Cogerh avalia que o nível hídrico está seguro por quatro anos, porém, sedes de Municípios já estão sem águaFortaleza
A Bacia Metropolitana está com apenas 45% dos recursos hídricos de sua
capacidade total. Em igual período do ano passado, armazenava 86%. Na
Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), apenas sete dos 19 açudes que
compõem a bacia registram volume superior a 50%. Os outros 12 estão
abaixo desse percentual, dentre eles os açudes Pacoti (30,98%), em
Horizonte, Cauhipe (48,67%), em Caucaia, Acarape do Meio
(38,02%),
em Redenção, e Pompeu Sobrinho (24,37%), reservatório localizado na
cidade de Choró, que possui o menor nível dentre todos da bacia.
O agricultor Valdenir de Sousa, que não tem caixa -d´água, reclama da situação Fotos: Lucas de MenezesOs
dados são da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), que,
em parceria com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
(Dnocs), monitora 139 açudes no Ceará. No início deste ano, a Bacia
Metropolitana estava com volume total de 62%.
Baixo volumeO
abastecimento da região metropolitana também recebe o reforço dos
açudes Castanhão, localizado em Alto Santo, e Banabuiú, reservatório que
fica na cidade de mesmo nome, por intermédio do sistema hídrico do
Eixão das Águas. O Açude Castanhão está com nível de 62%, e o Banabuiú
62%. Outros 40 açudes apresentam volume abaixo de 30%: Carmina (16%), na
cidade de Catunda; Jerimum (12%), em Irauçuba; Jatobá (21%),
reservatório de Milhã; Madeiro (8%), situado em Pereiro; Broco(9%), na
cidade de Tauá; e Souza (16%), reservatório de Canindé.
Segundo a
Cogerh, de janeiro a setembro deste ano, a quantidade acumulada no
Estado caiu cerca de 12%. No início de 2012, o volume era de 70,96%.
Hoje, é de 58%, aproximadamente.
O órgão reforça que, apesar da
seca que atinge o Estado, o volume acumulado nos reservatórios cearenses
é de 10,6 bilhões de metros cúbicos, o que representa 58,38% da
capacidade total do Ceará.
Segurança hídricaTécnicos
da Cogerh acreditam que a situação dos açudes monitorados e os
investimentos realizados pelo Governo do Estado, nos últimos anos,
garantem a segurança hídrica necessária ao consumo humano, industrial e
de outros usos, como é o caso do Eixão das Águas.
De acordo com o
assessor da presidência da Cogerh, Yuri Castro de Oliveira, o
abastecimento da região metropolitana está garantido, mesmo que o
inverno seja irregular pelos próximos quatro anos.
Ele explica
que isso acontece porque todos os açudes que abastecem a região
metropolitana são integrados à Bacia do Jaguaribe (Castanhão, Banabuiú e
Orós) por meio do Eixão das Águas e também do Canal do Trabalhador.
"Em
último caso, a região metropolitana poderá ser abastecida até mesmo
pelo Açude Orós, que está com volume de 82%", destaca o assessor.
Yuri
de Oliveira lembra que, até o fim deste ano, outras três bombas
propulsoras serão instaladas para empurrar, por gravidade, mais água do
Açude Castanhão em direção a Fortaleza. Paralelamente, o Trecho V do
Eixão será duplicado para o Complexo Portuário do Pecém.
Mesmo
com a segurança hídrica na região metropolitana, moradores de cidades
como Itaitinga e Maranguape, por exemplo, reclamam do abastecimento
irregular. Há água, mas não existe a garantia de que ela chegue
diariamente a todas as residências. Até mesmo as áreas urbanas que não
sofriam com esse problema estão sendo prejudicadas.
O que se
percebe é que os serviços de abastecimento prestados pela Companhia de
Água e Esgoto (Cagece) não vêm acompanhando o crescimento populacional.
Com relação a esse impasse, Yuri de Oliveira lembra que são necessários
mais investimentos para que a água seja distribuída para toda a
população, inclusive, nas chamadas comunidades difusas, aquelas que
vivem em localidades distantes e que se abastecem de pequenos
reservatórios.
