domingo, 5 de agosto de 2012

ÍNDIOS NÃO VIVEM NO TERRENO


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Aculturados, os anacés não vivem nem em tribos nem na área em que a Petrobrás quer construir a refinaria. As 161 famílias listadas pelo governo cearense habitam quatro pequenos aglomerados urbanos nas cidades de São Gonçalo do Amarante e Caucaia, na região do porto de Pecém. Eles são, na aparência, pessoas como quaisquer outras da região, marcada pela miscigenação. Não usam vestes indígenas, falam português, desconhecem o linguajar ancestral da etnia e têm nomes e sobrenomes típicos dos brasileiros.
Para reivindicar um novo terreno, alegam que a região guarda resquícios de tradições indígenas e, portanto, a refinaria causará um impacto expressivo no cotidiano deles. A Fundação Nacional do Índio (Funai) não respondeu ao questionário enviado pelo Estado há dez dias. A entidade coordena os contatos entre as lideranças indígenas, o governo e a Petrobrás. Participante das negociações, o coordenador regional da Funai no Ceará, Rio Grande de Norte, Piauí e Paraíba, Paulo Fernandes da Silva, limitou-se a dizer que “os índios moram lá há muito tempo”.
O total de anacés nas localidades de Matões, Japuara, Santa Rosa e do Bolso chega a 650. O líder é Francisco Ferreira de Moraes Júnior, de 31 anos, que não quis dar entrevista. Mas sua mãe, Valdelice Fernandes de Moraes, de 57, conta que os índios mantêm tradições de entoar cânticos e participar de rituais coletivos, como danças.
Para Francisco Célio de Souza, de 52 anos, também líder indígena, o governo errou “ao chegar na região sem nem pedir licença”. “A gente concorda em sair, mas não para uma terra que não seja boa.”
O antropólogo Gerson Augusto de Oliveira Júnior, professor da Universidade Federal do Ceará, conta que os anacés estão no litoral cearense há muitas décadas. “Eles têm direito à terra pois é uma ocupação tradicional. Laudos antropológicos mostram isso.”

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