A polícia apreendeu 4.208 crianças e adolescentes em 2012 no Ceará, segundo dados da Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA)
Em face aos
crescentes números da violência e aos recentes acontecimentos envolvendo
crimes com adolescentes, a sensação de impunidade aumenta a angústia de
quem já passou por momentos de desespero. Uma discussão atual que
instiga nossa sociedade é a possibilidade ou não da mudança do nosso Código Penal
que traria a redução da maioridade penal no Brasil. Para o pesquisador
Élcio Batista, reduzir a maioridade não resolve a violência entre
adolescentes.
A polícia apreendeu 4.208 crianças e adolescentes em 2012,
segundo dados da Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA). A maioria
das infrações envolvendo tais acusados foram roubos – à pessoa e de
veículos – e tráfico de drogas.
Ao todo foram registradas 1.156
ocorrências de roubos à pessoa, 540 de crimes de tráfico de drogas, 534
de portes ilegais de arma, 199 de roubos de veículos, 163 de homicídios, 63 de estupros de vulnerável, 22 de sequestros relâmpago e ainda nove latrocínios.
A favor
Tramitam no Senado Federal três propostas de alteração da maioridade penal no Brasil. Os proponentes são os senadores Clésio Andrade (PMDB/MG), Aloysio Nunes Ferreira (PSDB/SP) e Ivo Cassol (PP/RO).
Em paralelo, a Comissão Especial discute uma alternativa à redução da
maioridade penal, no caso de crimes graves cometidos por menores. Entre
os senadores que analisam a proposta está o cearense Eunício Oliveira (PMDB-CE), favorável à Emenda à Constituição ou que se propõe uma alteração no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
“No Código Penal nós não temos condições
de fazer essa alteração, porque é matéria constitucional. Uns até
defendem que seja cláusula pétrea, eu defendo que não. Diante disso, o
quê que nós podemos fazer? Ou apoiar uma PEC que esteja tramitando ou
fazermos, paralelamente a alteração, muito mais simples, do ECA, nessa
questão das penalidades da forma como deve ser”, disse o senador
cearense e presidente do colegiado, ao crer que assim é possível achar
uma fórmula para endurecer as penas para menores que cometem crimes
graves.
Contra
Em posições contrárias ao senador estão o
coordenador do Laboratório de Estudos sobre a Violência da UFC, César
Barreira, e o sociólogo e titular da Coordenadoria Especial de Políticas
Públicas de Juventude da Prefeitura de Fortaleza, Élcio Batista.
César Barreira se diz contra essa
possível lei, pois acredita que não resolve nada. “a gente simplesmente
transfere esses problemas para outras dimensão” e complementa que “hoje, os jovens estão muito mais vítimas do que agressores”.
Cita também o Ministro da Justiça ao dizer que concorda com o seu
pensamento ao alertar que “basta olhar a situação dos presídios, bem
como as casas de reabilitação, são lugares que provocam muito mais a
criminalidade, sem nenhum tipo de função social ou infra-estrutura para
resolver os problemas dos jovens”.
Élcio Batista compartilha do pensamento
ao afirmar em artigo assinado que “é óbvio e cientificamente
demonstra-do que reduzir a maioridade penal não resolve problema da
criminalidade. Em síntese: se a legislação (leia-se Estado) não faz a
sociedade avançar, portanto façamos a legislação retroceder nos direitos
consagrados. É simples mudar a Lei, difícil mesmo é construir a vida
social à imagem e semelhança desta”.
O titular municipal de Políticas
Públicas de Juventude traz ainda números assombrosos ao falar que o
Brasil possui a terceira população carcerária do mundo, com mais de 540
mil presos. Diz ainda que outros tantos estão soltos esperando
julgamento e, ainda assim, as cadeias estão superlotadas. Opinião que
vai de encontro ao do coordenador da UFC, ao afirmar que “é um sistema
irracional e muito caro, pois cada preso custa entre R$ 1.500 e R$ 2.500.
A maioria esmagadora é de jovens, negros e pobres. Colocar jovens em
penitenciárias desumanas, produtoras de extremo ressentimento social nos
indivíduos, exemplifica nossa incapacidade e insensibilidade para com a
desigualdade que nega oportunidades de desenvolvimento afetivo,
psicológico, físico e profissional a milhões de crianças e adolescentes”
finaliza o sociólogo.
O coordenador da UFC levanta questões
importantes, que é a de trabalhar com políticas reais de recuperação e
desvirtuação dos menores, retirando-os desse vazio que é o crime. “Temos
de dar oportunidades, condições de realização para esses pessoas, como
por exemplo a escola de tempo integral, que não transmita só o
conhecimento, mas que transmita também valores” arremata Barreira.
Entre mandar prender os mais jovens e dar mais educação, qual a solução mais fácil? Educar os jovens pode ser uma solução,
sem dúvida, mais cara e mais difícil de implementar, mas nem sempre o
caminho mais fácil é a melhor escolha. Basta traçar um paralelo com a
criminalidade que nossos jovens estão envolvidos hoje. Tudo que pedimos é
que as crianças não escolham o caminho das drogas e dos crimes, mas
geralmente eles também preferem o caminho mais fácil. Infelizmente.
E você, está de que lado?
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