial, mas foi aprovada no concurso, se adaptou e acabou
gostando mais do que esperava. Rosilene é casada com um militar e tem
três filhos
Asmenha Cruz Furtado Torquato, 46, também está há 19
anos na PM. A major é casada e tem uma filha de 17 anos. Sua primeira
intenção foi ingressar na Marinha, mas foi aprovada no concurso da PM e
decidiu seguir carreira. Ela foi promovida a major, por merecimento, em
dezembro de 2012
Rochelle Ferreira, 30, está na PM há três anos. A
soldado do Ronda do Quarteirão é assistente social e antes de ser
policial trabalhava na profissão em que se formou. Ela é recém-casada
com um militar e é mãe do pequeno João Victor, de 7 anos, que ainda se
emociona, quando a vê fardada
A publicitária que se tornou policialA
soldado Sarah Brasil, tem 28 anos e está há quatro na PM. Ela já fez
parte do policiamento comunitário, no Ronda do Quarteirão, e agora
integra um grupo de elite da Polícia Militar cearense, o BPChoque. Sarah
é uma das três mulheres do batalhão e foi escolhida depois de se
submeter a diversos testes, entre eles, o físico, disputando vagas,
inclusive com vários homens.
Sarah Brasil é atiradora esportiva profissional e está na PM há quatro anos. Atualmente, atua no BPChoqueA
carreira que Sarah escolheu quando estudante, pouco tem a ver com a que
acabou seguindo. A moça se formou em publicidade e trabalhou em uma
agência até ser aprovada no concurso da PM.
Ela diz que não sabia
exatamente o que a esperava nas ruas, mas que foi acometida por uma
"paixão" e uma vontade muito grande de fazer sempre melhor o que tinha
aprendido no curso de formação.
"Este é o meu lugar. Eu gostava
do que fazia, mas na PM foi diferente. Me descobri aqui", afirmou com um
largo sorriso. Esta é uma das marcas de Sarah, uma simpatia muito
grande, que a torna comunicativa e cativante. Suas palavras são sempre
intercaladas por risos, mesmo quando relata os momentos difíceis que já
enfrentou nas operações policiais.
"Claro que em alguns momentos
você pensa em desistir, mas logo, eu via que não era o certo a fazer.
Aqui aprendi doutrinas que considero importante seguir. Além disto, nós
aprendemos a ser corporativistas e a pensar no outro quando entramos na
PM. Penso em meus companheiros e no que faço e, logo me sinto motivada a
continuar".
Atiradora profissional e filiada à Federação
Cearense de Tiro Esportivo, Sarah Brasil demonstra que é uma policial
vocacionada e quando fala disso transborda alegria.