A maior procura está voltada para a área de infraestrutura, onde há uma necessidade de 75.275 colocações.
Foto: Waleska Santiago
A demanda de profissionais qualificados
nas empresas do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), no
Ceará, já é maior que a oferta local. E a tendência é de que esta
lacuna aumente rapidamente.
Até 2014, há uma previsão de 297.834
vagas para a região, segundo apontam os dados preliminares do
Planejamento Estratégico para Educação Profissional, estudo elaborado a
pedido da Federação da Indústria do Estado do Ceará (Fiec), e que será
entregue ao governador Cid Gomes ainda este ano.
O documento, elaborado pela empresa
Dialog Educação, Tecnologia e Desenvolvimento, ainda está com os números
sendo fechados, e sua versão final será apresentada no dia 16 de
outubro, durante encontro do Conselho Gestor do Pecém. Ontem, uma versão
preliminar foi mostrada no encontro do Conselho, ocorrido na Secretaria
de Planejamento e Gestão (Seplag).
O estudo foi feito com os dados de seis
empresas do Cipp: Aeris, Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), Energia
Pecém, Petrobras, Hidrostec e Votorantim, não incluindo os projetos
estruturantes de responsabilidade do Governo do Estado. A área de
abrangência atinge um raio de 50 quilômetros do Cipp.
O número apresentado, contudo, não
representa exatamente o número de postos de trabalho, mas vagas em
diferentes qualificações. “Esse número deve ser superior ao de postos de
trabalho, porque um trabalhador pode ocupar mais de uma qualificação”,
explica Sérgio Marcondes, da Dialog.
Infraestrutura requer mais
A maior parte da demanda está voltada
para a área de infraestrutura, na qual foi observada uma necessidade
futura de 75.275 colocações. Neste segmento, já existe, para 2012, uma
lacuna entre demanda e oferta de 10 mil vagas.
No ano que vem, o que será solicitado
pelas empresas e a previsão do que será ofertado localmente gerará um
vácuo de 30 mil vagas. A qualificação mais procurada será a de operador
de equipamentos.
Dez mil só em 2013
No ano que vem, haverá uma demanda de 10
mil vagas, para uma oferta de 1.500 trabalhadores. Os profissionais em
carpintaria também serão bastante disputados, uma vez que, em 2013,
haverá uma demanda de 3.347 carpinteiros, para uma oferta de apenas 347.
O relatório, entre outras questões,
aponta a necessidade de uma instância de governança para permitir um
trabalho conjunto, a ser realizado entre os diversos entes ligados à
capacitação profissional.
Um estudo também preliminar foi
apresentado pelo Sebrae, apontando as oportunidades de negócios que
surgirão (e que já surgem) no Cipp, com o objetivo de permitir o aumento
da participação de empresas locais.
Possibilidades de inserção foram
encontradas nas áreas de serralheria, indústria de base, logística,
material de indústria, comércio lojista, empresas de transportes, hotéis
e pousadas e grandes empreiteiras.
Conselho Gestor
De acordo com o secretário de
Planejamento e Gestão, Eduardo Diogo, a versão consolidada dos dois
estudos será apresentada no próximo dia 16 de outubro, quando será
fechado o Plano Diretor do Pecém, assim como os planos diretores dos
municípios de Caucaia e São Gonçalo do Amarante, nos quais está inserido
o complexo industrial e portuário. ”Na reunião, será apresentada como
vai haver a integração dos planos diretores do Pecém e das prefeituras”,
explica.
“Nós, do Conselho Gestor do Pecém, nos
reunimos com o governador no dia 31 de maio passado, quando apresentamos
27 entraves que levantamos com relação ao Cipp. O governador deu
encaminhamentos acerca de cada um, e determinou três eixos pra se
trabalhar: territorial, capacitação e das oportunidades de negócios. Os
resultados serão fechados na próxima reunião, e então conversarei com
Cid Gomes para marcar a apresentação de tudo. Daí, vão ser tiradas as
políticas públicas para a região”, explica.
Padronização
Um dos resultados das reunião é a
geração de um procedimento padronizado de todas as interfaces em relação
aos órgãos que atuam no Cipp.
Ou seja, quando uma empresa buscar, na
Adece (Agência de Desenvolvimento Econômico do Estado), instalar-se no
Pecém, já terá um formulário padrão de todas as informações que os
órgãos e prefeituras irão exigir para sua implantação, reduzindo a
burocracia e agilizando o processo.
