Quem chega ao Açude de Sítios Novos, distrito de Caucaia, é impactado
pela beleza do local. Mas, em breve caminhada, é possível observar o
contraste com o enorme paredão de pedras, indício de que a situação é
crítica. Com capacidade para 126 hectômetros cúbicos de água - o
equivalente a 126 milhões de metros cúbicos de água -, o açude está com
apenas 4,05% do volume. Dos 151 reservatórios monitorados pela Companhia
de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), 114 têm menos de 30% da
capacidade.
No último dia 30, o governador Camilo Santana anunciou estado de
calamidade pública em mais 28 municípios. A situação já havia sido
reconhecida pelo Governo Federal em outros 67, totalizando 95. Mais da
metade das cidades cearenses enfrentam problemas com a seca (51,6%), que
já chegam à Região Metropolitana de Fortaleza. Dos que entraram na
lista, três são da área: Caucaia, Cascavel e São Gonçalo do Amarante.
O aposentado Francisco Paixão, 86, que há 18 anos pesca no Açude Sítios
Novos, em Caucaia, diz que nunca viu o nível do reservatório tão baixo.
"Tá vendo aquela pedra? Era toda coberta. Onde tem aquele verde, tudo
era água. Dá pena", lamenta.
A poucos quilômetros dali, na comunidade Poço das Pedras, na CE-156, a
dona de casa Eleni de Oliveira, 45, precisa comprar água do carro-pipa
para beber. No cotidiano, utiliza água do poço, que é salobra. Para
encher a cisterna, cuja capacidade é de 15 mil litros, paga R$ 250,00.
Alexandre Costa, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e PhD
em mudanças atmosféricas, afirma que o agravamento da seca
possivelmente está vinculado ao processo de mudanças climáticas. Segundo
ele, em 2009, praticamente todos os açudes ficaram com a capacidade
máxima. De lá para cá, o consumo de água continua como se os
reservatórios ainda estivessem cheios. "O Governo deve falar duro com
quem gasta muita água, no caso o agronegócio e as grandes indústrias",
enfatiza.
Com os recursos hídricos que possui hoje, acrescenta o especialista,
seria possível garantir o abastecimento de água para a maioria das
cidades. Entretanto, o sistema prioriza três segmentos: a Capital, o
agronegócios e as grandes empresas.
Outro problema é o El Niño, considerado o mais forte desde 1988. O
professor observa que há 80% de chance de o fenômeno chegar até
fevereiro de 2016, ou seja, o quinto ano de seca no Ceará. "Se continuar
assim, a tendência é que os municípios entrem em colapso", adverte.
Francisco Teixeira, titular da Secretaria dos Recursos Hídricos do
Ceará, esclarece que há um conjunto de ações do plano de contingência
contra a seca. Entre as medidas, informa que tem a operação carro-pipa.
Conforme Camilo Santana, a presidente Dilma Rousseff deverá anunciar,
nos próximos dias, R$ 22 milhões para a operação no Nordeste. Outra ação
é a construção de poços profundos. A meta é fazer mais 700 até o fim do
ano. O secretário destaca que seguem as obras do Cinturão das Águas,
monitorando o projeto de integração do Rio São Francisco para que os
recursos hídricos cheguem ao Ceará em 2016.
Luana Lima
Repórter
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