Se por um lado o Brasil tem uma posição geográfica privilegiada que o livra de terremotos e tsunamis, por outro lado a localização das usinas nucleares de Angra 1 e 2 em uma estreita faixa entre o oceano e a montanhosa e instável Serra do Mar, no litoral sul do Estado do Rio de Janeiro, é o principal motivo de preocupação de autoridades e especialistas.
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A principal via de acesso a Angra dos Reis é a rodovia Rio-Santos (BR-101), uma estrada sinuosa, com pistas irregulares e estreitas, pontos sem iluminação e que sofre quedas de barreira que causam interdições frequentes.
A Rio-Santos, de responsabilidade do governo federal, foi duplicada entre Santa Cruz, na zona oeste do Rio, e Itacuruçá, em Mangaratiba, na região metropolitana do Rio. Mas, o trecho mais próximo da serra, onde a estrada é mais sinuosa, é possível contar neste mês ao menos oito pontos com obras de contenção devido a quedas de barreira. Nesses locais, o motorista é obrigado a parar ou a reduzir a velocidade.
O ambientalista Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de energias renováveis do Greenpeace no Brasil, questiona a viabilidade de se retirar a população da área por terra em caso de uma tragédia nuclear.
- Quem já foi pra região de Angra, Paraty e arredores sabe da precariedade dessa rota. Mesmo sem qualquer acidente nuclear, só com o excesso de chuvas e deslizamentos, a gente tem ali uma situação completamente caótica.
O plano de emergência prevê que, em caso de acidente, a população que vive em um raio de 3 km a 5 km seja retirada. Em casos extremos, considerados remotos pela Eletronuclear, estatal responsável pelas usinas, a comunidade que reside até 15 km do complexo teria que sair, o que envolve 45 mil pessoas.
O plano de emergência para evacuar a região reúne Corpo de Bombeiros, Ministério da Defesa, além dos governos e da Eletronuclear.
Queda de barreiras
Segundo a Defesa Civil do município de Angra, todo o processo para a saída das pessoas levaria em torno de uma hora. A população é orientada a seguir para pontos de encontro preestabelecidos, onde haveria ônibus à sua espera. E, caso a fuga por terra não seja possível, a Marinha dispõe de embarcações para o resgate pela costa de Angra, para a retirada pelo mar.
O coronel Jerri Andrade Pires, superintendente operacional da Defesa Civil do Rio – responsável pela coordenação do plano de emergência de Angra –, rebate as críticas contra a Rio-Santos e diz que a estrada foi reformada.
- Realmente, a Rio-Santos tinha problemas, mas há dez anos. Ela não é ruim, ela estava ruim. Mas aí o governo federal, por meio do Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes], e a própria Eletronuclear fizeram um recapeamento do local, que foi todo recuperado e sinalizado.
Pires admite que não há como evitar queda de barreiras na estrada, mas diz que a limpeza e a liberação da pista é feita com rapidez. Ele nega que isso comprometa o plano. O coordenador de Comunicação e Segurança da Eletronuclear, José Manuel Diaz Francisco, também cita como outra opção a rodovia estadual RJ-155, uma estrada auxiliar utilizada quando a Rio-Santos tem interdições.
Outra falha apontada por especialistas é a ausência de um grande aeroporto na cidade, que possui apenas um terminal com capacidade para aviões de pequeno e médio portes, como aponta o ex-prefeito de Angra dos Reis (2001 a 2008) e deputado federal, Fernando Jordão (PMDB-RJ).
- O que tem lá é uma brincadeira. Temos duas usinas, a caminho da terceira, e não temos um aeroporto decente em Angra que possa receber técnicos, retirar pessoas com helicópteros e aviões grandes.
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