Após as eleições, o governador irá
assinar o decreto que define os 30 integrantes do Conselho Gestor do
Pecém e escolherá as cinco pessoas que formarão a Unidade Gestora do
Pecém, órgão responsável pela execução das ações para o complexo.
Déficit
30 mil vagas é o vácuo que será gerado
em 2013 devido ao que será solicitado pelas empresas e à previsão do que
será ofertado localmente. A maior procura será de operador de
equipamentos
Foto: KID JÚNIOR
50 mil para construir CSP e refinaria
Evidenciada por diversas entidades desde
quando o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) teve seus
primeiros empreendimentos anunciados, a qualificação de mão de obra dos
cearenses teve mais uma vez a sua importância citada ontem durante
reunião do Pacto pelo Pecém, quando o Instituto Centec revelou a
necessidade de 50 mil profissionais somente para a etapa de construção
dos dois maiores projetos do Estado: a siderúrgica e a refinaria.
No entanto, surpreendendo o grupo de
acadêmicos convocados pela comissão da Assembleia Legislativa, a demanda
por todo esse pessoal não é de mão de obra técnica ou superior, mas dos
profissionais oriundos dos cursos mais básicos.
“São os cursos de formação inicial
continuada, que têm entre 160 horas e 400 horas”, explicou o coordenador
da divisão de projetos do Centec, Onias Moreira Júnior.
Segundo ele, atualmente, esse tipo de
função corresponde a soldadores, carpinteiros de forma e pedreiros e
demais profissionais da área de construção civil – os quais podem ter
apenas o ensino fundamental. Todos são alocados, principalmente, na fase
de instalação dos empreendimentos, nas obras físicas.
“Hoje, o Ceará não teria profissionais
para atender essa demanda, mas, como a terraplanagem da Companhia
Siderúrgica do Pecém terminou recentemente e a Premium II ainda não
possui data de início confirmada, deveremos conseguir formar um bom
quadro”, argumentou.
CTTC deve reforçar
Para isso, Onias destaca o Centro de
Treinamento Técnico do Ceará (CTTC), o qual, segundo ele, deve entrar em
funcionamento no início do próximo ano. O equipamento, de
responsabilidade da Secretaria de Ciência Tecnologia e Educação Superior
(Secitece), teve a data de inauguração adiada duas vezes neste ano e
ainda está com o processo de compra de equipamento em andamento.
Ao todo, foram investidos para a
construção e a aquisição dos equipamentos do CTTC cerca de R$ 28,3
milhões e tem a expectativa de treinar cerca de 12 mil pessoas por ano
nos chamados cursos de formação inicial continuada nas áreas de
construção civil, eletromecânica e petroquímica.
Outra preocupação que perpassou todos os
centros envolvidos deve-se ao pós-construção e ao destino da mão de
obra empregada. Com o funcionamento, o tipo de profissional demanda muda
e cai drasticamente.
Para isso, a solução apontada por
diversos representantes, como o diretor do Centro de Ciências
Tecnológicas da Universidade de Fortaleza (Unifor), Almeida Júnior, foi o
investimento na formação de profissionais de olho nos perfis demandados
pelas empresas, além da formação continuada.
Na mesma perspectiva, o diretor do
campus do Instituto Federal do Ceará (IFCE), Rodrigo Freitas, defende o
aperfeiçoamento dos profissionais desde os cursos básicos até o superior
como alternativa para garantir o emprego deles e qualificação dos
cearenses no mercado.
“Boa parte desses profissionais serão
descartados e se conseguirmos qualificar esses profissionais, vamos
aumentar a oportunidade de eles terem um emprego”, afirmou.
Informação é gargalo
Defendendo uma atenção para os impactos
sobre as comunidades e grupos étnicos da região do Cipp, o professor da
Universidade Federal do Ceará, Jeová Meireles, atentou para o reflexo
disso no futuro, o que poderá reverter o desenvolvimento econômico
vislumbrado pelo Estado.
Na última reunião do Pacto pelo Pecém,
ele pediu mais informações sobre os empreendimentos em funcionamento e
previstos para chegar ao complexo como forma de medir e planejar a
contribuição da academia no grupo.
Depois de nove reuniões com atores
distintos do Cipp, o grupo coordenado pelo Conselho de Altos Estudos da
AL-CE deve compilar todos os documentos e voltar a se reunir até o fim
do ano.
Fonte: O Diário do Nordeste, Por Sérgio de Sousa e Armando de Oliveira Lima