"Esta é a primeira vingança pelo martírio de Bin Laden." A mensagem de Ehsanullah Ehsan, porta-voz dos talibãs do Paquistão, foi a confirmação de que o atentado-bombista de ontem, no noroeste do Paquistão, teve um objectivo: vingar a morte de Ossama bin Laden, líder da Al-Qaeda, rede à qual o Movimento dos Talibãs paquistaneses se aliou em 2007.
Ao início do dia de ontem, dois bombistas-suicidas fizeram-se explodir numa academia paramilitar no noroeste do Paquistão, fazendo, pelo menos, 80 mortos. Um dos dois bombistas, que levou a cabo o primeiro ataque, fez-se explodir numa mota. O segundo suicida atacou a base já quando as forças de segurança e equipas de socorro estavam concentradas no local. 69 dos 80 mortos eram jovens recrutas da unidade; os outros 11 eram civis. Outras 140 pessoas ficaram feridas, 40 das quais estão "entre a vida e a morte", avançou o ministro oficioso da província de Khyber-Pakhtunkwa, Bashir Ahmed Bilour.
Pouco tempo depois dos ataques, ao telefone com a agência Reuters, o grupo deixou ainda uma promessa: " Vai haver mais e maiores [atentados] no Paquistão e no Afeganistão."
Para além de ser o primeiro atentado desde que bin Laden foi morto por uma equipa da Marinha norte-americana a 1 de Março, o ataque de ontem faz renascer a discussão sobre os meandros da operação dos EUA e o que esta provocou no Paquistão. Procurado desde 1998 - depois dos atentados nas embaixadas dos EUA no Quénia e na Tanzânia - o número um da Al-Qaeda vivia escondido num complexo residencial em Abbottabad, a 60 quilómetros de Islamabad, há tempo indeterminado. No rescaldo da operação que o matou, o Paquistão mostrou-se insatisfeito com o facto de os EUA terem actuado no país sem informar as autoridades. Os EUA responderam que é suspeito que Bin Laden tenha vivido no país sem ser descoberto, sugerindo que os paquistaneses poderão ter ajudado o terrorista. O Exército e o governo do país desmentem, à medida que novos pormenores vão surgindo.
Ontem, a Reuters publicou uma investigação que desvenda novos dados da perseguição a Bin Laden, que provam que sempre foi um alvo a abater. Segundo a agência, já em 17 de Setembro de 2001 (seis dias depois dos ataques em Nova Iorque), numa directiva secreta do então presidente George W. Bush, foram dadas "autoridades letais" à CIA para lidar com o terrorista. As informações juntam-se às críticas da família de Bin Laden e do Hamas, que dizem que este foi morto a sangue frio sem estar armado. Richard Armitage, ex-sub-secretário de Estado de Bush, corrobora a versão de ''atirar a matar'' e sublinha: "Acho que levámos Osama bin Laden à letra, já que ele queria ser um mártir."