O engenheiro mecânico que fez história na aviação mundial é cearense, nascido na cidade de Camocim
Camocim Antes de ser nome de um aeroporto, foi o homem ousado a atravessar o Oceano Atlântico em um avião. O aviador Euclides Pinto Martins, cearense de Camocim, faz parte da seleta nobreza da aviação mundial. Amanhã, se comemora 120 anos de seu nascimento. Aviadores cearenses farão o céu roncar em homenagem ao filho ilustre do Ceará. É uma forma de reacender o valor do engenheiro mecânico que completou o voo de Nova York para o Rio de Janeiro durante longos cinco meses com sucessivas escalas. Um voo pioneiro que entrou para a história mundial.
O Aeroporto Internacional Pinto Martins leva o nome do aviador cearense, que, embora homenageado, ainda é pouco reconhecido. Quase um século depois do feito, tiveram início as verdadeiras homenagens a quem ao fim da viagem fora recebido pelo então presidente do Brasil, Arthur Bernardes. Em Camocim, onde nasceu, em 15 de abril de 1892, há quatro anos existe um dia voltado a comemorações. Autoridades municipais entenderam que Pinto Martins faz parte da história e também da autoestima do camocinense.
"Quando levantamos voo de Caiena, encontramos forte temporal pela proa. Rompemos o mau tempo com dificuldade, mas tivemos de procurar abrigo. Tomei a direção do aparelho (era copiloto) e depois de reconhecer o Rio Cunani aí descemos às 3h30. O tempo, lá fora, era impetuoso e ameaçador. Não nos foi possível prosseguir e passamos a noite matando mosquitos e com bastante fome, pois não contávamos interromper a rota". Esse é o trecho de depoimento de Pinto Martins a um jornal da região Norte. A viagem inteira começou em novembro de 1922 e a chegada ao Rio de Janeiro deu-se em fevereiro do ano de 1923.
Aprendizado
Em 1909, antes da corajosa viagem, seu pai, Antonio Pinto Martins, o mandou para os Estados Unidos com aproximadamente US$ 300 e a obrigação de estudar e voltar mais "capacitado". Não sabia falar inglês, portanto, a língua seria o primeiro aprendizado. Chegando lá, alguns amigos ajudariam o filho de Antônio a se virar para manter-se no dia a dia e nos estudos. Sem perder tempo e fazendo uso da vontade que carregava, Pinto Martins matriculou-se na Drexell Institute, uma universidade da Filadélfia onde três anos depois se formaria em Engenharia Mecânica. Ali, os seus olhos já brilhavam para os meios de transporte, que cresciam em todo o mundo pós-revolução industrial e que se tornava, literalmente, a locomotiva do crescimento econômico.
Antes de se formar, Pinto Martins trabalhou como estagiário na Baldwin Locomotive, uma fábrica de vagões numa época em que não parava de crescer a instalação de ferrovias. Daí, já se via que o jovem galgava espaços aproveitando oportunidades em tudo que fosse símbolo da modernidade. Era a evolução do homem diante das máquinas. Foi esse sentimento que o impulsionou a fazer as primeiras investidas em prospecção de petróleo no Brasil. Para alguns biógrafos, o investimento no "ouro brasileiro", no que já representava o petróleo, fez de Pinto Martins um alvo da cobiça que teria sido decisiva em seus transtornos que o levariam a tirar a própria vida - antes havia discutido com seu companheiro de viagem Walter Hinton. Pinto Martins morreu em abril de 1924, um ano depois da heroica travessia.
Reconhecimento
Em 2009, Armando Pinto Martins, sobrinho-neto do aviador, escreveu artigo para o Diário do Nordeste destacando que "as novas gerações devem reconhecer que devemos muito aos nossos antepassados. A verdadeira história de Euclides Pinto Martins ainda está para ser contada". Depois de o presidente Café Filho sancionar lei oficializando o nome Pinto Martins para o aeroporto de Fortaleza, em 1952, e da criação do Dia Pinto Martins, em Camocim (2008), a história do aviador passa a ser reescrita. Para muitos, ainda é pouco para quem incentivou o novo. "A glória é breve. Cedo, aos poucos, Pinto Martins voltava ao anonimato. O Brasil não cultiva mesmo os seus heróis", lamentou Raquel de Queiroz, em crônica no jornal O Estado de São Paulo, século passado.
