O cenário é paradisíaco: uma lagoa extensa, de cor azul turquesa, cercada por vegetação verde a perder de vista. Após ter imagens viralizadas nas redes sociais, o corpo d’água ganhou nome: “Jericaucaia”, uma mistura de Jericoacoara, conhecida pelas águas cristalinas, e Caucaia, município da Região Metropolitana de Fortaleza onde a nova “Lagoa Azul” fica localizada.
Nos últimos dois meses, o local passou a ser frequentado de forma intensa, principalmente pelos caucaienses, atraindo inclusive comerciantes, que começaram a instalar barracas para venda de bebidas e alimentos. O problema é que a “Lagoa Azul” fica dentro de uma propriedade privada, e teve o acesso de terceiros proibido pelos proprietários.
O empresário Allan Arruda, 47, cujo pai é dono do terreno onde fica o corpo d’água, afirma que a ocupação do espaço começou com poucas pessoas, mas tomou, nas últimas semanas, uma proporção maior.
“Quando vimos, tava uma lotação. As pessoas quebraram cerca, fizeram barraca dentro, invadiram. Restauramos as cercas e vamos colocar sinalizações de proibição”, narra.
Além da sujeira no local, outra preocupação do empresário e da família é sobre a segurança dos banhistas. “Para abrir uma área de banho é preciso autorização, presença de salva-vidas. E lá é muito fundo, tem cerca de 5 metros. Estamos vendo a hora acontecer uma tragédia”, lamenta.
O terreno pertence ao pai de Allan há cerca de 60 anos, e sedia, além de uma empresa de mineração, uma casa de uso da família. A área onde se formou a “lagoa azul” é recente: era um barreiro (área de extração de barro, geralmente para obras), e foi completamente cheia após fortes chuvas.
Futuro balneário
Os proprietários já entraram em contato com alguns dos comerciantes que instalaram barracas na área, solicitando a retirada das estruturas, e também com o responsável pela criação de um perfil no Instagram que promovia o local e já contava com cerca de 5 mil seguidores.
Essas atividades, porém, devem ser retomadas – agora por iniciativa dos próprios donos do terreno, que pretendem transformar o local em um equipamento de lazer.
“Sempre soubemos que quando abrisse ia bombar, mas tínhamos outras coisas pra resolver e ainda veio a pandemia. Temos, sim, planos de abrir, creio que lá pro ano que vem. Pra obter as licenças e fazer tudo legalizado não é rápido”, reconhece Allan.
A família estuda ainda um meio mais rápido de aproveitar o potencial do local. “Já tem empresas grandes entrando em contato pra ver se a gente arrenda o espaço, pra fazer um balneário, um parque aquático, um clube. Pode ser que a gente faça isso também”, considera o empresário.
Qualidade da água
O azul intenso das águas, que chama atenção pela semelhança com o “Buraco Azul” de Jericoacoara, é explicado por Jeovah Meireles, doutor em Geografia e professor dos Programas de Pós-Graduação em Geografia e em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema) da Universidade Federal do Ceará (UFC).
“A cor azul é proveniente do reflexo da luz solar, já que a água em estado líquido absorve todas as cores e reflete o azul. Quando a água tem essa cor azulada, significa que tem boa qualidade, porque tem pouco material em suspensão, não tem bactérias para absorver a cor”, detalha.
O professor salienta, contudo, que a continuidade das atividades e o aumento do número de banhistas por lá pode acabar com a característica principal da lagoa. “Se essa água azul começar a receber muitos banhistas, o pessoal fizer xixi, tiver restaurantes ao redor, vai surgir um aumento de nutrientes. Do xixi, nitrogênio, potássio, cálcio, amônia, magnésio. Da cozinha, muitos compostos orgânicos já contaminados, e se disseminam na água. E ela pode se tornar verde, desde o claro ao fechado, ficando mais densa e suja”, conclui o geógrafo.
dn