A desembargadora do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, Sérgia Miranda, determinou, no início da noite de segunda-feira (2), retorno imediato dos policiais e bombeiros ao trabalho.Ainda segundo a desembargadora, todos os bens do Estado devem ser reintegrados.
Caso a ordem seja descumprida, cada militar deve pagar R$ 500,00 diários, e cada associação, R$ 15 mil. Logo após a decisão judicial, um dos líderes da greve, deputado estadual capitão Wágner, reuniu-se com representantes do Governo do Estado na residência da procuradora geral, Socorro França, para a terceira rodada de negociações. Até o fechamento desta edição, nada havia sido decidido.
Cerca de 80% dos policiais estão paralisados e mais uma categoria aderiu ao movimento. No início da tarde de ontem, policiais do Batalhão de Choque também paralisaram as atividades e juntaram-se aos PMs que estão acampados na 6ª Companhia do 5º Batalhão, no bairro Antônio Bezerra, em Fortaleza. Agora, já são três categorias paralisadas. Segundo entidades de classe, cinco mil policiais militares aderiram à greve em Fortaleza e outros cinco milhomens no interiordo Estado. Os números não são confirmados pelas autoridades da segurança pública.
“Arrastão”
Enquanto, os policiais param suas atividades a população vive aterrorizada com “arrastões” e outros tipos de ação de bandidos, em vários pontos da cidade. Dois arrastões aconteceram na tarde de ontem, em Fortaleza. A primeira ação ocorreu na Barra do Ceará, por volta das 16h30, enquanto a segunda foi relatada na Via Expressa, já por volta das 17 horas.Segundo testemunhas, a primeira sequência de assaltos começouna Avenida Mozart Pinheiro de Lucena, no Quintino Cunha, estendendo-se até a Barra do Ceará.
Uma jovem que testemunhou a ação disse que um grupo com 10 ou 15 pessoas invadiu várias lojas do comércio da avenida e praticou a série de roubos no local.Por conta da ação, as lojas, que costumavam fechar somente às 19 horas, fecharam as portas mais cedo, por volta das 17 horas. Os moradores da área afirmam que a Polícia não apareceu no local.
O segundo arrastão ocorreu na Via Expressa, próximo ao cruzamento com a Rua Tavares Coutinho, na Varjota, em Fortaleza.De acordo com um morador do bairro que presenciou a ação, um grupo de homens armados abordou vários veículos que passavam pela via, enquanto outros motoristas buzinavam e davam “sinal de luz”, na tentativa de alertar os carros que estavam atrás.
POPULAÇÃO DIVIDIDA
“Ruim com eles e pior sem eles.” - afirmou a dona de casa Maria Teresa Pereira, 37. Ela mora no Antônio Bezerra e diz que está apavorada por causa da greve dos policiais. “A gente tem medo de acabar acontecendo uma coisa pior, como um assalto com muita violência”.
O funcionário público José Fábio dos Santos mora na Rua Doutor João Guilherme, no mesmo bairro. O irmão dele foi assaltado há pouco mais de dois dias, próximo ao cruzamento da rua. Os bandidos aproveitaram uma distração da vítima e tomaram seu telefone celular. “A gente fica com muito medo”.
“O fortalezense parece até estar entregue às baratas.”- completou uma mulher, que preferiu não ter o nome identificado. Ela também mora no bairro e lamenta muito a situação pela qual os policiais estão passando. Também não esquece a agonia dos moradores. “Quem vive na rua, com medo de tudo. Agora, torna-se mais assustado”.
ESTADO DE EMERGÊNCIA
Em greve desde a última quinta-feira, 29, policiais militares e bombeiros já estariam de braços cruzados em 33 municípios cearenses (Lei matéria na Editoria de Ceará, página 14).Por conta da paralisação, o governador Cid Gomes decretou estado de emergência em todo o Ceará e pediu reforço policial da Força Nacional, do Exército e da Aeronáutica.
“Temos adesão total.” - afirmou por seu lado o capital PM Wagner Souza, da Associação de Profissionais de Segurança Pública do Ceará (Aprospec) e deputado estadual. “Já temos apoio de policiais da Corregedoria, da Inteligência e também no interior”. Na tarde de ontem, os policiais falaram com a população de Antônio Bezerra, mostrando as reivindicações dos policiais.
Indagado sobre a presença da Força Nacional, de Brasília, na Capital, ele disse ser irrisório o número de homens. “São 70 militares da Força Nacional.” – lamentouele. “Se o Governo não se pronunciar, a criminalidade pode aumentar. Esperamos que o Governo chame a categoria para dialogar.” - sentenciou o capitão.
FORÇA NACIONAL
Um contingente de 2.449 homens de tropas federais e órgãos de segurança pública federais, estaduais e municipais fazem o policiamento da Região Metropolitana de Fortaleza, segundo a 10ª Região Militar. Conforme nota, divulgada pelo Exército, o contingente está preparado para fazer o policiamento, até que as atividades da PM se normalizem.
O comando do Exército, responsável pela Operação Força Ceará, informa que o contingente conta com 650 homens do Exército, 169 da Força Nacional de Segurança Pública e 1.650 de órgãos de segurança pública federais, estaduais e municipais. O comando da Operação solicita que a população continue a utilizar o número 190 para situações de emergência. Porém, o número e nem o 193 (Bombeiros) funcionam.
POLICIAIS CIVIS FAZEM
ASSEMBLEIA HOJE
Os policiais civis do Estado, em greve há cerca de cinco meses, realizam mais uma assembleia geral nesta terça-feira. O encontro, marcado para as 18 horas, será na sede do sindicato da categoria, no Centro. Segundo o Sindicato dos Policiais Civis (Sinpoci), os policiais reclamam que já tentaram contato com o Governo do Estado e não tiveram retorno.
Há 15 dias, segundo dirigentes sindicais, os policiais reuniram-se e interromperam a movimentação, entretanto não foram recebidos pelo Governo do Estado. “Temos nossas lideranças nas cidades e não vamos desistir. O encontro desta terça-feira é para decidir se voltamos ou não à greve” - explicou a presidente do Sinpoci, Inês Romero. O governo não se manifestou, ontem, segunda-feira, sobre os eventos relacionados à greve na Segurança Pública.