A viagem de Pinto Martins em um hidroavião biplano (pousa na água) foi patrocinada pelo jornal "The New York World", que fazia a tentativa pioneira de uma viagem entre as Américas do Norte e do Sul.
Foi considerada uma "loucura", mas foi concluída. Ao ser recebido pelo presidente Artur Bernardes, recebeu um prêmio de 200 contos de réis. Foi para a Europa, e a volta para o Rio de Janeiro deu-se com as negociações para explorar Petróleo. Há 60 anos, Pinto Martins é diariamente citado pelos milhares de voos que saem do aeroporto de Fortaleza que leva o seu nome.
A homenagem dos aviadores cearenses tem início a partir das 7 horas de amanhã, quando saem de Aquiraz em voo até a cidade natal do aniversariante, Camocim. O retorno está previsto para o fim da tarde.
Mais informações:
Prefeitura Municipal de Camocim
Telefone: (88) 3621.1898
Clube de Aviadores Catuleve
Município de Aquiraz
Telefone: (85) 3361.2233
Sobrevoo sai de Aquiraz até Camocim
Amanhã é o Dia de Pinto Martins neste Município. O mais ilustre filho da cidade é lembrado no seu 120º aniversário. Aviadores de todo o Estado participam da homenagem. Haverá sobrevoo dos aviadores do aeródromo Catuleve, de Aquiraz, que terão participação especial. É o principal clube de aviadores do Ceará. Até hoje levam a vontade de Pinto Martins para os céus. Em Camocim, a Beira Mar será espaço de homenagem a Pinto Martins, com show aéreo do comandante e também sanfoneiro Waldonys.
Sediado em Aquiraz (27 km distante de Fortaleza), o Catuleve é um clube voltado para a aviação desportiva no Ceará. São mais de 70 sócios praticantes dos voos com estruturas que incluem pista com revestimento asfáltico, 40 hangares e um prédio-sede com conforto e segurança para sócios e visitantes. Também há salas de planejamentos de voos, treinamentos relacionados à atividade aeronáutica.
"O grupo está crescendo, tem se tornado referência, e a importância do Pinto Martins é bem representada nessa homenagem", afirma a pilota Fabiana Stolf, do clube Catuleve. O grupo comemora, desde o fim de 2011, o registro da pista do aeródromo. "Muito tijolo foi aqui colocado. Foi um trabalho de formiguinha, até conquistarmos o registro", afirma o sócio-piloto, Sabino Freire.
O evento de comemoração pelo Dia de Pinto Martins é realizado pela Prefeitura Municipal de Camocim por meio da Secretaria Municipal do Turismo. O evento acontecerá durante o dia de domingo e contará com um show aéreo de Waldonys. A cidade de Camocim já está se habituando a prestigiar o seu filho Pinto Martins.
No Estado, também há outros sonhadores como Pinto Martins. José Ribamar de Freitas, um caminhoneiro de Limoeiro do Norte, realizou o sonho de voar construindo o próprio avião. De forma autodidata e fazendo uso de peças de sucata, conseguiu levantar a máquina e torná-la um pássaro de ferro desde 2006. Após a descoberta do cearense pelo Diário do Nordeste, a conquista de Ribamar voou os quatro cantos do País, que hoje o reconhece como "O Santos Dumont do Nordeste".
Quem não construiu avião e mesmo assim viaja no sonho do voo é Francisco Dantas de Oliveira, o "Françulí", da pequena cidade de Potengi, no sertão cearense. Viajou num avião aos 6 anos de idade e nunca mais esqueceu aquele momento. Hoje, aos 70, fez do sonho a réplica de aeromodelos. Em sua casa tem avião, dirigível, balão, ultraleve e pássaros. Tudo pequeno, mas de uma grandeza que só ele sente.
