Para a PRE, responsável pelas rodovias
estaduais, o fluxo intenso, associado à falha humana, contribui para os
acidentes fatais. Alta velocidade, ultrapassagem indevida e dirigir sob
efeito de álcool aumentam os riscos. O POVO aponta hoje as dez CEs mais
perigosas do Estado
Manhã de segunda-feira, 23 de maio de 2011. Uma Kombi levava 12
trabalhadores para um canteiro de obras no Cumbuco. No meio do caminho, o
trajeto foi interrompido. Uma colisão com um caminhão, no quilômetro 12
da CE 090, deixou mortos o motorista da Kombi e mais cinco
trabalhadores. Os outros ficaram feridos. “Os carros andam muito
velozes. Num susto, não dá nem para conseguir desviar”, conta Luiz Costa
Silva, 63, que há 17 anos mora próximo ao local do acidente.
Duas
casas depois, Luiz aponta a representação de um pequeno túmulo com uma
cruz, à beira da estrada. “Esse aí foi um rapaz atropelado. Já faz um
tempo”, diz. A CE 090, em Caucaia, que dá acesso a Icaraí e Cumbuco, é a
estrada mais mortal do Ceará.
Dados da Polícia Rodoviária
Estadual (PRE) de 2011 mostram que, em números absolutos, a CE 060, que
passa por Redenção e vai até o Cariri, é a que apresenta o maior número
de acidentes fatais: 49. Todavia, em números proporcionais (de acordo
com a extensão da estrada), é a CE 090 a que mais mata. A cada 2,78 km,
uma morte é registrada na rodovia. Foram sete em 19,5 quilômetros. A 060
ocupa o sexto lugar, com um acidente fatal a cada 11,9 km, já que a via
tem 583,1 quilômetros. Quem segue a CE 090 é a 040, que é rota de
acesso às praias do litoral leste do Estado. Em 139,1 km, foram 28
acidentes fatais - uma morte a cada 4,96 quilômetros.
Em
números absolutos, a CE 085 fica em segundo lugar no ranking de mortes.
Foram 37 acidentes fatais distribuídos em 394,8 km. A cada 10,6 km, uma
morte. Proporcionalmente, a via está em quinto lugar em mortalidade. Ao
percorrê-la, é possível encontrar várias referências a vidas que se
perderam no asfalto. Em um dos pontos, duas cruzes juntas chamam atenção
de quem passa. O comerciante Paulo Roberto Lima, 31, conta que um
motociclista e o passageiro se acidentaram após ultrapassagem indevida
de uma caminhonete. Foi em 27 de outubro de 2011. “As pessoas andam
muito velozes aqui. A estrada é estreita e, com muito carro, complica.”
Para
o tenente-coronel Túlio Studart, comandante da PRE, órgão responsável
pelas vias estaduais, o principal motivo é a associação entre o grande
fluxo de veículos e a falha humana. “Todas essas vias que lideram têm um
fluxo alto de veículos”, explicou. Por dia, circulam, em média, 50 mil
veículos pela CE 090 e outros 90 mil pela CE 040. Na CE 060, são 40 mil;
na 085, 55 mil.
Nos fins de semana e feriados, o fluxo
aumenta nas vias que dão acesso às cidades litorâneas e às serras.
Analisando os casos, Túlio Studart verifica que a maioria dos
condutores, antes do acidente, cometeu infração de trânsito, como
excesso de velocidade e ultrapassagens em local proibido. Ou estava sob
efeito de álcool ou outras drogas. O comandante da PRE aponta ainda a
imprudência do motociclista.
Em junho último, O POVO mostrou
que foram eles que mais morreram nas vias do Ceará. Em dez anos,
aumentou em 194,9% o número de motociclistas mortos no trânsito. “Muitos
não têm habilitação. E, principalmente no Interior, é comum não usar
capacete.” Para tentar coibir os acidentes mortais, o tenente-coronel
fala em fiscalização, mas também que é preciso conscientizar. “São 12
mil quilômetros de rodovias estaduais. É humanamente impossível chegar
em todas elas”.
No Interior, segundo a PRE, são cerca de 22
blitze por dia, em parceria com o Departamento Estadual de Trânsito
(Detran-CE). Na Capital e Região Metropolitana são 10 blitze, sempre em
horários alternados. O foco é no retorno das praias e das festas. Além
disso, há 23 postos fixos da PRE nas rodovias e presença de fiscalização
eletrônica.
Por meio da assessoria de imprensa, o Detran-CE
informou que instalou 360 equipamentos, além dos radares móveis, ao
longo dos quase seis mil quilômetros de rodovias estaduais pavimentadas.
“Caso não existissem, o número de acidentes seria muito maior”,
registra a nota.
ENTENDA A NOTÍCIA
Durante
o ano de 2011, 379 pessoas morreram em CEs. Foram registrados 325
acidentes fatais. O POVO aponta hoje quais as estradas mais mortais do
Estado. Mostra o que tem sido feito pelo poder público para evitar
acidentes fatais e o que os motoristas podem fazer para reduzir o risco
de mortes
Dirija com segurança nas estradas
Realize, com frequência, a revisão do veículo e cheque os equipamentos obrigatórios, como estepe e extintor de incêndio.
Todos devem usar cinto de segurança no carro.
Prefira dirigir durante o dia.
Observe o limite de velocidade e os locais em que a ultrapassagem é permitida.
Bebida alcoólica e direção não combinam. Portanto, se for dirigir, não beba.
Só conduza motocicleta com os equipamentos de segurança e se tiver Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Como agir em acidentes?
Sem vítimas
Mantenha a calma e entre em contato com os órgãos competentes.
No caso das rodovias estaduais, é a PRE. Ligue para 190 ou (85) 3433 7010/ (85) 8707 7024.
Se não for possível retirar o veículo - atitude exigida pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB) - sinalize o local.
Deixar o pisca-alerta ligado também é importante para evitar outro acidente.
Com vítimas
Repita os mesmos procedimentos do acidente sem vítimas. Mas, antes de chamar qualquer outro órgão, ligue para o Samu, no 192.
Ninguém pode se omitir de prestar socorro às vítimas de acidente de trânsito.
Reclamações sobre estrutura das estradas: (85) 3101-5731 (Ouvidoria - DER)
Saiba mais
Estrutura
O
POVO percorreu algumas estradas. Na CE 085, por exemplo, a população
reclamou que a via é muito estreita para todo o fluxo que recebe.
De
acordo com o diretor de engenharia rodoviária do Departamento Estadual
de Rodovias (DER), a dimensão e a estrutura da estrada dependem do
fluxo.
Ele afirmou que, por isso, a CE 085 vai passar por obra de duplicação.
Ele
informou também que as vias estaduais têm contrato de manutenção
permanente. O POVO solicitou as condições atuais de cada uma das
estradas apontadas na matéria.
Em nota, por meio da
assessoria de imprensa, o DER assinalou que “as rodovias estaduais estão
em boas condições de trafegabilidade”.