Duzentos e sessenta e um registros de óbitos por Covid-19 em apenas 24 horas. Não é Itália, não é Espanha, nem estamos falando do que o Brasil costumava contabilizar há pouco mais de um mês. A realidade é daqui, tem DNA desta terra e atenta para o quão perigosos podem ser os efeitos provocados pelo novo coronavírus.
A triste marca foi atingida nessa quinta-feira (21), mas nem todas as mortes ocorreram nesse dia. Na contagem, há registros de óbitos de dias anteriores que só foram confirmados ontem. Com a atualização, o número de casos fatais em decorrência da nova infecção viral subiu de 1.900 para 2.161, conforme a plataforma digital IntegraSUS, gerenciada pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).
O número de mortes diárias foi o maior confirmado em todo o Brasil nessa quinta-feira (21), superando estados como São Paulo (195), Rio de Janeiro (175), Pará (115), Pernambuco (91) e o Amazonas (39), os mais afetados pela doença até o momento.
De acordo com a coordenadora da Vigilância Epidemiológica e Prevenção em Saúde do Ceará, Ricristhi Gonçalves, o pico de falecimentos confirmados por Covid-19 ocorreu por causa de uma migração de informações entre um sistema e outro. "São óbitos que já tinham acontecido e estavam aguardando resultado laboratorial e a inserção nessa nova plataforma. E foi o que aconteceu nas últimas 24 horas. São óbitos distribuídos desde o fim de abril até agora", explica.
Conforme Ricristhi Gonçalves, a mudança direta para a plataforma faz com que as áreas descentralizadas de saúde de todo o Ceará possam atualizar as notificações por si próprias, dando celeridade ao processo.
Para o professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e epidemiologista, Luciano Pamplona, o número de 261 óbitos confirmados em 24 horas "salta aos olhos" e é preciso avaliar se, nos próximos dias, ele se mantém. "Mas, se a gente, de fato, tiver subido do patamar diário que a gente estava para mais de 200 óbitos/dia, é um caos. No pior cenário, eu não imaginei que a gente chegasse nisso em um dia. Por isso, acredito que esses óbitos estão bem diluídos durante o tempo", avalia.
Platô e lockdown
A coordenadora da Vigilância da Sesa, contudo, afirma não ter dados suficientes para afirmar que o Ceará chegou ao platô ou se está próximo da redução de casos e óbitos.
"A gente tem visto um impacto importante nesse momento de lockdown (bloqueiro total). Observamos isso pela quantidade de registros que entram, mas ainda é um pouco cedo. Se essa tendência se confirmar nos próximos dias, tendo em vista que o decreto foi prorrogado, teremos um melhor panorama para ver se essa curva está decaindo", salienta Ricristhi.
Na visão de Luciano Pamplona, o Ceará está próximo do platô, e os dados contabilizados a partir do decreto de isolamento obrigatório podem deixar essa análise mais clara. "Esse excesso de óbitos que a gente ainda tem hoje é reflexo daquelas semanas em que as pessoas estavam no meio da rua, na Caixa Econômica Federal. Hoje, a gente vive um cenário diferente, onde há menos pessoas na rua. Acho que essas duas semanas vão ser nosso limite de óbitos. Depois disso, a gente começa a cair, se o lockdown fizer o efeito que a gente espera", completa.
O decreto de isolamento social rígido está em vigor em Fortaleza desde o dia 8 de maio, com extensão até o fim do mês. Especialistas afirmam que os efeitos da ação administrativa podem ser sentidos entre 10 e 14 dias depois do inícido do lockdown. Até as 18h17 dessa quinta-feira (21), o Ceará já contabilizava 31.413 casos confirmados da Covid-19, dos quais 18.258 estão recuperados. Outros 43.029 casos estão em investigação. A Capital do Estado concentra 57,7% de todas as confirmações e já soma 1.503 falecimentos.
Testagem
Segundo o IntegraSUS, já foram realizados 77.910 exames para detecção da Covid-19, em todos os 184 municípios do Ceará. Do total, 49.164 foram RT-PCR - método de diagnóstico molecular, 26.823 testes rápidos e 1.908 de sorologia - testados a partir da amostra de sangue do paciente.
O Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) analisa os resultados dos testes RT-PCR da rede pública. Segundo a Sesa, desde o começo da pandemia até o dia 19 de maio, a unidade da rede estadual analisou 20.867 exames RT-PCR. Em março, o Lacen tinha capacidade para receber, em média, 100 exames por dia. No decorrer dos meses, com a necessidade de ampliação dos testes, o Lacen foi reestruturado e passou a analisar 900 testes diariamente.
Além do Lacen, o Hemoce e a Universidade de Fortaleza também analisam exames de biologia molecular da rede pública. Juntas, informa a Sesa, as unidades fazem a análise de 1.200 testes de RT-PCR diariamente. A projeção da Secretaria é que, em breve, com a chegada de mais insumos, outras instituições também irão colaborar nesta análise.
DN