Os municípios do interior do Ceará continuam perdendo participação no
nível de consumo do Estado. De 2005 a 2017, o índice acumulou altas
sucessivas, mas a partir de 2018, a Região Metropolitana de Fortaleza
(RMF) tem ganhado força neste quesito. Segundo Marcos Pazzini, diretor
da IPC Marketing, há 14 anos, o interior representava 36,3% de tudo que
era consumido pelos cearenses. "Em 2010, essa participação subiu para
38,1%, em 2015 aumentou para 44,5%, e em 2018 cai para 40,5% e se mantém
nesse patamar neste ano".
De acordo com ele, os números do IPC Maps 2019 mostram que a Região
Metropolitana ainda tem um poder de consumo muito forte em relação ao
restante do Estado.
"Isso significa que o interior do Ceará está sentindo mais os efeitos
da crise que vem passando o País desde 2015, e a RMF tem respondido de
forma mais rápida. Muito provavelmente por conta da abertura maior de
empresas e dos fluxos turísticos que a gente observa do Brasil para
Fortaleza que, de certa forma, tem ajudado a RMF e o Ceará a ter uma
posição significativa no cenário de consumo tanto regional como
nacional", explica Pazzini.
Entre as cidades cearenses com maior poder de consumo, cinco estão
localizadas na RMF, outras duas da região Norte, mais duas do Cariri e
uma No Centro-Sul. Na ordem se encontram Fortaleza, Caucaia, Juazeiro do
Norte, Maracanaú, Sobral, Crato, Iguatu, Maranguape, Itapipoca e
Aquiraz. Apenas a Capital está na lista dos 50 municípios do Ceará com
os maiores IPC Maps do País.
Além disso, o relatório aponta que, ao contrário do que acontece na
média do Brasil, onde o interior vem ganhando participação em relação às
regiões metropolitanas dos estados, no Ceará isso ocorre de forma
lenta. "Enquanto no Brasil como um todo, o interior já ultrapassou as
capitais em termos de participação de consumo, no Ceará isso não
acontece".
"No ano passado, o Estado foi responsável por 2,97% de tudo que foi
consumido no País. Esse ano vai ser responsável por 2,91%. Isso
significa que de cada R$100 gastos pelos brasileiros R$2,91 vai ser
gasto pela população do Ceará como um todo. No ranking dos estados
brasileiros, o Ceará mantém a posição de 2018 e é o 10º maior estado
brasileiro neste quesito. E no Nordeste, é o terceiro, atrás da Bahia e
de Pernambuco".
Segundo o diretor, a abertura de empresas cearenses é bem
significativa. "Houve uma abertura de 78.247 novos estabelecimentos -
com uma predominância forte do setor de serviços, com 40 mil novas
empresas entre os dois anos. E um destaque também para o setor de
comércio, com 26.800 novas empresas abertas no Estado entre 2018 e
2019", acrescenta.
Consumo na Capital
Fortaleza configura como o sétimo maior mercado do País, atrás de São
Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF),
Salvador (BA) e Curitiba (PR), com potencial de consumo em 2019 de
R$56,8 bilhões. A cidade manteve a posição entre os anos de 2018 e 2019,
mas registrou queda de participação.
"Nós verificamos que, realmente, houve uma queda de participação de
Fortaleza no cenário nacional. No ano passado, a Capital foi responsável
por 1,34% do que foi consumido no Brasil e, em 2019, vai ser
responsável por 1,21% do consumo nacional. Apesar disso, que aconteceu
de forma generalizada no Nordeste, Fortaleza continua sendo o sétimo
maior mercado do País e o segundo do Nordeste, atrás apenas de
Salvador".
Pazzini explica ainda que a Capital não cresceu neste ano porque os
domicílios de classes A e B, que fazem parte da parcela da população
mais rica, perderam participação, tanto na quantidade de domicílios como
no consumo total. "Apenas houve crescimento nas classes C e D/E, que
são as classes média e de baixa renda. Então quando você tem crescimento
nas classes mais baixas, tem uma tendência de perder participação".
"Salvador participa com 1,62% de tudo que é consumido no Brasil.
Fortaleza é responsável por 1,21% então a diferença não é tão grande. E
está bem a frente de Recife, que é responsável por 0,8% de tudo que vai
ser consumido no País. A posição de Fortaleza é confortável e
dificilmente vai ser alcançada por Recife ao longo dos próximos anos. E
se mantiver um padrão de crescimento significativo tende a se aproximar
mais de Salvador e de repente galgar o primeiro posto do Nordeste".
Hábitos
Tanto o Ceará quanto Fortaleza possuem hábitos de consumo muito
similares. Segundo o diretor, há uma forte participação das despesas com
alimentação no domicílio, alimentação fora do domicílio, pagamento de
dívidas de compras feitas a prazo, que são categorias básicas de
consumo. "Essas despesas são básicas e consomem grande parte do
orçamento doméstico. E este não é um cenário positivo. Pelo contrário,
você tem um valor de renda definido e se você compromete boa parte do
seu rendimento com despesas básicas obviamente sobra menos para você
comprar produtos que não são de primeira necessidade", acrescenta.
Na análise de Pazzini quando há esse comprometimento do orçamento
doméstico muito forte não sobra dinheiro para comprar outros bens. "Isso
explica também um pouco do cenário de crise que nós estamos passando
porque o consumidor não tem folga no orçamento doméstico. O consumidor
tem um certo medo de fazer aquisição de produtos para pagar a prazo
porque ele não sabe se amanhã o emprego dele está garantido. Essa
incerteza compromete a confiança do consumidor".
Para ele, o consumo e a economia só vão voltar a crescer em níveis
satisfatórios quando houver um menor comprometimento da renda do
trabalhador com o pagamento de despesas básicas. "Então esse
comportamento de consumo com essas despesas muito pesadas no orçamento
da população é negativo", avalia.
dn