domingo, 26 de janeiro de 2014

Curso desperta reflexões e vivência com a cultura negra de Caucaia


Nesta terça-feira (21), teve início o mini-curso “Africanidades Caucaienses” no Quilombo Cercadão. O evento é uma parceria do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sindsep) de Caucaia com a Universidade Federal do Ceará (UFC), por meio do Núcleo Africanidades Caucaienses (Nace). No primeiro dia do curso, os participantes tiveram contato com os elementos da cultura africana e afro-brasileira, como a comida e a religião.

Segundo Sandra Petit, doutora em Educação pela UFC e uma das palestrantes, o curso tem a ideia de sensibilizar as pessoas para a importância do estudo da história e cultura africana e afro-brasileira, por meio de reflexões e vivência que despertem a vontade de saber mais. “A relevância do assunto ainda não está evidente para muitos. Na nossa formação escolar e universitária, aprendemos apenas a matriz europeia”, destacou Petit.

E essa carência do contato com os elementos da cultura africana e afro-brasileira torna negativa a imagem do negro para as crianças brancas e autoimagem da criança negra. Gerenilde Costa e Silva, doutora em Educação pela UFC e palestrante do curso, lembra que o racismo ainda existe dentro das unidades escolares. “As crianças não assumem sua negritude; elas desejam ser brancas, pois a visão que têm é que negro é feio, é escravo, e ela não tem como sozinha se libertar disso. Muitas vezes, as famílias estão nesse processo racista. Logo, a escola, enquanto instrumento social, deve participar para mudar”, orientou.

Mas mudança não se dará somente por livros. Para Sandra Petit, apesar de importante, o ensino da cultura africana e afro-descendente deve estar aliado às vivências. “Mudar é difícil, pois falta motivação. É preciso contato com a cultura, e é isso o que estamos tentando fazer aqui: trazer significância da cultura africana para as pessoas que estão participando do curso”.

Quilombola

A história do Quilombo Cercadão surgiu há 314 anos. Três negros, dois homens e uma mulher, fugiram de um navio negreiro, que aportou na Barra do Ceará na época, e se instalaram no espaço que hoje é o quilombo. Construíram seus abrigos e foram acolhendo mais e mais pessoas sem abrigos. Hoje, o quilombo possui 150 famílias e 809 habitantes.

Essa história foi contada pelo pai de Maria dos Prazeres Campos, 47, agricultora e uma das moradoras descendentes dos primeiros africanos que formaram a comunidade. Ela falou que a comunidade preserva muitos traços da cultura africana, como os curandeiros, as parteiras, a umbanda, e o uso de plantas medicinais.

Vivência

Em contato com a vida dos quilombolas, os participantes do curso elogiaram a vivência. “Achei linda a comunidade, muito acolhedora. No curso, as palestrantes despertaram onde estava a questão negra em nossa vida, como as brincadeiras, as questões religiosas”, elogiou Marineuma da Silva, 43, professora da Escola Nedi Edson Queiroz.

Ana Maria Maciel, 39, coordenadora pedagógica da Escola Edgard Vieira Guerra, também avaliou de forma positiva a experiência. “Esse tema aguçou minha curiosidade. Temos que passá-lo para que os professores possam trabalhá-lo em sala de aula. Acredito que a falta de informação dos educadores é o que faz com que o conteúdo não entre na sala de aula”, observou.

Livro

O mini-curso também deu oportunidade para que os participantes tivessem contato com o conteúdo abordado no livro Africanidades Caucaienses, no qual pesquisadores escreveram artigos sobre o tema, como o preconceito com as crianças do terreiro, a formação quilombola, os aspectos religiosos de religiões de matriz africana,a  identidade quilombola, africanidades nas brincadeiras de ontem e de hoje etc.

Maria Eliene, dirigente do Sindsep e co-autora do livro, informou que a publicação vai chegar às escolas e as pessoas não iriam ter entendimento do como se deu o trabalho das pesquisas que estão no livro. Por isso, a importância do mini-curso. “Esse curso é um passo inicial. vamos ter outros, tanto na formação, como na diversidade. O Sindicato não visa somente à referência da remuneração do professor, mas também na sua formação”, disse Eliene.

 http://www.sindsep.com.br/

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