quarta-feira, 7 de abril de 2021

Número de mortes por Covid-19 em 2021 no Ceará é cinco vezes maior que o de homicídios

 


O número de mortes por Covid-19 no Ceará entre 1º de janeiro e 29 de março de 2021 extrapola em mais de cinco vezes o acumulado de homicídios no Estado no mesmo período. De assassinatos, segundo a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), foram 779, número que está decrescendo a cada mês. Já de óbitos pela infecção, conforme o IntegraSUS, da Secretaria da Saúde (Sesa), foram 4.003 registros, e a tendência é aumentar.

Pelos registros, o Estado saiu de um acumulado de 541 mortes por Covid-19 em janeiro para 1.020 em fevereiro e 2.442 em março, até o dia 29. Já os homicídios, incluídos nas estatísticas de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLI), saíram de 306 em janeiro para 250 em fevereiro e 223 também até o mesmo período.

Em matéria divulgada no último mês de março pelo Diário do Nordeste, relacionando CVLIs aos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) de Fortaleza, foi observado que bairros com os menores IDHs foram os que apresentaram números mais elevados de homicídios em 2020.

Óbitos e IDH

Com a Covid-19 também é possível estabelecer relação direta entre óbitos e IDH. Segundo o boletim epidemiológico divulgado no último dia 26 de março pela Secretaria da Saúde de Fortaleza (SMS), os maiores acumulados de mortes desde o início da pandemia foram nos bairros Barra do Ceará (160), Mondubim (147), José Walter (136) e Vila Velha (135). De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esses bairros têm IDHs de 0,19, 0,23, 0,40 e 0,27, respectivamente. Índices considerados altos são acima de 0,8.

O sociólogo Adriano Almeida acompanha as estatísticas de violência urbana e da Covid-19 nos territórios periféricos da Capital. Segundo ele, que é conselheiro do Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza e associado ao Ponto de Memória e ao Comitê Popular de Enfrentamento à Covid-19 do Grande Bom Jardim, embora os dados deste ano apresentem tendência de redução, os CVLIs têm aumentado ao longo da pandemia, bem como a infecção tem se mostrado cada vez mais letal em bairros de baixo IDH como os do Grande Bom Jardim. 

Estamos vivendo duas epidemias simultaneamente. Aprendemos a naturalizar os CVLIs e, agora, estamos aprendendo a naturalizar as mortes por Covid-19”
Adriano Almeida
Sociólogo

Como prováveis causas para a alta dos óbitos pelo novo coronavírus nesses espaços, Adriano cita ausência do Estado com aporte de serviços públicos, baixa escolaridade dos habitantes e duas tendências negacionistas, sendo uma de ordem sociocultural e a outra fundamentalista.

Por isso, o sociólogo acredita ser essencial que o poder público trace estratégias de enfrentamento à Covid-19 diferenciadas em cada bairro. “A política pública, num contexto de pandemia, precisa se atentar para o conceito de que a cidade é desigual. Isso é básico”, diz.

Em constante diálogo com pastas governamentais, o representante comunitário cita conquistas importantes recentes, como a descentralização dos pontos de vacina contra a Covid-19 e a busca ativa por estudantes da rede pública e seus familiares com pendências vacinais e de cadastro em programas sociais do Governo.

Mover do grupo de risco

Mesmo não sendo possível comparar estatisticamente os óbitos por Covid-19 com os homicídios, a epidemiologista e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Caroline Gurgel, concorda que a pobreza é um denominador comum entre os dois eventos.

Contudo, a especialista defende que esse fator pode ser movido para tirar a população dos territórios periféricos da mira da mortalidade pela pandemia.

“As pessoas que têm menos condição nutricional, que vivem num ambiente com menor IDH, são mais vulneráveis não somente à Covid como, também, a vários outros eventos em saúde. Você pode dar a essas pessoas o suficiente para que elas saiam dessa característica: um alimento adequado, uma água potável, uma renda pra que consigam se manter em casa, no distanciamento social. Tem outros meios de remover essa população do grupo de risco. Diferentemente da condição de ser idoso, de ter uma comorbidade”, analisa Caroline.

DN

 

 

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