quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Mulheres de detentos denunciam tortura em presídio de Caucaia.


Cerca de 40 mulheres protestaram em frente à sede da Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado (Sejus), na Aldeota, na manhã de ontem. As mulheres são esposas, mães e irmãs de detentos da unidade prisional Desembargador Francisco Adalberto Barros de Oliveira Leal, conhecida como Carrapicho, em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza. O grupo denuncia que os presos estão em más condições de alojamento, com cerca de 40 homens por cela, e que, desde a última segunda-feira, 25, eles seriam torturados dentro do complexo.

Os internos teriam relatado estas condições durante a visita dos familiares à unidade, no último fim de semana. Crianças, filhos dos detentos, também estavam com as mães durante a manifestação, que durou cerca de duas horas e congestionou o cruzamento das ruas Ildefonso Albano com Tenente Benévolo.

Conforme uma das esposas, os presos estariam sendo submetidos, nus, a banho de sol, com mãos no pescoço — momento em que sofreriam agressões de cassetete nos dedos. Além disso, segundo ela, que pediu para não ser identificada temendo represália, os agentes “estão abusando do spray de pimenta no rosto”. Raspagem forçada de cabelo e a não oferta de comida aos detentos são outras denúncias. “Eles já estão pagando pelos pecados lá dentro. Não precisa disso”, critica uma mãe, que também prefere não se identificar.


Outra mulher mostrou ao O POVO a foto em que um preso aparece nu, de cócoras e de mãos atadas, próximo a uma parede. Ela afirma que se trata do próprio marido e que a foto foi postada em um grupo de policiais no WhatsApp. A esposa não soube informar, entretanto, a data em que a imagem teria sido feita.


Reunião


Após quase uma hora e meia de manifestação, em que as mulheres utilizavam fogos de artifícios e carro de som, Bento Laurindo, supervisor do Núcleo de Assistência aos Familiares dos Internos da Sejus, compareceu ao protesto. Laurindo pediu que o grupo formasse uma comissão para ser ouvida junto à Comissão de Direitos Humanos vinculada a Sejus, à ouvidoria e a representantes do núcleo de serviço social da entidade. “Esses casos são pontuais. Quando elas me apresentarem casos concretos, informando o nome de cada detento, a gente manda fazer exame de corpo de delito. (Vamos) tomar as providências necessárias”, disse. 
 

Em nota, a assessoria de comunicação da pasta confirmou um encontro entre as manifestantes e os representantes da Sejus ainda ontem. “Algumas demandas apontadas (na reunião) já foram solucionadas de imediato, bem como o aviso com antecedência aos familiares daqueles internos que, em decorrência de sanções disciplinares, não receberão visitas nos fins de semana”, informou.

Ainda segundo o comunicado, denúncias de maus-tratos, descarte de comida e obrigatoriedade do corte de cabelo não foram reconhecidas pela pasta. “A Sejus reconhece a superlotação da unidade prisional e vem buscando alternativas para essa questão, como a realização de mutirões carcerários e o incentivo ao tornozelamento eletrônico”, assume. A capacidade da unidade “Carrapicho” é de 600 presos, entretanto, cerca de mil detentos estão no complexo, ocasionando superlotação.


Saiba mais

Na última semana, intervenções realizadas na Unidade Prisional Desembargador Francisco Adalberto Barros de Oliveira Leal, mais conhecida como Carrapicho, resultaram na apreensão de 426 aparelhos celulares. A ação, que marca o início da reforma da prisão após rebeliões de maio, segundo a Sejus, foi da própria pasta, comandada pela Força Integrada Penitenciária de Intervenção (Fipi).


Fonte: O POVO

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