quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Caucaia: Bacia da RMF tem apenas 45% da reserva total

Cogerh avalia que o nível hídrico está seguro por quatro anos, porém, sedes de Municípios já estão sem água
Fortaleza A Bacia Metropolitana está com apenas 45% dos recursos hídricos de sua capacidade total. Em igual período do ano passado, armazenava 86%. Na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), apenas sete dos 19 açudes que compõem a bacia registram volume superior a 50%. Os outros 12 estão abaixo desse percentual, dentre eles os açudes Pacoti (30,98%), em Horizonte, Cauhipe (48,67%), em Caucaia, Acarape do Meio
(38,02%), em Redenção, e Pompeu Sobrinho (24,37%), reservatório localizado na cidade de Choró, que possui o menor nível dentre todos da bacia.

O agricultor Valdenir de Sousa, que não tem caixa -d´água, reclama da situação Fotos: Lucas de Menezes


Os dados são da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), que, em parceria com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), monitora 139 açudes no Ceará. No início deste ano, a Bacia Metropolitana estava com volume total de 62%.

Baixo volume
O abastecimento da região metropolitana também recebe o reforço dos açudes Castanhão, localizado em Alto Santo, e Banabuiú, reservatório que fica na cidade de mesmo nome, por intermédio do sistema hídrico do Eixão das Águas. O Açude Castanhão está com nível de 62%, e o Banabuiú 62%. Outros 40 açudes apresentam volume abaixo de 30%: Carmina (16%), na cidade de Catunda; Jerimum (12%), em Irauçuba; Jatobá (21%), reservatório de Milhã; Madeiro (8%), situado em Pereiro; Broco(9%), na cidade de Tauá; e Souza (16%), reservatório de Canindé.

Segundo a Cogerh, de janeiro a setembro deste ano, a quantidade acumulada no Estado caiu cerca de 12%. No início de 2012, o volume era de 70,96%. Hoje, é de 58%, aproximadamente.

O órgão reforça que, apesar da seca que atinge o Estado, o volume acumulado nos reservatórios cearenses é de 10,6 bilhões de metros cúbicos, o que representa 58,38% da capacidade total do Ceará.

Segurança hídrica
Técnicos da Cogerh acreditam que a situação dos açudes monitorados e os investimentos realizados pelo Governo do Estado, nos últimos anos, garantem a segurança hídrica necessária ao consumo humano, industrial e de outros usos, como é o caso do Eixão das Águas.

De acordo com o assessor da presidência da Cogerh, Yuri Castro de Oliveira, o abastecimento da região metropolitana está garantido, mesmo que o inverno seja irregular pelos próximos quatro anos.

Ele explica que isso acontece porque todos os açudes que abastecem a região metropolitana são integrados à Bacia do Jaguaribe (Castanhão, Banabuiú e Orós) por meio do Eixão das Águas e também do Canal do Trabalhador.

"Em último caso, a região metropolitana poderá ser abastecida até mesmo pelo Açude Orós, que está com volume de 82%", destaca o assessor.

Yuri de Oliveira lembra que, até o fim deste ano, outras três bombas propulsoras serão instaladas para empurrar, por gravidade, mais água do Açude Castanhão em direção a Fortaleza. Paralelamente, o Trecho V do Eixão será duplicado para o Complexo Portuário do Pecém.

Mesmo com a segurança hídrica na região metropolitana, moradores de cidades como Itaitinga e Maranguape, por exemplo, reclamam do abastecimento irregular. Há água, mas não existe a garantia de que ela chegue diariamente a todas as residências. Até mesmo as áreas urbanas que não sofriam com esse problema estão sendo prejudicadas.

O que se percebe é que os serviços de abastecimento prestados pela Companhia de Água e Esgoto (Cagece) não vêm acompanhando o crescimento populacional. Com relação a esse impasse, Yuri de Oliveira lembra que são necessários mais investimentos para que a água seja distribuída para toda a população, inclusive, nas chamadas comunidades difusas, aquelas que vivem em localidades distantes e que se abastecem de pequenos reservatórios.

