Secult anuncia hoje dois novos Tesouros Vivos e grupos contemplados com edital de apoio à tradição transmitida
A princípio chamados de Mestres da Cultura, quando do lançamento do primeiro edital, em 2006, os senhores e senhoras escolhidos pela Secretaria de Cultura do Estado tinham em comum o dom de desenvolver uma arte popular, ligada às raízes cearenses, e o vigor de transmiti-las aos mais novos, dando continuidade à tradição.
Assim, artesãos, rendeiras, sineiros, aboiadores, jangadeiros, além dos dançarinos do coco, da caninha verde e de outras tantas gingas populares foram sendo selecionados ao longo dos anos, recebendo, cada um, do Tesouro do Estado, um salário mínimo vitalício, como ajuda de custo pelo trabalho que desenvolviam, e prêmios pelos serviços prestados à cultura cearense. Até o ano passado, já se havia cumprido o objetivo de contemplar 60 cearenses com o título, há cerca de quatro anos renomeado para Tesouro Vivo.
Em setembro do ano passado, contudo, outras duas vagas foram postas em seleção. O Ceará dava adeus à dedicação de dois de seus Tesouros: Mestre Sebastião Cosmo (representante do reisado) e Mestre Miguel Francisco da Rocha ( integrante de banda Cabaçal), falecidos em 2011.
A partir de hoje, na Casa Juvenal Galeno, a Secretaria de Cultura do Estado promove a diplomação dos dois novos mestres selecionados e de mais dois grupos, que deverão fazer parte da lista de coletivos também contemplados com o edital.
Nomes
Foram os 67 anos de trabalho que lhe concederam as alcunhas de "Mestre Bibi" ou ainda "Bibi Santeiro". Morador de Canindé, Deoclécio Soares Diniz ganhou fama produzindo imagens sacras em grandes tamanhos. A arte de santeiro, sustento de tantas famílias em seu município, aprendeu com o pai, Manoel Profiro dos Santos, também escultor, que, por outro lado, não pretendia que o filho seguisse seu mesmo destino.
Reconheceu seu talento e lhe deu incentivo, no entanto, após ver sua primeira escultura em madeira. O primeiro trabalho ainda se encontra erguido na matriz de Massapê, uma estátua de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Comum às casas de Canindé, o ofício de santeiro não permite que muitos nomes se destaquem. Em seis décadas de labuta, Seu Bibi, no entanto, orgulha-se de ter suas imagens espalhadas por diversas cidades brasileiras, como Piauí, Maranhão e Rio de Janeiro.
No Ceará, suas imagens em grandes dimensões pontuam a paisagem de Ipueiras (Nossa Senhora de Fátima), Mulungu (São Sebastião), Caucaia (Santa Edwirges), e em Fortaleza, na igreja de Nossa Senhora da Saúde, no Mucuripe. A maior de todas e um de seus maiores orgulhos também é a estátua de São Francisco, em seu próprio município, que atinge 31,25 metros.
Deixando o sertão, rumo ao litoral, vem de Trairi a mais nova mestra. Dona Raimunda Lúcia Lopes é conhecida popularmente, na localidade de Timbaúba, onde reside, por Dona Raimundinha. Filha de Antonio Lopes Sobrinho e Zélia de Souza Lopes, nasceu em Trairi, mas residiu em Fortaleza e em São Paulo, trabalhando como bordadeira e costureira. Assim, aprendeu sobre o mercado do produto artesanal, auxiliando na venda de suas próprias peças e na de seus familiares.
Sua dedicação ao trabalho com rendas de bilro levou-lhe a assumir o cargo de Coordenadora da Associação das Produtoras Rurais de Artesanato de Timbaúba (Agrupart). Atualmente, sua técnica e experiência lhe permite aplicar rendas nas roupas e criar seus próprios desenhos.
Grupos
A partir de hoje, os municípios de Barbalha e Maracanaú se unem aos de Senador Pompeu, Juazeiro do Norte e Quixadá, localidades que já tiveram grupos contemplados pelo edital dos Tesouros Vivos.
No Sítio Cabaceiras, zona rural de Barbalha, o Grupo de Incelenças da Comunidade atua há pelo menos meio século. É composto atualmente por 17 mulheres e uma criança, que nas apresentações veste-se de anjinho. As integrantes são convidadas para, através dos cantos de benditos, encomendarem as almas em velórios. Quase sempre fazem também companhia aos grupos de Penitentes da região.
