Nutrição e saúde têm entre si uma relação estreita. No Hospital Regional Norte (HRN), vinculado à Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) e administrado pelo Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), a equipe de 18 nutricionistas é responsável pelo atendimento a pacientes, monitoramento do estado nutricional, além de elaboração dos cardápios – que recebem cuidado personalizado. Os pacientes graves ou crônicos podem ter a necessidade de alimentação pela via enteral.
Este tipo dieta é uma forma líquida de tratamento nutricional utilizada quando o paciente não pode ingerir alimentação por via oral. A administração pode ser realizada por meio de uma sonda com acessos pelo nariz (nasogástrica) ou abdômen (gastrostomia), dependendo da indicação do médico para a necessidade do paciente. “Diante da complexidade do cuidado nutricional dentre as interfaces do cuidado sistematizado, o profissional nutricionista é habilitado para adequar as necessidades nutricionais nas diferentes etapas clínicas e ciclos de vida, sendo capaz de acompanhar a evolução nutricional, além de realizar os ajustes na terapia conforme possíveis intercorrências associadas”, explica a gerente de Nutrição do HRN, Patrícia Narguis Grun.
A dieta enteral pode ser utilizada de forma exclusiva ou combinada com a dieta oral e ainda de forma temporária ou definitiva. Os critérios para a definição da dieta dos pacientes dependem da condição clínica do paciente, diagnóstico clínico e nutricional, além da idade. “A terapia nutricional enteral surge como uma alternativa dietoterápica quando a alimentação por via oral está impossibilitada ou quando a ingestão desta não fornece a quantidade necessária de nutrientes para manter ou recuperar o estado nutricional do indivíduo”, ressalta Grun.
Segundo ela, reconhecer a necessidade do uso da via enteral é tão importante quanto a transição para a via oral. “A oferta tardia da terapia nutricional enteral pode favorecer uma recuperação clínica mais lenta, contribuir para potencializar a desnutrição, em especial no ambiente hospitalar, além de prolongar o período de internação hospitalar e riscos de novas reinternações”, orienta.
O comerciante Antonio Evandro Chaves Rodrigues, 44, precisou fazer uso de sonda após ser intubado e traqueostomizado. O paciente está internado no HRN desde o dia 23 de julho. A esposa do comerciante, Maria Leonor Braga, 39, explica que aprendeu a cuidar do esposo enquanto estava com o uso da sonda. “Sempre com a cabeceira elevada para não ter perigo de voltar alimentação para o pulmão”, lembra.
Cuidados com a alimentação
Pacientes com problemas de deglutição de todas as idades podem ter disfagia, dificuldade grave de engolir alimentos, líquidos ou sólidos, que pode acarretar sérias complicações, se não tratada. A disfagia é uma sequela que pode ter como origem doenças de base neurológica, traumas e acidentes, além de transtornos psiquiátrico ou psicológico que possam afetar a deglutição.
Entre os sintomas principais, estão tosses e engasgos na hora da alimentação, mudança de voz enquanto se alimenta e dificuldade para engolir. O paciente também pode passar muito tempo para finalizar as refeições, queixar-se de alimento parado na garganta, apresentar pneumonia ou perda de peso sem motivo.
O risco da disfagia é de broncoaspiração, condição na qual alimentos, líquidos, saliva ou vômito são aspirados pelas vias aéreas. Segundo a coordenadora do serviço de Fonoaudiologia do HRN, Havenna Portela, a broncoaspiração é causa de reinternações hospitalares. “Os sinais da pneumonia podem vir após alguns episódios de tosse, engasgo. A pneumonia aspirativa é diagnosticada pelo médico, que poderá encaminhar o paciente ao fonoaudiólogo para uma avaliação funcional da deglutição e reabilitação da capacidade de engolir”, detalha.
Treinamentos
No HRN, o serviço de Fonoaudiologia realiza triagens para avaliar quais pacientes têm risco de desenvolver pneumonia aspirativa ou broncoaspiração. Em parceria com a Nutrição e a Enfermagem, a Fonoaudiologia promove treinamentos para acompanhantes e cuidadores de pacientes com disfagia para orientá-los acerca dos cuidados na alimentação via oral ou por sonda. O paciente com dificuldade de deglutição pode passar a se alimentar exclusivamente por sonda, com a dieta mista (oral e enteral) ou oral com as consistências modificadas que ele consiga deglutir.
Este é o caso de Maria Beatriz Silveira, 22. Portadora de paralisia cerebral, ela está internada no HRN desde o dia 29 de julho com uma pneumonia decorrente da broncoaspiração. A mãe da jovem, Maria das Graças Araújo Silveira, 53, conta que ela costumava se engasgar ao se alimentar. Agora, a filha voltará para casa com uma sonda para facilitar a alimentação. “Quando ela for se alimentar pela sonda, tem que elevar a cabeceira da cama. Já me ensinaram tudinho”, conta a agricultora.
CUIDADOS COM A ALIMENTAÇÃO POR SONDA
- Colocar o paciente na posição correta. Elevar a cabeceira da cama de 30 a 45 graus antes de iniciar o gotejamento
- Conectar o equipo no frasco, pendurar o frasco no gancho, abrir a roleta para encher o equipo de dieta, em seguida conectar o equipo à sonda;
- O gotejamento deve ser lento, cair em gotas, sendo recomendado um tempo entre 1 e 2 horas;
- Tampar a sonda;
- Manter o paciente na posição 30 minutos após o gotejamento da dieta. Este cuidado evitará que haja regurgitação, vômitos ou aspiração da dieta para o pulmão.