Ao todo, o governo federal projeta investir, por meio do plano, R$ 7,3 bilhões para 270 aeroportos do País
A integração do Nordeste pela via aérea ainda é um grande gargalo logístico da região. Viajar de Fortaleza a outras capitais nordestinas, como João Pessoa e Aracaju, por exemplo, pode durar mais de dez horas, pela escassez de voos diretos. Se a intenção for viajar pelo interior, torna-se ainda mais complicado. Contudo, o governo federal promete investimentos nessa área e, por meio do Plano de Aviação Regional, projeta R$ 7,3 bilhões para 270 aeroportos no País, sendo R$ 363 milhões deste bolo para o Ceará, beneficiando nove terminais aéreos.
Inaugurado em agosto passado, o aeroporto de Aracati já licita ampliação. FOTO: KID JÚNIOR
A melhoria na infraestrutura aeroportuária no Interior e a atração de novas empresas para o Nordeste é um pleito antigo dos estados nordestinos, mas só no fim ano passado o governo federal lançou o plano, que deve, ao fim de 2013, concluir a licitação de reformas em 50 aeroportos. Além das reformas e da construção de novos terminais, o plano também pretende conceder subsídios a empresas aéreas que voarem para essas cidades interioranas.
Dos R$ 7,3 bilhões do plano, R$ 2,1 bilhões estão destinados ao Nordeste, que terá 64 aeroportos incluídos na primeira fase do programa. O Ceará, juntamente com Pernambuco, ocupa a terceira posição em número de terminais, ficando atrás da Bahia, com 20, e do Maranhão, com 11. Já quanto ao volume de recursos, só perde para a Bahia, que terá R$ 548,0 milhões. No Ceará, estão incluídos, entre construção e reforma, aeroportos de Juazeiro do Norte, Itapipoca, Aracati, Jijoca de Jericoacoara, Sobral, Canindé, Quixadá, Crateús e Iguatu.
De acordo com informações da Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinfra), o Ceará conta hoje com 12 aeroportos administrados pelo Departamento Estadual de Rodovias (DER) e, em breve, serão construídos mais dois, nos municípios de Canindé e Itapipoca. A Seinfra acrescentou ainda que serão restaurados e ampliados quatro aeroportos, localizados em Crateús, Quixadá, Limoeiro do Norte e Campos Sales.
Aracati e Jericoacoara
Inaugurado em agosto de 2012 e, até agora, operando somente com voos executivos, sem nenhum linha comercial, o Aeroporto de Aracati encontra-se com seu processo de ampliação em licitação. O terminal será expandido para servir como alternativa ao Aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza, durante a Copa do Mundo de 2014.
Já quanto ao de Jericoacoara, a construção se encontra com a pista de pouso e decolagem e pátio prontos. Estão em execução, no momento, o terminal de passageiros e a sessão contra incêndio, com previsão de entrega no primeiro semestre de 2014.
Necessidade
Os dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) provam que os investimentos em aviação regional são realmente necessários. No ano passado, apenas 122 cidades brasileiras (dos 5.570 municípios do País) foram atendidas por voos regulares, número este que, inversamente à demanda, vem reduzindo ao longo dos anos. Em 2011, o número incluía outras 10 cidades e, em 2000, chegava a 172 cidades.
Os aumentos dos custos da aviação nos últimos anos geraram, por consequência, a redução no número de companhias aéreas, e as líderes foram investindo em aeronaves maiores, grandes demais para operar no interior e focando, portanto, em grandes metrópoles. Resultado: viajar por dentro do Nordeste tornou-se cada vez mais difícil.
