A disputa por prefeituras, que só acontece em 2020, já começou no Ceará e
movimenta lideranças na construção de estruturas e nomes viáveis para
as urnas. Na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), que concentra
municípios estratégicos para o Estado, seja na economia ou no turismo,
os enfrentamentos tendem a ser mais acirrados que os de 2016. A Grande
Fortaleza está na mira dos principais partidos em atuação no Ceará.
Largam na frente nomes e legendas mais conhecidos em cada região, mas
diretórios estão sendo criados ou fortalecidos para a oferta de outras
opções para a população.
Em número de eleitores, Caucaia e Maracanaú lideram a lista das
principais cidades, com 211 mil e 152 mil, respectivamente. A
contribuição para o desenvolvimento do Ceará – são os dois maiores PIBs
depois da Capital –, além da própria relevância política, geram
interesse dos partidos.
A Prefeitura de Caucaia, por exemplo, é comandada por Naumi Amorim
(PMB), que enfrentou um segundo turno acirrado em 2016 com o empresário
Eduardo Pessoa (PSDB), falecido em 2017. Os dois grupos políticos devem
novamente rivalizar em 2020, mas em condições diferentes. Filho de Tauá,
Naumi sinaliza que não deve concorrer à reeleição, abrindo caminho para
outro nome aliado.
“Muitos políticos esperam se desgastar até o povo não querer mais
para sair da política. Eu quero sair no tempo que tiver melhor na
gestão. A maioria pensa em ser dono da cidade”, diz o prefeito.
Do outro lado, os tucanos preparam o lançamento de um quadro com
projeção local. A vereadora de Caucaia, Emília Pessoa (PSDB), candidata a
vice-governadora na chapa do General Theophilo em 2018, é sondada pelo
partido. Há, ainda, o ex-prefeito Washington Goes, filiado ao PDT, que
governou Caucaia por dois mandatos, mas a legenda tucana deve apostar em
um novo nome.
Em Maracanaú, Firmo Camurça (PSDB) encerra o segundo mandato no ano
que vem com a possibilidade de devolver o bastão ao deputado federal
Roberto Pessoa (PSDB). Ele foi vice do empresário entre 2005 e 2012, até
assumir o Executivo. Reeleito em 2016, Camurça teve Pessoa como vice,
até este conquistar vaga na Câmara dos Deputados. O nome da deputada
estadual Fernanda Pessoa também é cotado entre aliados.
Adversário
O grupo da situação deve ter como concorrente, de novo, o deputado
estadual Júlio César Filho (PPS), líder do Governo na Assembleia
Legislativa, que carrega a bagagem política do pai, o ex-prefeito de
Maracanaú e ex-deputado Júlio César Costa Lima. Em 2016, Júlio César
Filho obteve 27,90% dos votos válidos, contra 72,10% de Camurça.
Dentro da base governista, há lideranças que defendem renovação na
disputa, enquanto o deputado reafirma a disposição de entrar no embate.
“Pretendemos nos articular, unir a oposição, para que possamos
apresentar, em momento oportuno, nas eleições de 2020, projeto
alternativo”, pontua Júlio.
A terceira cidade mais importante da Região Metropolitana de
Fortaleza, diante do eleitorado, é Maranguape. São 73.548 votantes para
127.098 habitantes, segundo o IBGE. O responsável por governar o
município é o prefeito João Paulo Xerez (PHS), que ganhou sozinho as
últimas eleições. Os possíveis concorrentes do então vereador saíram do
páreo.
Regina Valentim (PCdoB), mãe do ex-prefeito George Valentim,
renunciou ao pleito e decidiu apoiar Xerez, enquanto o ex-prefeito
Marcelo Silva (PV) e o prefeito à época, Átila Câmara (Patri), tiveram
as candidaturas indeferidas pelo Tribunal Regional Eleitoral do Ceará
(TRE-CE). O atual gestor governa a cidade, que tem vocação turística,
com o apoio da maioria dos vereadores.
