Pacientes com sintomas da Covid-19 ou com manifestação de outras doenças relatam que não estão conseguindo atendimento nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA's) em Fortaleza. No total, há 12 equipamentos do tipo na Capital. Sendo a metade de responsabilidade do Estado e a outra parte da Prefeitura.
Na segunda-feira, 4, a doméstica Francisca Mota levou o esposo à UPA do bairro Autran Nunes. O jovem de 25 anos sentia febre, dor no corpo e expulsava conteúdo gástrico pela boca há quatro dias. Apesar dos sintomas, ele não conseguiu atendimento. Foram menos de quatro minutos dentro da unidade de saúde. Na recepção, foram informados de que apenas os casos mais graves eram consultados. "É chato. A pessoa vem porque precisa. Pra ser recebido desse jeito, é melhor fechar", lamentou Francisca. Na residência do casal, vivem outras sete pessoas.
Com dores e falta de ar, a dona de casa Patrícia Cachilé, 26, também não foi acolhida na UPA do Jangurussu. "Eu cheguei aqui e disseram que não está tendo atendimento. Eu já venho do posto de saúde do Conjunto Palmeiras. Agora, não sei para onde eu vou." A jovem diz que não tem como se proteger e que se sente "jogada".
O ferreiro Auricélio Coelho já havia passado pelo Frotinha da Messejana e pela UPA do Jangurussu, sem sucesso, quando foi para a UPA do José Walter em busca de atendimento para Francisco Lima. Mais uma vez não conseguiu atendimento, foi informado de que não havia médicos disponíveis. Uma senhora que preferiu não se identificar também teve de voltar pra casa sem conseguir consulta para um parente com fortes dores no corpo.
Conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o atendimento nas seis Unidades de Pronto Atendimento (UPA's) de Fortaleza reduziu em 44,6% entre março e abril. Sendo 20.453 naquele mês ante 11.329 no seguinte. A justificativa dada pela Pasta é de que há uma demanda muito maior de pacientes com quadro clínico mais grave do que os registrados antes da pandemia do novo coronavírus assolar a Capital. Com isso, os procedimentos levam mais tempo e necessitam de mais profissionais.
"Não é que a UPA não queira atender. A demanda está mais intensa. Normalmente, o paciente que seria atendido na UPA, precisa agora ir pro posto de saúde", comenta Rui de Gouveia, coordenador das Redes de Atenção Primária e Psicossocial de Fortaleza. Por outro lado, ele diz que é uma "desinformação" relacionar a redução na quantidade de atendimentos com os casos de pessoas que tiveram de voltar para casa após não conseguir ser atendida.
"Existe uma rede de atendimento. Não apenas as UPAs. São 113 postos de saúde para procurar durante a semana. Aos fins de semana, ficam abertas 24 unidades. Porém, a pessoa quando procura a UPA e pensa que vai ser logo atendida. Mas não é assim. Os pacientes mais graves serão atendidos mais rápido", alega.
Segundo ele, não tem como manter o mesmo número de atendimentos. Uma vez que os casos mais complexos requerem mais tempo da equipe de saúde. Ele cita também ocasiões em que até três médicos precisam ajudar um único paciente. Quando um indivíduo chega com parada cardiorespiratória, cita.
Na segunda-feira, O POVO buscou o Governo do Estado para saber dos dados referentes aos atendimentos nas seis UPAS da rede. Contudo, até o fechamento desta matéria não obteve resposta. Tanto a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) quanto a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) não informaram os óbitos registrados nas Unidades de Pronto Atendimento.
Sobre o não atendimento no José Walter, a Sesa informa que, na segunda-feira, a Unidade recebeu uma quantidade de pacientes considerada acima da média. Por causa da demanda, o serviço foi restrito aos casos graves. Até as 14 horas daquele dia, segundo a Pasta, 41 pessoas tinham sido atendidas pela equipe de plantão na unidade.
QUANDO E ONDE BUSCAR ATENDIMENTO
POSTO DE SAÚDE
O indivíduo deve buscar por atendimento em um dos 113 Postos de Saúde de Fortaleza a partir do 5° dia com sintomas gripais. Conforme, Rui de Gouveia, é a partir deste momento que a doença se começa a se agravar e são mais comuns os sintomas de indisposição e cansaço mais rápido.
Na Unidade básica de saúde é feito avaliação completa do paciente. Isso inclui: aferir pressão, identificar frequência respiratória, batimento cardíaca, pulso e saturação de oxigênio.
UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO (UPA)
As UPA's são indicadas para pacientes com falta de ar aguda. Quando a pessoa já está sonolenta, respirando mais rápido do que o normal. Uma dica do Rui é contar se o indivíduo respira 30 vezes por minuto. Além disso, o porta-voz aponta as dores no peito como motivo para buscar ajuda nesses locais.
HOSPITAIS DE CAMPANHA
Os Hospitais de Campanha recebem a partir de encaminhamento dos postos de saúde ou UPA. Dependendo da gravidade do paciente, ele pode ir à enfermaria ou Unidade de Terapia Intensiva(UTI). O Hospital de Campanha no Estádio Presidente Vargas (PV) dispõe, principalmente, de leitos para enfermaria.
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