"Essas pessoas, na maioria das vezes, contam
apenas com fontes não muito seguras, como pequenos açudes e poços. Mas, a
água está lá, em plena disposição. Se não está sendo tratada e
distribuída é uma questão interna da Cagece", fala o assessor.
Falta d´água é constante em Itaitinga
Itaitinga
A falta d´água é um problema que já faz parte do cotidiano da população
deste Município, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Mas, o
abastecimento irregular, que se restringia às localidades mais
distantes, vem se agravando e atingindo também o Centro da cidade. As
torneiras chegam a ficar vazias por, pelo menos, três vezes durante a
semana. Os moradores que não têm caixa-d´água são os mais prejudicados.
Por
conta do abastecimento irregular da cidade e da incerteza de água nas
torneiras, diversos moradores de Itaitinga, como a dona de casa Núbia
Jacó da Silva, precisam encher baldes para realizar as atividades
domésticasO vigilante Wellington Alves de Lima, 37, mora na
Rua Irineu Araújo Barros e conta que, há cerca de 15 dias, foi à
Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) para saber o por que da
situação. "Um funcionário me disse que isso acontece porque o motor que
abastece a cidade não consegue mais atender a população toda", declara.
AlternativasSegundo
Wellington, é necessário procurar alternativas para não ficar sem água,
como deixar sempre alguns baldes cheios antes de sair para trabalhar,
já que não possui caixa.
Mesmo assim, há ocasiões em que não é
possível realizar o serviço, devido à correria do dia a dia. "Uma vez,
eu e minha esposa chegamos do trabalho, à noite, e não tinha um pingo
d´água na torneira. Então a gente foi quebrar a cabeça para poder
conseguir tomar banho e fazer a comida", afirma.
O problema não
afeta apenas as pessoas que não têm caixa- d´água. Sílvio Marinho
Ferreira Lima, 32, também trabalha como vigilante e habita na Rua
Ambrósio Lopes de Oliveira.
Conforme o morador, na semana
passada, o abastecimento foi suspenso por duas vezes. "Minha casa tem
caixa, mas, mesmo assim, a gente ficou no prego. Se não fosse uma
cacimba lá perto da minha rua, o jeito era esperar pela boa vontade da
Cagece. Em todo lugar da cidade que a gente anda, a queixa dos moradores
é a mesma".
A reclamação também é geral na Rua Amélia de Sousa. A
dona de casa Bertolina Maria da Silva lembra que esse impasse em
Itaitinga é antigo, pois, há cerca de quatro anos, moradores de outras
localidades da cidade, como Parque Genezaré, Vila Machado, Angorá,
Parque Santo Antônio e Riachão, por exemplo, fizeram um abaixo assinado e
levaram à Cagece.
"Nada foi feito. A falta d´água nesses locais está pior. Agora, não escapa mais nem os moradores do Centro", reclama.
Efeitos da secaO
agricultor Valdenir de Sousa Oliveira diz que, por conta da seca que
atinge o Ceará, é possível notar que suspensão no abastecimento é mais
frequente neste ano, em relação a igual período de 2011. Ele, que também
possui um mercadinho para complementar a renda de casa, fala das
dificuldades que vem enfrentando em seu trabalho devido à ausência de
chuva.
"Não são só os produtores do Interior que sofrem com essa
seca. Para piorar ainda mais a situação, a gente tem que conviver com
esse problema constante da falta d´água nas torneiras. A Cagece só
promete, mas não resolve a situação, infelizmente", reclama o
agricultor.
Com relação à falta d´água em Itaitinga, a Cagece
informa que está providenciando a compra de duas novas bombas para a
captação de água no Canal do Trabalhador, com o objetivo de adequar a
quantidade de água tratada ao crescimento populacional da cidade. O
órgão, no entanto, não deu prazo para que o problema seja solucionado.
RAONE SARAIVAREPÓRTER