Lideranças políticas locais reconhecem que a disputa de 2020, por
enquanto, está aberta. O atual prefeito pode buscar a reeleição ou
apoiar um nome novo. O PV sinaliza para outra candidatura de Marcelo,
assim como George e Átila são cogitados na cidade. Além dos nomes em
evidência no último pleito, o PSDB pode voltar à política de Maranguape
com o ex-deputado federal Raimundo Gomes de Matos, vice-prefeito e
prefeito da cidade entre 1983 e 1993. Ele ou o filho, vereador de
Fortaleza Pedro Matos, são cotados.
Aquiraz
Também com forte apelo turístico e industrial, com quase 55 mil
eleitores, Aquiraz é o desejo de vários partidos. Desde 2017, quem dá as
cartas é o MDB de Edson Sá, que impediu a reeleição de Antonio Fernando
Guimarães, do PP. Como o último candidato se filiou ao Patriota, outro
nome pode ser lançado pelo PP, segundo o presidente da sigla no Ceará,
AJ Albuquerque. “O futuro do partido em Aquiraz ainda não é certo”,
disse via assessoria. Edson Sá conta com ampla maioria.
Quem quer estar nas urnas da cidade é o deputado Bruno Gonçalves
(Patri). Ele é filho do prefeito do Eusébio, Acilon Gonçalves (PR), que
foi presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, onde hoje está sua
esposa, Marta Gonçalves, vereadora licenciada.
Já Bruno, que deve migrar para o PR, considera, também, a
possibilidade de lançar o tio Walber Gonçalves à prefeitura. O grupo
político já administra Eusébio há, pelo menos, 15 anos. Acilon, em 2016,
derrotou Dr. Mauro, do PR, hoje partido do prefeito. Dos 15 vereadores
do município, apenas dois, ambos do MDB, são de oposição.
O quinto município em quantidade de eleitores na Região
Metropolitana, com 53.035, é Horizonte, que hospeda dezenas de
indústrias dos setores têxtil, calçadista e automotivo, por exemplo. O
atual prefeito, Chico César (PSDB), enfrentou o empresário José Rocha
Neto, o Rochinha (PTB), em 2016. Ganhou com folga: 70,88% a 26,06%.
Ex-aliados
Chico César contou com o apoio do ex-prefeito e hoje deputado
estadual Nezinho Farias, que deixou o ninho tucano em 2018 para se
filiar ao PDT. Os dois hoje andam por caminhos opostos. Chico é o
candidato natural do PSDB à reeleição, enquanto Nezinho confirma que
pretende lançar nas urnas a esposa Jô Farias, ex-vereadora do
município.
O deputado cogita, inclusive, conversar com o ex-opositor Rochinha,
que concorreu nas últimas três eleições, para formar uma aliança. A
tendência é de confronto acirrado em Horizonte.
Afora os principais grupos políticos que dividem protagonismo nas
cinco cidades da Região Metropolitana de Fortaleza com mais eleitores,
outros partidos indicam que devem entrar com força, como PT, PDT, Pros,
Novo e PSL.
Cenários podem mudar até as eleições
As disputas no formato “cabo de guerra”, com apenas duas forças no
páreo, representam o momento das cinco principais cidades da Região
Metropolitana de Fortaleza, em número de eleitores. São
projeções baseadas nas últimas eleições, mas que podem ser afetadas por
partidos tradicionais ou novos, em ascensão no cenário eleitoral do
País. O recorte serve como baliza para os primeiros desenhos políticos.
Legendas que podem surpreender
O Partido Social Liberal (PSL), por exemplo, quer aproveitar o
capital eleitoral do presidente Jair Bolsonaro para ganhar prefeituras. O
presidente estadual do partido, deputado federal Heitor
Freire, manifesta interesse nas cidades metropolitanas. O Novo, do
empresário Geraldo Luciano, mira em cidades estratégicas e na RMF, mesmo
interesse do Pros. PT, PDT, MDB e PSDB, mais tradicionais, também
aparecem na briga.
Independência ao Governo estadual
Entre os atuais prefeitos da Grande Fortaleza, lideranças consultadas
confirmam que há reconhecida “independência” em relação ao Governo
Camilo Santana. Além da influência do apoio do governador, aliados dos
gestores argumentam que também foi preponderante a própria projeção
eleitoral conquistada nos respectivos municípios.
dn