MELQUÍADES JÚNIORREPÓRTER
Camocim Antes de ser nome de um aeroporto, foi o homem ousado a atravessar o Oceano Atlântico em um avião. O aviador Euclides Pinto Martins, cearense de Camocim, faz parte da seleta nobreza da aviação mundial. Amanhã, se comemora 120 anos de seu nascimento. Aviadores cearenses farão o céu roncar em homenagem ao filho ilustre do Ceará. É uma forma de reacender o valor do engenheiro mecânico que completou o voo de Nova York para o Rio de Janeiro durante longos cinco meses com sucessivas escalas. Um voo pioneiro que entrou para a história mundial.
O Aeroporto Internacional Pinto Martins leva o nome do aviador cearense, que, embora homenageado, ainda é pouco reconhecido. Quase um século depois do feito, tiveram início as verdadeiras homenagens a quem ao fim da viagem fora recebido pelo então presidente do Brasil, Arthur Bernardes. Em Camocim, onde nasceu, em 15 de abril de 1892, há quatro anos existe um dia voltado a comemorações. Autoridades municipais entenderam que Pinto Martins faz parte da história e também da autoestima do camocinense.
"Quando levantamos voo de Caiena, encontramos forte temporal pela proa. Rompemos o mau tempo com dificuldade, mas tivemos de procurar abrigo. Tomei a direção do aparelho (era copiloto) e depois de reconhecer o Rio Cunani aí descemos às 3h30. O tempo, lá fora, era impetuoso e ameaçador. Não nos foi possível prosseguir e passamos a noite matando mosquitos e com bastante fome, pois não contávamos interromper a rota". Esse é o trecho de depoimento de Pinto Martins a um jornal da região Norte. A viagem inteira começou em novembro de 1922 e a chegada ao Rio de Janeiro deu-se em fevereiro do ano de 1923.
Aprendizado
Em 1909, antes da corajosa viagem, seu pai, Antonio Pinto Martins, o mandou para os Estados Unidos com aproximadamente US$ 300 e a obrigação de estudar e voltar mais "capacitado". Não sabia falar inglês, portanto, a língua seria o primeiro aprendizado. Chegando lá, alguns amigos ajudariam o filho de Antônio a se virar para manter-se no dia a dia e nos estudos. Sem perder tempo e fazendo uso da vontade que carregava, Pinto Martins matriculou-se na Drexell Institute, uma universidade da Filadélfia onde três anos depois se formaria em Engenharia Mecânica. Ali, os seus olhos já brilhavam para os meios de transporte, que cresciam em todo o mundo pós-revolução industrial e que se tornava, literalmente, a locomotiva do crescimento econômico.
Antes de se formar, Pinto Martins trabalhou como estagiário na Baldwin Locomotive, uma fábrica de vagões numa época em que não parava de crescer a instalação de ferrovias. Daí, já se via que o jovem galgava espaços aproveitando oportunidades em tudo que fosse símbolo da modernidade. Era a evolução do homem diante das máquinas. Foi esse sentimento que o impulsionou a fazer as primeiras investidas em prospecção de petróleo no Brasil. Para alguns biógrafos, o investimento no "ouro brasileiro", no que já representava o petróleo, fez de Pinto Martins um alvo da cobiça que teria sido decisiva em seus transtornos que o levariam a tirar a própria vida - antes havia discutido com seu companheiro de viagem Walter Hinton. Pinto Martins morreu em abril de 1924, um ano depois da heroica travessia.
Reconhecimento
Em 2009, Armando Pinto Martins, sobrinho-neto do aviador, escreveu artigo para o Diário do Nordeste destacando que "as novas gerações devem reconhecer que devemos muito aos nossos antepassados. A verdadeira história de Euclides Pinto Martins ainda está para ser contada". Depois de o presidente Café Filho sancionar lei oficializando o nome Pinto Martins para o aeroporto de Fortaleza, em 1952, e da criação do Dia Pinto Martins, em Camocim (2008), a história do aviador passa a ser reescrita. Para muitos, ainda é pouco para quem incentivou o novo. "A glória é breve. Cedo, aos poucos, Pinto Martins voltava ao anonimato. O Brasil não cultiva mesmo os seus heróis", lamentou Raquel de Queiroz, em crônica no jornal O Estado de São Paulo, século passado.