"Essas pessoas, na maioria das vezes, contam apenas com fontes não muito seguras, como pequenos açudes e poços. Mas, a água está lá, em plena disposição. Se não está sendo tratada e distribuída é uma questão interna da Cagece", fala o assessor.

Falta d´água é constante em Itaitinga
Itaitinga A falta d´água é um problema que já faz parte do cotidiano da população deste Município, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Mas, o abastecimento irregular, que se restringia às localidades mais distantes, vem se agravando e atingindo também o Centro da cidade. As torneiras chegam a ficar vazias por, pelo menos, três vezes durante a semana. Os moradores que não têm caixa-d´água são os mais prejudicados.

Por conta do abastecimento irregular da cidade e da incerteza de água nas torneiras, diversos moradores de Itaitinga, como a dona de casa Núbia Jacó da Silva, precisam encher baldes para realizar as atividades domésticas
O vigilante Wellington Alves de Lima, 37, mora na Rua Irineu Araújo Barros e conta que, há cerca de 15 dias, foi à Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) para saber o por que da situação. "Um funcionário me disse que isso acontece porque o motor que abastece a cidade não consegue mais atender a população toda", declara.

Alternativas
Segundo Wellington, é necessário procurar alternativas para não ficar sem água, como deixar sempre alguns baldes cheios antes de sair para trabalhar, já que não possui caixa.

Mesmo assim, há ocasiões em que não é possível realizar o serviço, devido à correria do dia a dia. "Uma vez, eu e minha esposa chegamos do trabalho, à noite, e não tinha um pingo d´água na torneira. Então a gente foi quebrar a cabeça para poder conseguir tomar banho e fazer a comida", afirma.

O problema não afeta apenas as pessoas que não têm caixa- d´água. Sílvio Marinho Ferreira Lima, 32, também trabalha como vigilante e habita na Rua Ambrósio Lopes de Oliveira.

Conforme o morador, na semana passada, o abastecimento foi suspenso por duas vezes. "Minha casa tem caixa, mas, mesmo assim, a gente ficou no prego. Se não fosse uma cacimba lá perto da minha rua, o jeito era esperar pela boa vontade da Cagece. Em todo lugar da cidade que a gente anda, a queixa dos moradores é a mesma".

A reclamação também é geral na Rua Amélia de Sousa. A dona de casa Bertolina Maria da Silva lembra que esse impasse em Itaitinga é antigo, pois, há cerca de quatro anos, moradores de outras localidades da cidade, como Parque Genezaré, Vila Machado, Angorá, Parque Santo Antônio e Riachão, por exemplo, fizeram um abaixo assinado e levaram à Cagece.

"Nada foi feito. A falta d´água nesses locais está pior. Agora, não escapa mais nem os moradores do Centro", reclama.

Efeitos da seca
O agricultor Valdenir de Sousa Oliveira diz que, por conta da seca que atinge o Ceará, é possível notar que suspensão no abastecimento é mais frequente neste ano, em relação a igual período de 2011. Ele, que também possui um mercadinho para complementar a renda de casa, fala das dificuldades que vem enfrentando em seu trabalho devido à ausência de chuva.

"Não são só os produtores do Interior que sofrem com essa seca. Para piorar ainda mais a situação, a gente tem que conviver com esse problema constante da falta d´água nas torneiras. A Cagece só promete, mas não resolve a situação, infelizmente", reclama o agricultor.

Com relação à falta d´água em Itaitinga, a Cagece informa que está providenciando a compra de duas novas bombas para a captação de água no Canal do Trabalhador, com o objetivo de adequar a quantidade de água tratada ao crescimento populacional da cidade. O órgão, no entanto, não deu prazo para que o problema seja solucionado.

RAONE SARAIVAREPÓRTER

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