segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Invasão do mar preocupa população

Situada na Caucaia e a 20 Km de Fortaleza, a praia do Icaraí já figurou entre as principais praias do Estado. Na região, ainda dá para observar pelos inúmeros condomínios e casas de veraneio o potencial turístico do lugar. Nos últimos anos, no entanto, a erosão marítima vem criando no litoral do Icaraí um novo cenário.
 A invasão do mar preocupa a população, já devastou parte da faixa da praia e ameaça condomínios e comércios. A comunidade lamenta a morosidade de medidas que não sejam apenas emergenciais. Um dos principais condomínios da região, o Morada do Sol Nascente, vem usando recursos próprios para preservar o muro de contenção que fica na parte de trás do residencial. Ao todo, foram empregados mais de R$ 40 mil para evitar a destruição do condomínio.
 A Prefeitura de Caucaia admite que hoje um dos maiores problemas do município é a invasão do mar nas suas praias. A erosão, conforme o vice-prefeito, Paulo Guerra, continua quebrando “tudo que encontra pela frente”.
 Para resolver a situação, Guerra pede providências rápidas do governo federal. Ele espera pela liberação de recursos para que sejam feitos os devidos reparos de curto e de longo prazo. “É preciso como primeira providência fazer uma parede para evitar o avanço do mar, mas, posteriormente, fazer espigões com engorda artificial, que serão a solução definitiva. Vamos pedir ao novo governador, Camilo Santana, que ele se engaje nessa questão para conseguir em Brasília, através do Governo Federal, os recursos necessários para a obra”, afirma o vice-prefeito.

RECURSOS
Na avaliação de Paulo Guerra, Caucaia vai precisar de no mínimo R$ 100 milhões para o projeto completo de contenção. De acordo com ele, um projeto reduzido consumiria, ainda, de R$ 30 a R$ 35 milhões.  “Os projetos reduzido e completo já estão prontos para ser colocados em prática, porém, falta o dinheiro que até o momento não existe, porque a Prefeitura não tem reserva”, admite Guerra.

ABANDONO
Roseli Braz, 47, é proprietária de barraca há 10 anos no Icaraí. Ela lembra que ficou encantada ao chegar na região. O movimento era intenso, muitas famílias escolhiam a praia como opção de férias. O fluxo de pessoas nas barracas agradava os comerciantes. No entanto, a realidade mudou com o avanço da erosão marítima.
 “Nos feriados, passavam bem mais de 800 pessoas pela barraca. Hoje, sobram até mesas. As famílias chegam, olham a situação, avaliam os riscos para as crianças, que teriam de descer as pedras para alcançar o mar, e logo vão embora. Antes, podíamos oferecer caranguejo, lagosta. Agora, só podemos oferecer bolinhas de peixe e batatinhas fritas. É preciso que o poder público olhe para a gente. Se não tiver uma solução, todo mundo vai perder suas casas e seus comércios. Tem lugar aqui que está a palmos do mar”, relata a comerciante.
 O casal de Senador Pompeu, Isabel Alencar e Lucas Pereira, afirmou que frequenta a praia apenas por uma questão de proximidade, mas que preferia ir a outro lugar. “Essa praia está perigosa e nem para tomar banho de mar dar mais”, pondera Isabel.
 DESVALORIZAÇÃO
Outro efeito causado pela invasão do mar é a desvalorização imobiliária. O aposentado Francisco Rocha, 60, tem um apartamento bem perto do mar. O preço do imóvel atualmente é bem abaixo do valor que ele comprou há dois anos. Apesar da desvalorização, Rocha insiste que vai continuar com o apartamento, na expectativa de que uma solução eficaz seja encontrada. “Comprei o apartamento há dois anos por R$ 100 mil e hoje ele está custando entre R$ 50 a R$ 60 mil. Mas, não tenho interesse em vender. Gosto desse lugar e foi um patrimônio que adquiri com muita dificuldade. Prefiro esperar e ver o que vão fazer para melhorar a situação que está.  Apenas peço a proteção divina. Se não melhorar, prefiro que o mar leve”, afirma o aposentado.
 Francisco Rocha é de Sobral, porém, sempre está na praia, acompanhando o avanço do mar e as medidas que são tomadas pelo poder público. “Foi pedido um espigão, mas até agora nada. O que fazem são esses paredões que é só um paliativo. Ao meu ver um gasto de dinheiro, pois todos sabem que não resolvem”, avalia.
 Segundo Roseli Braz, a situação é tão grave para uma parte da região, que nem financiamento da Caixa Econômica é permitido. “Da avenida principal para baixo é só decomposição. Da avenida para cima, desvalorização. Para se ter uma ideia, a minha filha foi à Caixa Econômica para comprar um imóvel. Da avenida para baixo está cancelado qualquer chance de financiamento, por se tratar de uma área de risco. O banco não financia nada. Minha filha comprou em outro lugar. Um imóvel que valia 150 mil, hoje estão vendendo por 60 ou 70 mil e não tem comprador. As imobiliárias daqui vendem loteamento em outros lugares como Pecém ou Cumbuco. Aqui nada, é como se tivesse fechado para balanço”, analisa Roseli.
SAIBA MAIS
Em setembro do ano passado, o Ministério Público Federal (MPF) discutiu com o vice-prefeito de Caucaia, Paulo Guerra, membros da Secretaria de Infraestrutura (Seinfra), da Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará (Semace), além do líder do Movimento SOS, Icaraí, Alisson Paulineli, a situação do avanço do mar na praia do Icaraí.
 Na ocasião, o MPF recomendou a recuperação da estrutura de concreto (Bag Wall) para conter a força do mar. Os procuradores da República Nilce Cunha e Alessander Sales, em reunião, destacaram que as medidas atenderiam aos anseios da população de Caucaia, que procurou o MPF e informou sobre a precariedade da estrutura instalada na praia do Icaraí.
 Além da obra do Bag Wall, o MPF também sugeriu a elaboração de Licenciamento Ambiental pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para o projeto da Prefeitura de Caucaia de início de obras de contenção do avanço do mar.

SOS ICARAÍ
Por outro lado, a associação formada por surfistas, comerciantes, moradores e barracas da praia em busca da melhoria da praia do Icaraí (SOS Icaraí) denuncia em sua página no Facebook a morosidade das obras de recuperação de 343 metros do Barra Mar Big Bag Wall, iniciada em 9 de setembro e com previsão de término em 120 dias.
 O movimento lembra que apesar do prazo de entrega da obra está prevista para 9 de janeiro, a construção executou apenas cerca de 40% do projeto. “Em janeiro começa as etapas de ondas de três metros, pegando o nosso litoral desprotegido, principalmente, a avenida litorânea. Provavelmente, aumentará os prejuízos que já são incalculáveis”, alerta o SOS Icaraí.
http://www.oestadoce.com.br/

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