A viagem de Pinto Martins em um hidroavião biplano (pousa na água) foi patrocinada pelo jornal "The New York World", que fazia a tentativa pioneira de uma viagem entre as Américas do Norte e do Sul.
Foi considerada uma "loucura", mas foi concluída. Ao ser recebido pelo presidente Artur Bernardes, recebeu um prêmio de 200 contos de réis. Foi para a Europa, e a volta para o Rio de Janeiro deu-se com as negociações para explorar Petróleo. Há 60 anos, Pinto Martins é diariamente citado pelos milhares de voos que saem do aeroporto de Fortaleza que leva o seu nome.
A homenagem dos aviadores cearenses tem início a partir das 7 horas de amanhã, quando saem de Aquiraz em voo até a cidade natal do aniversariante, Camocim. O retorno está previsto para o fim da tarde.
Mais informações:
Prefeitura Municipal de Camocim
Telefone: (88) 3621.1898
Clube de Aviadores Catuleve
Município de Aquiraz
Telefone: (85) 3361.2233
Sobrevoo sai de Aquiraz até Camocim
Amanhã é o Dia de Pinto Martins neste Município. O mais ilustre filho da cidade é lembrado no seu 120º aniversário. Aviadores de todo o Estado participam da homenagem. Haverá sobrevoo dos aviadores do aeródromo Catuleve, de Aquiraz, que terão participação especial. É o principal clube de aviadores do Ceará. Até hoje levam a vontade de Pinto Martins para os céus. Em Camocim, a Beira Mar será espaço de homenagem a Pinto Martins, com show aéreo do comandante e também sanfoneiro Waldonys.
Sediado em Aquiraz (27 km distante de Fortaleza), o Catuleve é um clube voltado para a aviação desportiva no Ceará. São mais de 70 sócios praticantes dos voos com estruturas que incluem pista com revestimento asfáltico, 40 hangares e um prédio-sede com conforto e segurança para sócios e visitantes. Também há salas de planejamentos de voos, treinamentos relacionados à atividade aeronáutica.
"O grupo está crescendo, tem se tornado referência, e a importância do Pinto Martins é bem representada nessa homenagem", afirma a pilota Fabiana Stolf, do clube Catuleve. O grupo comemora, desde o fim de 2011, o registro da pista do aeródromo. "Muito tijolo foi aqui colocado. Foi um trabalho de formiguinha, até conquistarmos o registro", afirma o sócio-piloto, Sabino Freire.
O evento de comemoração pelo Dia de Pinto Martins é realizado pela Prefeitura Municipal de Camocim por meio da Secretaria Municipal do Turismo. O evento acontecerá durante o dia de domingo e contará com um show aéreo de Waldonys. A cidade de Camocim já está se habituando a prestigiar o seu filho Pinto Martins.
No Estado, também há outros sonhadores como Pinto Martins. José Ribamar de Freitas, um caminhoneiro de Limoeiro do Norte, realizou o sonho de voar construindo o próprio avião. De forma autodidata e fazendo uso de peças de sucata, conseguiu levantar a máquina e torná-la um pássaro de ferro desde 2006. Após a descoberta do cearense pelo Diário do Nordeste, a conquista de Ribamar voou os quatro cantos do País, que hoje o reconhece como "O Santos Dumont do Nordeste".
Quem não construiu avião e mesmo assim viaja no sonho do voo é Francisco Dantas de Oliveira, o "Françulí", da pequena cidade de Potengi, no sertão cearense. Viajou num avião aos 6 anos de idade e nunca mais esqueceu aquele momento. Hoje, aos 70, fez do sonho a réplica de aeromodelos. Em sua casa tem avião, dirigível, balão, ultraleve e pássaros. Tudo pequeno, mas de uma grandeza que só ele sente.
MELQUÍADES JÚNIORREPÓRTER