Famílias deixando o Brasil para se estabelecerem de maneira definitiva
em Portugal é uma cena cada vez mais comum. Pandemia, trabalho remoto e
busca por melhores condições de vida fazem com que hoje 221 mil
brasileiros vivam de forma legal no país. Os dados, que não incluem os
ilegais e quem possui cidadania portuguesa, são do Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras (SEF), integrado à Embaixada Portuguesa e
mostram que este número nunca foi tão alto, com crescimento contínuo
desde 2016. E, com brasileiros até trocando Miami por Lisboa, a busca
por imóveis de alto padrão têm movimentado o país de apenas dez milhões
de habitantes, onde achar um bom imóvel tem sido cada vez mais raro,
devido à grande procura.
Um levantamento do site Idealista, que monitora o mercado imobiliário
português, aponta que, dos brasileiros que procuraram moradias para
comprar na capital portuguesa no segundo trimestre do ano, 12% pediram
casas e apartamentos acima de 1 milhão de euros, algo em torno de R$ 6
milhões, após a conversão. Os brasileiros que buscam imóveis de luxo em
Lisboa superam até o de norte-americanos. Com isso, as principais
imobiliárias entenderam o recado e, apesar do idioma ser o mesmo, dispõe
de funcionários brasileiros para ajudar no processo de compra e evitar
termos ambíguos que possam existir na comunicação.
Para Patrícia Barão, diretora de Residências da JLL em Portugal, o
mercado brasileiro de compra de imóveis de luxo é o mais importante
depois do português. “O cliente do Brasil quer as melhores localizações,
ele quer imóveis que estejam em Cascais, no Estoril, no centro de
Lisboa, como na Avenida da Liberdade. E são imóveis que contam com áreas
sociais grandes, quartos com suíte, vagas de garagem e academia”,
conta. Patrícia explica que muitos moradores das grandes capitais
brasileiras chegam ao país com “medos do Brasil” e pedem, no ato da
compra, por sistemas de segurança elaborados, com receio de furtos e
assaltos, algo que, com o tempo, percebem não ser necessário.
Qualidade de vida
“Em 2021 vendemos 250 imóveis de alto
padrão aos brasileiros a uma média de preço de 800 mil euros”, diz
Patrícia. Em grupos de Facebook relacionados a viver em Portugal,
entretanto, há diversos relatos de pessoas que querem comprar um imóvel e
não conseguem, seja pela especulação imobiliária ou pelo fato de a
procura ser enorme ou a necessidade de fechar a compra do imóvel
rapidamente. Muitas vezes há mais de uma pessoa interessada em efetuar a
compra.
O casal de funcionários do mercado financeiro Denise Borges e Cláudio
Teixeira, ambos de 51 anos, decidiu ainda antes da pandemia que iria
migrar para a Europa com o filho adolescente. Venderam o imóvel no Rio
de Janeiro e deram o valor como entrada em um apartamento em Oeiras,
cidade ao lado de Lisboa, avaliado em 350 mil euros. “Fizemos a compra
por aqui, com financiamento em um banco local usando o imposto de renda
do Brasil como comprovante de que tínhamos renda para o financiamento.
As taxas são mellhores”, explica Teixeira, que trabalha em uma
financeira brasileira de maneira remota. A família adquiriu um serviço
de lavanderias para empreender em Portugal, mas Denise também acabou
assumindo o cargo de corretora de imóveis na mesma imobiliária em que
comprou o apartamento, há cerca de um ano. “Tem muita gente vindo morar
aqui, atendo somente brasileiros e ganho por comissão”, explica. Ela diz
que a mudança foi fundamental na qualidade de vida de toda a família,
que ao contrário do que acontecia no Rio de Janeiro, agora sente
tranquilidade para andar na rua e deixar o filho voltar para casa de
madrugada sem medo. “Acabo falando para todo mundo vir, a cidade é
ótima. Estamos muito felizes com a mudança”, diz.
De portas abertas
O Parlamento de Portugal
aprovou na semana passada o projeto de lei que amplia e facilita a
concessão do visto de trabalho a estrangeiros que fazem parte da CPLP
(Comunidades dos Países de Língua Portuguesa). Para os brasileiros a
principal mudança está na criação de um visto especial para quem busca
emprego no país europeu. A permissão determina 120 dias para procura de
trabalho, com possibilidade de prorrogação de mais 60. A nova lei ainda
não tem data para entrar em vigor e passará por sanção do presidente
Marcelo Rebelo de Sousa. O projeto mira o envelhecimento da população e
também a grande escassez de mão de obra no país. Parlamentares de
ultradireita criticam a medida que também beneficia os chamados nômades
digitais, desde que comprovem renda.
fonte: https://istoe.com.br