segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Vítimas da seca recebem doações

Ação chega à nona edição e beneficia famílias que pedem ajuda na rodovia, entre Caucaia e Canindé
O sol castiga a pele da agricultora Maria Ilzete Cardoso Lopes, no entanto, ela não pode desistir de permanecer em uma das margens da BR-020 à espera de ajuda dos motoristas que passam à toda pela via entre Caucaia e Canindé. Afinal, toda a sua família de nove pessoas, incluindo duas crianças menores de quatro anos, aguarda as doações para sobreviver mais um dia.
Neste ano, a iniciativa, que está em sua nona edição, arrecadou centenas de cestas básicas, garrafões de água e bandejas de ovos FOTO: KLEBER A. GONÇALVES

Nesse domingo, graças a ação de um grupo de empresários, liderados por Francisco Martins, esse martírio teve um pouco de alívio. Ela foi uma das ganhadoras de cestas básicas, água e ovos, distribuídas na primeira quinzena de dezembro.

Se para Maria Ilzete esse ato significa comida na mesa dos filhos por pelo menos uma semana, para Francisco Martins, é apenas uma gota no oceano de tantos que precisam de auxílio. "Sinto-me triste e alegre por isso. Triste pela situação de calamidade provocada pela seca e alegre por poder fazer isso, oferecendo um pouco para quem realmente precisa", afirma ele.

A ação está em sua nova edição e esse ano arrecadou 300 cestas básicas, 400 garrafões de água e 300 bandejas de ovos. "Sei que é pouco para tanta gente. Com a seca, nunca vi tantos agricultores na estrada", diz Francisco Martins.

Devoto de São Francisco, o empresário conta com o apoio de pelo menos 30 pessoas, entre familiares, amigos e fornecedores. A campanha é realizada durante todo o ano e a distribuição acontece sempre no segundo domingo de dezembro. "Não foi promessa, mas uma vontade muito grande de ajudar esse pessoal tão sofrido", revela.

Um dos beneficiados, o agricultor José Wellington da Silva, conta que enfrenta problemas da falta de água no assentamento Sousa, no município de Canindé desde o ano passado. Duas vezes ao dia, a solução é buscar água em uma cacimba a dez metros de profundidade. Mas o esforço não é suficiente. "Tive que vim para a estrada pedir ajuda a quem passa. A plantação de milho e feijão morreu e um gadozinho que tinha também já se foi. Lá em casa são dez bocas para dar de comida e não sei o que será", afirma.

Alívio
Sem ter perspectivas, José lamenta o fato de ser agricultor e ter que viver de migalhas."Todo sábado e domingo a gente está na beira da BR pedindo esmola, esperando um pouco de alívio para matar a fome e a tristeza de ver o chão esturricado e sem vida", frisa.

A caravana, liderada por Francisco Martins, que seguiu no caminhão com mantimentos, saiu de um posto de combustível, a 30 km de Fortaleza, com destino a Canindé. Não demorou muito tempo para se avistar, ao longo da rodovia, um verdadeiro batalhão de pedintes que buscam a solidariedade dos motoristas que fazem o trajeto entre a Capital e o município, com maior concentração entre Itapebussu e Caridade. A grande quantidade impressiona quem passa.

O aposentado Pedro Henrique do Nascimento, que vinha de Canindé para Fortaleza, comenta que costuma fazer esse percurso pelo menos duas vezes por mes e, a cada fim de semana, o número deles aumenta. "Minha filha chorou de ver tanta miséria e a nossa família também conseguiu juntar roupa e comida e doamos, mas é pouco, pois são muitos necessitados".

Outro que parou o carro para entregar um saco com roupas e calçados foi o professor Frederico de Alencar. Segundo ele, ao trafegar pela BR-020, vindo de Canindé, ficou chocado com o que viu. "A gente sabe que são trabalhadores da agricultura pelas roupas, e quando chega mais perto, pelo rosto e mãos calejadas. Fiquei indignado em constatar que a ajuda não chega para quem precisa", critica.
dn

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