O senador Tasso Jereissati afirmou que essa CPI é uma das mais importantes da história do Brasil, pois se trata de uma investigação de algo que está resultando em mais de 430 mil mortes no País. “Estamos com cerca de 2,5 mil óbitos por dia. Se formos fazer comparação, é como se todo dia tivéssemos um acidente fatal de mais de dez boeings, todo dia, caindo no Brasil. Sabendo que amanhã teremos mais nove, dez, boeings caindo novamente. É uma tragédia. E a gente se acostuma com esses números gigantescos, e só começa a sentir a gravidade disso quando começamos a ver gente próxima precisando de um leito, sendo intubado ou até indo a óbito”, analisou.
O parlamentar explicou as razões principais da “CPI da Covid”, como analisar as ações, omissões e erros que fizeram o Brasil chegar ao trágico momento atual da pandemia; havendo a possibilidade até de ajudar, daqui para frente, a diminuir os erros ou consertar as omissões dos investigados.
Para Tasso, a gravidade da pandemia foi subestimada, “quando o Governo Federal a considerou uma gripezinha, sem maior importância”. “Em função disso, não se deu a necessária atenção, urgência e importância a que essa pandemia gravíssima, que só seria contornada ou mitigada com três elementos principais: a vacina, não comprada na hora certa e estamos pagando um preço muito caro por isso hoje; distanciamento social; e o uso de máscaras. O Governo Federal tem, desde o início da pandemia, insistido em provocar e estimular aglomerações e o não uso de máscaras”, apontou o senador, afirmando que tais fatos estão sendo comprovados na CPI.
O parlamentar esclareceu também de que maneira a Comissão pode contribuir na prática, e quais as consequências para o presidente Jair Bolsonaro, tendo em vista que alguns fatos investigados dizem respeito às as declarações do chefe do Executivo. Segundo Tasso, a CPI tem um efeito jurídico forte. O relatório final é enviado ao Ministério Público apontando determinados crimes que possam ter sido cometidos, no âmbito federal, estadual ou municipal.
Tasso Jereissati caracterizou como “cinismo” a falta de verdade do ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, em trechos de seu depoimento na Comissão de investigação, na última quarta-feira (12/05). De acordo com ele, a intenção de nenhum senador é prender alguém, no entanto, houve irritação dos parlamentares com o depoimento de Wajngarten. “Não gerou uma prisão por intervenção do presidente da CPI, mas causou uma desmoralização e uma depreciação da imagem desse rapaz, maior que a própria prisão”, relatou.
Para Tasso, depois do presidente da República, o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello é o grande responsável pela situação atual da pandemia no Brasil. “Não saberia dizer com tanta convicção se foi o presidente quem estimulou todos os erros do ex-ministro (da Saúde) e do Ernesto Araújo (ex-ministro das Relações Exteriores) ou se ele fez o que ele disse um dia: ‘ele manda e eu obedeço’, simplesmente assim”. analisou.
O deputado Heitor Férrer (SD) indagou o senador se a CPI pode contribuir de alguma forma para que a vacinação avance com mais agilidade no Brasil. Segundo Tasso Jereissati, só de anunciar a instalação da CPI, o Governo já mudou os ministros da Saúde e o das Relações Exteriores. “Hoje temos um médico no comando da Saúde, que sabe o que é o SUS, sabe o que é uma pandemia. Já temos estímulos na TV para incentivar as pessoas a usar máscara, manter o distanciamento, mesmo que o presidente contrarie essas recomendações”, observou.
Para Tasso, a principal medida de enfrentamento à Covid-19 seria ter consciência da gravidade da pandemia quando ela surgiu, ter levado mais a sério o problema e reconhecido a necessidade de urgência para reduzir o impacto.
Tasso Jereissati analisou que no Brasil não há credibilidade na política econômica do Governo, sobretudo pelo desencontro com as informações do enfrentamento à doença no País e a falta de perspectivas sólidas sobre a imunização da população. Segundo ele, é importante que o Executivo tenha um plano econômico rápido para uma retomada da economia pós pandemia.
Quanto as eleições do próximo ano, Tasso Jereissati afirmou que nos últimos dez ou quinze anos, nunca passou pela sua cabeça a ideia de ser presidente da República. No entanto, ele analisou que o país está vivendo “circunstâncias de ter que escolher entre Bolsonaro e Lula daqui pra frente”.
