Gabi posa com sua coleção de troféus. FOTO: LUCAS DE MENEZES
Gabi ‘Neymar’. Guarde bem este nome, pois em breve, poderá ser um dos mais badalados no mundo do futebol feminino. Vencendo o preconceito por ser mulher e adorar jogar futebol, a pequena cearense de 19 anos brilha nos gramados do Estado e chega àSeleção Brasileira Sub-20.
Artilheira do Caucaia na Copa do Brasil. Campeã cearense com aRaposa da Região Metropolitana. Cobiçada por clubes do sul/sudeste e até do exterior, Gabi brilha e chama a atenção pela simplicidade e pelotalento com a bola nos pés. “Gosto de jogar. E hoje tenho meu sonho realizado”, diz, segura no sonho que persegue e contente por poder representar o Brasil na Seleção.
Gabi tem 19 anos mas já fala como gente grande. Ela conta que sofreu preconceito pelo fato de ser mulher e gostar de jogar futebol. “Eu chegava pra minha mãe e dizia: ‘mãe, estão me chamando de…”, faz uma pausa, lembrando dos adjetivos nada agradáveis que recebeu. Em seguida, emenda: “Me chamando disso, daquilo… Mas não vou desistir, porque gosto de jogar. E hoje tenho meu sonho realizado, de chegar à Seleção Brasileira”, enfatiza, frisando que não liga para as piadinhas de mal gosto que escuta.
Comparada a Neymar, a meia da Seleção se acha mais parecida com Kaká, do Milan. FOTO: LUCAS DE MENEZES
Jogando com os meninos
A jovem revelação cearense começou a dar os primeiros chutes aos 7 anos, jogando nas ruas do bairro São João do Tauape, em Fortaleza. Vendo o pai jogar, surgiu o interesse. A garotinha jogava com os meninos e, por isso, não contava com o apoio da mãe coruja, a vendedora Regina Célia. “No começo, ela jogava com os meninos e eu não queria. Ela saía escondida. Mas aí um domingo eu fui assistir e disse: ‘Olha aí, a Gabi, no meio dos meninos!’. Mas ela disse : ‘mamãe, é meu gosto’. Aí eu aceitei”, relembra.
Gabi começou no futsal, onde aprendeu a arte do drible curto que deixa as defensoras enlouquecidas. Mas foi nos gramados de Santa Catarina que ganhou o apelido de ‘Neymar’.
Gabi encanta catarinenses e ganha nome de craque
A meia atacante recebeu um convite e foi jogar no Kindermann, de Santa Catarina. O time joga tanto salão quanto futebol de campo. “A gente estava jogando futsal, e eu correndo demais, pra um lado e pro outro e fazendo gol. Daí a gente foi jogar campo. Uma menina me chamou de ‘Gabi Neymar’ e daí pegou”, explica.
No Kindermann, Gabi chamou a atenção com seus gols e dribles. Mas a baixinha não conseguiu ficar longe da família e retornou para os braços da mãe, que tem medo de avião e não viajou para acompanhar Gabi. “Passei 6 meses e voltei, fiquei com saudade da família. Aí o Caucaia fez uma proposta pra mim e eu aceitei”, comenta, citando que por conta da carga de treinos, deixou a escola no 1º ano do Ensino Médio. “Pretendo concluir ainda”, planeja.
Destaque no Caucaia, Gabi chega à Seleção
E no Caucaia, veio o reconhecimento. Gabi foi artilheira do time na Copa do Brasil com 2 gols. Além disso, brilhou na conquista do Campeonato Cearense feminino 2013. Veio então, em agosto, a primeira convocação para compor a Seleção Brasileira Sub-20 que se prepara para o Sul-Americano da categoria em 2014, no Uruguai. E agora em novembro, a segunda convocação, para participar da terceira de quatro etapas preparatórias para o torneio.
“Eu nem acreditava. Estava em casa, sentada, quando recebi o telefonema do presidente (do Caucaia, Eudes da Silva Lima). E tô muito feliz. Só devo agradecer ao presidente, ao clube e às companheiras, pois não iria chegar onde cheguei sem a ajuda deles”, diz, citando que foi bem recebida na Seleção. “Conheço algumas das meninas lá, com quem joguei. Tinham umas 7 meninas do Kindermann. Brinquei muito com elas lá, foi legal”, garante, aos risos.
A jovem de 19 anos participará de treinos no RJ. FOTO: LUCAS DE MENEZES
Nome de um, inspiração em outro
Apesar de ter como apelido o nome do camisa 11 do Barcelona, Gabi é fã mesmo de outro brasileiro, que joga noMilan. “Eu sempre gostei, e joguei com a camisa dele: Kaká. Meu estilo é mais o dele, eu acho. Sou o estilo de levar pra cima, do Neymar, mas no meio de campo, tenho o estilo do Kaká”, define. “Neymar é um ídolo, né? Mas cada um tem o seu futebol. Eu sempre me dediquei no meu e quero sempre subir, nunca pensar pra trás. Quando eu cheguei à Seleção, me botaram logo de titular no time. Gostaram de mim. Vou me dedicar a essa camisa sim”, afirma.
A jovem frisa também que se inspira em uma jogadora que foi eleita cinco vezes a melhor do mundo. “Me inspiro na Marta. Sempre achei uma boa jogadora. Joga muito, né? E eu assistindo, olhava e dizia: ‘mamãe, eu quero ser ela’. E mamãe dizia: ‘um dia você vai ser a Marta’. Se Deus quiser, vou me dedicar a isso”, admite.
Cabeça no lugar
A mãe garante que a filha tem tudo para brilhar, pela dedicação e pelos passos que dá também fora de campo. Com a “cabeça no lugar”, Gabi não se envolve com coisa s que possam atrapalhar sua carreira. “Ela sempre dizia que chegava numa Seleção e tá aí onde ela chegou. Eu converso com ela. Ela nunca deu trabalho. Não bebe, não sai. É só do treino pra casa. É uma boa filha. Fico muito feliz (de ver) onde minha filha chegou”, afirma Regina Célia, com os olhos marejados.
Para quem gosta de futebol, e tem sonho semelhante ao de Gabi, um recado da meia da Seleção: “Quero dizer para nunca desistir. Se alguém falar uma coisa com você, nunca baixe a cabeça. Vá até o final. Eu fui até o final e hoje estou aqui, sonho realizado, e vou defender essa camisa do Brasil”, finaliza.
Gabi viaja no próximo dia 13 de novembro para o Rio de Janeiro, ficando até o dia 25 do mesmo mês. A Seleção treinará na cidade de Pinheiral/RJ. Boa sorte, Gabi!