"Falta uma regulamentação do sistema aeroviário brasileiro. As empresas estão se concentrando em linhas trancais, e não há uma capilaridade, uma irrigação regional. É preciso mais estrutura dos aeroportos regionais e linhas regionais que se complementem com as trancais", critica o presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Estado, Roberto Smith. (SS)
Frutas dependem mais de rodovias
O Ceará é atualmente o maior exportador de frutas do Nordeste e o segundo do Brasil, sendo a qualidade das vias fundamental para que a atividade continue sendo uma das mais rentáveis à economia local. Por isso, a prioridade do Estado em relação ao transporte de frutas é, sobretudo, a melhoria do transporte rodoviário federal, para que as cargas cheguem com mais rapidez ao Porto do Pecém, conforme destaca o presidente em exercício da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faec), Paulo Hélder de Alencar Braga.
Em termos de custo e agilidade, as rodovias são a melhor opção para o transporte do produto no CE, tendo em vista a sua perecibilidade FOTO: MELQUÍADES JÚNIOR
Ele toma como base um estudo feito pelo diretor da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Ramos Torres de Melo Filho, para dizer que, em termos de custo e agilidade, as rodovias são o melhor caminho para o transporte de frutas no Ceará, tendo em vista a perecibilidade dos produtos. "As distâncias são relativamente pequenas em todas as áreas de plantio de frutas abaixo de 600 quilômetros", afirma.
Questionado se um aeroporto no Porto do Pecém, por onde sai a maioria das frutas do Estado, seria uma forma de otimizar a logística dos produtos, Braga destaca que a construção do terminal se justificaria mais para atender à demanda de exportação de flores, setor em que o Ceará ocupa a primeira posição do ranking nacional, bem como de outras mercadorias de baixo peso e menor perecibilidade.
"Contudo, a Faec e a CNA entendem que o Estado do Ceará deve continuar lutando pela conclusão da ferrovia Transnordestina, considerando que o equipamento dará o necessário suporte ao polo siderúrgico e petrolífero do Pecém", ressalta Braga.
Depósitos
Para ele, o aprimoramento da logística do Porto do Pecém também está relacionada à construção de novos depósitos para o recebimento de grão, principalmente o milho. Paulo Braga entende que esses depósitos ajudariam a atender às necessidades dos pecuaristas. Por conta da seca que atinge o Estado há cerca de dois anos, os produtores rurais enfrentam dificuldades para receber o produto pelas rodovias. "Neste ano, o governador Cid Gomes resolveu instalar um galpão lá, o que ajudou bastante e, até então, não havia sido pensado", diz. (SS)
Região do Pecém terá duas opções para terminal
O Governo do Estado deverá receber no mês que vem os relatórios da empresa americana Louis Berger, que realiza os estudos para a instalação de um aeroporto de cargas e passageiros na região do Pecém. O empreendimento, que é pensado pelo governo através de uma Parceria Público-Privada (PPP), entretanto, ficará como projeto para o próximo governo, não tendo aportes previstos para o próximo e último ano da atual gestão.
O relatório terá duas opções de localização dentro da região do Pecém, de forma a não haver conflito com o Aeroporto Internacional Pinto Martins, explica o presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Estado (Adece), Roberto Smith. O estudo apresentará ainda a viabilidade econômica do empreendimento e seu prazo para retorno do investimento.
A construção de um aeroporto no Pecém é uma ideia antiga, com articulações que remontam há cinco anos, quando se pensava em um terminal apenas para transporte aéreo de cargas. Hoje, o projeto não só prevê a movimentação de passageiros, como também projeta ser o principal aeroporto para os voos internacionais do Estado. A Berger foi contratada pela Adece em 2012 para elaborar o documento, e fez uma parceria com uma empresa de consultoria de Recife.
Conforme Smith, a ideia é que o aeroporto funcione por meio de uma PPP, com um investimento privado e retorno financeiro pela concessão da operação do terminal. "Hoje, grande parte do transporte de carga ocorre com o aproveitamento das aeronaves de passageiros, e o Aeroporto Pinto Martins já sofre com alta demanda. Além disso, houve a permissividade de construções de habitações ao redor do terminal, o que compromete sua expansão", diz. (SS)
DN