Tasso alertou ainda que repetir a polarização política no Brasil trará grandes prejuízos à população. Para ele, os brasileiros “ficam no meio de um tiroteio de ódio” e se faz necessário que políticos que não estejam inseridos “nessas linhas de radicalização” e se unam para poder ter chance, em nome do País, de chagar ao segundo turno. Sobre uma possível chapa sua com Ciro Gomes, Tasso afirmou ter admiração pelo ex-ministro e disse acreditar que fizeram uma “linda história no Ceará juntos”. No entanto não vê viabilidade para que ocorra uma aliança.
O Conexão Assembleia entrevistou também o senador Eduardo Girão. O parlamentar afirmou que a CPI se concebeu como um “palanque político antecipando o calendário eleitoral do ano que vem” e lamentou que, mesmo com a tentativa de incluir estados e municípios, há uma dificuldade de os colegas aceitarem. Segundo ele, isso seria importante para que viesse à tona toda a verdade e não apenas uma parte dela. “É isso que a gente quer: investigar o Governo Federal sim - eu assino todos os requerimentos para investigar Pazuello e todos os agentes públicos federais -, mas também, a gente sabe, foram bilhões de reais enviados a estados e municípios e tivemos 61 operações só da Polícia Federal e a gente precisa olhar pra isso também”, enfatizou.
O senador classificou os interrogatórios da CPI como uma “sessão de tortura, um tribunal de inquisição”. Para ele, o relator do Colegiado, senador Renan Calheiros (MDB-AL), tem interesses próprios, tendo em vista ser pai de um governador de estado.
O parlamentar criticou o fato de, segundo ele, membros da comissão serem presidenciáveis para o pleito do próximo ano e afirmou que a CPI não tem o apoio da população. “A popularidade dessa CPI está derretendo nas ruas. E eu digo isso porque eu ando nas ruas. É o que a população tem dito: ‘que CPI é essa?’, ‘que parcialidade é aquela’”, relatou.
Eduardo Girão explicou sobre informações veiculadas na mídia nacional que alegam influência do Governo Federal para que fosse solicitada a investigação de estados e municípios, como forma de ser uma tentativa de tirar o foco de si. De acordo com ele, requerimento de sua autoria visa investigar o uso das verbas públicas federais que foram destinados pela União. O documento foi protocolado no dia 02 de março, antes de áudio vazado do presidente Bolsonaro que tratava do tema. “Eu não tenho nenhum tipo de compromisso com o presidente da República no aspecto de fazer jogo com o Governo Federal. Um exemplo disso é que não tenho nenhum cargo na administração pública federal”, disse.
O parlamentar criticou a polarização política que se faz, principalmente quando se toma como parâmetro o presidente e afirmou ser um senador independente. Girão afirmou também ser contra muitas atitudes do Governo Federal no enfrentamento da pandemia. “Eu discordo desse comportamento do presidente de fazer aglomerações, de não usar máscaras, mas a gente precisa ser justo e perceber que, até agora, a gente não conseguiu ver nessa CPI nada que desabonasse na questão da corrupção”, pontuou.
Ele defendeu o tratamento preventivo, profilático, imediato ou precoce que “tem resultados em muitas cidades”. Eduardo Girão afirmou que a média de mortes por milhão, em muitas cidades que adotaram isso, é bem menor do que nas que não adotaram, como Fortaleza. “A gente precisa olhar para isso sem um pré-julgamento. Vamos ouvir a ciência, pois ela está dividida. Se ela está dividida vamos ouvir os dois lados”, recomendou.
O parlamentar revelou ainda fazer uso de Ivermectina para a prevenção da Covid-19 por orientação médica. “Fui para campanha eleitoral, rodo aqui no Senado Federal, tomo ela junto com vitaminas, o zinco, vitamina D, e graças a Deus, estou poupado”, sugeriu. O senador ponderou, no entanto, fazer sua parte com o uso de máscara, ser a favor da vacinação e higienização constante das mãos com álcool em gel.
A entrevista está disponível na íntegra no YouTube da TV Assembleia e Facebook da Assembleia Legislativa.
O Conexão Assembleia é uma produção multiplataforma da rádio FM Assembleia. O programa vai ao ar todas as segundas-feiras, sempre às 8h. Tem apresentação de Kézya Diniz. Produção de Layanna Vasconcelos e Tarciana Campos. Direção de Vídeo de Rodrigo Lima. Finalização de Áudio de Nabucodonosor Queiroz. Coordenação de programação e áudio de Ronaldo César. O Gerente Geral da Rádio FM Assembleia é Rafael Luis Azevedo.
GS/LF
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