Fortaleza. Números de óbitos de humanos por leishmaniose visceral, popularmente conhecida como calazar, no Ceará, têm preocupado gestores da saúde e médicos veterinários. Até o momento, a Secretaria de Saúde do Estado (Sesa) já notificou 249 casos da doença e 22 óbitos de pessoas. Conforme dados da Secretaria, a doença encontra-se pulverizada em várias regiões. Os Municípios de Ararendá, Brejo Santo, Caucaia, Croatá, Forquilha, Granja, Ipueiras, Maracanaú, Missão Velha, Nova Russas, Pacajus, Pacatuba, Sobral e Tejuçuoca registraram uma morte, cada. E na Capital, foram oito óbitos. No ano de 2010, 581 pessoas foram infectadas e 25 morreram devido à doença.
Algumas ações são adotadas pelos Municípios para diminuir a incidência da doença entre animais e seres humanos: a eliminação de reservatórios dos mosquitos transmissores; captação de cães contaminados para exames de comprovação laboratorial e eutanásia.
Polêmica
Porém, a eutanásia dos animais doentes como forma de controle da doença é tema polêmico entre veterinários. No Brasil, foi formada a Associação Brasileisch, que defende o tratamento do calazar em animais, por acreditar na possibilidade de cura. A entidade segue parâmetros da própria Organização Mundial de Saúde (OMS), que aponta o sacrifício de cães somente nos casos extremos, quando o animal não pode ser tratado. Nos dias 29 e 30 de outubro, a entidade realizará em Belo Horizonte (MG), simpósio internacional que reunirá principais pesquisadores mundiais em calazar. A meta é definir políticas de saúde pública efetivas no combate à doença.
Tratamento
No Ceará, a maioria dos veterinários não trata o animal doente. Apenas uma minoria realiza o procedimento, porém, seguindo as regras éticas para o setor. Uma delas é não utilizar medicamentos humanos no cão.
Uma portaria interministerial, publicada em 11 de julho de 2008, proíbe o tratamento de leishmaniose visceral canina com produtos de uso humano ou não registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A prática é adotada por alguns profissionais. O documento considera, dentre vários decretos nacionais e internacionais, informes da Organização Pan-Americana da Saúde (OPS) e Organização Mundial da Saúde (OMS). A proibição visa, dentre outras ações, diminuir o risco à saúde humana.
O Centro de Zoonoses de Sobral confirma, este ano, duas mortes em humanos de 34 pessoas infectadas pela doença e o sacrifício de mais de 130 dos 3,3 mil cães examinados. A Secretaria Municipal de Saúde orienta a população a facilitar a entrega dos animais infectados, pois ele é o principal hospedeiro do vetor que transmite a doença. O Bairro Terrenos Novos, devido ao desmatamento, é onde se verifica o maior número de casos de calazar na cidade. O veterinário Roger Cavalcante destaca ainda o agravante de Sobral ser cercada de boqueirões, pois isso facilita a transmissão da doença para cães e pessoas.
Nos nove primeiros meses do ano de 2011, o Centro de Epidemiologia do Crato já registrou seis casos de calazar em humanos sem nenhum óbito. Ano passado, conforme a coordenadora do Centro, a enfermeira Lídia Guedes, foram oito casos em humanos, mas também sem o registro de morte. Profissionais do Centro presumem que o número de humanos infectados poderá ultrapassar o de 2010 até o fim deste ano, devido à intensificação do trabalho de combate ao mosquito transmissor, que é de responsabilidade do Centro de Zoonoses do Município. "Essa observação é por conta da maior quantidade de animais apreendidos até o momento", declarou, sem revelar a quantidade de animais já detectados com calazar no Município. O Centro de Zoonoses não informou dados relativos ao número de cães apreendidos.
Em Juazeiro do Norte, cabe a Vigilância Sanitária o controle sobre o número de animais infectados pela doença. Até o fechamento desta edição, o coordenador do órgão, Paulo Sérgio Carvalho, não havia repassado os dados sobre o número de pessoas infectadas nos últimos dois anos. Mas conforme o veterinário Ueldo Gonçalves, a apreensão de animais é periódica. A carrocinha vai às residências para apreensão.