O grupo é reconhecido na comunidade, tendo participado de eventos, mostras, e filmes ("Corisco e Dadá" e "Lua Cambará", de Rosemberg Cariri), além de uma participação no programa Globo Repórter. Mais recentemente, gravaram um documentário com o pernambucano Ariano Suassuna.
Também conhecida por Dona Terezinha, Maria Rodrigues da Silva, responsável pelo grupo, nasceu ali mesmo no Sítio Cabaceiras, onde até hoje mora. As rezas alimentam a alma, mas o corpo foi sustentado com a lida no campo, plantando, colhendo e "quebrando coco babaçu", como diz.
Estudo não tem, mas aprendeu com Dona Josefa Vitorino, sua avó, as cantigas, rezas, benditos e ladainhas pela região. Coube a ela, então, o repasse da tradição para outras mulheres da comunidade até formar o grupo que lidera hoje e que leva o nome de Grupo das Sentinelas da Irmandade da Cruz.
Já de Maracanaú provém o segundo grupo contemplado: o Pastoril Nossa Senhora de Fátima. Tradição cultural religiosa trazida pelos colonizadores, reminiscências do teatro religioso medieval, o Pastoril, vem sendo mantido, enquanto manifestação popular, como atividade principal do grupo, iniciado por Rita Gomes da Costa em 1946.
Antes dela o auto já era encenado nas festas natalinas por uma tia, chamada Benvinda, e por familiares, nos bairros Pirambú e Tirol, em Fortaleza. Com a morte da tia, Dona Rita assumiu a organização do Pastoril, formando o grupo e dando-lhe o nome pelo qual é conhecido ainda hoje.
A manifestação sempre acompanhou a família: do bairro Tirol foi para o Conjunto Ceará, e depois para Maracanaú, acompanhando Dona Rita. Ivanila, sua filha, atual responsável pelo Pastoril, assumiu as tarefas da mãe quando ela faleceu, em 2004.
Francisca Ivanila Gomes da Costa Marques, a "Dylla Costa" continuou o trabalho em Maracanaú, zelando pelo grupo, que já recebeu vários destaques, entre os quais o Prêmio Culturas Populares, da Secretaria da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura. Além do trabalho com o Pastoril Nossa Senhora de Fátima, Dylla também é conhecida por ter ampliado a tradição para Fortaleza (Grupo Pastoril Estrela Luminosa) e Pacatuba (Pastoril Tia Rita).
NÚMERO
60 é o número de vagas do programa Tesouros Vivos. Segundo a Secult, uma ampliação desta política já foi proposta, dada a quantidade de municípios cearenses
4 mestres passam a representar Canindé no programa Tesouros Vivos, com a diplomação de Deoclécio. Já com a rendeira Dona Raimundinha, Trairi passa a ter doi
A princípio chamados de Mestres da Cultura, quando do lançamento do primeiro edital, em 2006, os senhores e senhoras escolhidos pela Secretaria de Cultura do Estado tinham em comum o dom de desenvolver uma arte popular, ligada às raízes cearenses, e o vigor de transmiti-las aos mais novos, dando continuidade à tradição.
Assim, artesãos, rendeiras, sineiros, aboiadores, jangadeiros, além dos dançarinos do coco, da caninha verde e de outras tantas gingas populares foram sendo selecionados ao longo dos anos, recebendo, cada um, do Tesouro do Estado, um salário mínimo vitalício, como ajuda de custo pelo trabalho que desenvolviam, e prêmios pelos serviços prestados à cultura cearense. Até o ano passado, já se havia cumprido o objetivo de contemplar 60 cearenses com o título, há cerca de quatro anos renomeado para Tesouro Vivo.
Em setembro do ano passado, contudo, outras duas vagas foram postas em seleção. O Ceará dava adeus à dedicação de dois de seus Tesouros: Mestre Sebastião Cosmo (representante do reisado) e Mestre Miguel Francisco da Rocha ( integrante de banda Cabaçal), falecidos em 2011.
A partir de hoje, na Casa Juvenal Galeno, a Secretaria de Cultura do Estado promove a diplomação dos dois novos mestres selecionados e de mais dois grupos, que deverão fazer parte da lista de coletivos também contemplados com o edital.
Nomes
Foram os 67 anos de trabalho que lhe concederam as alcunhas de "Mestre Bibi" ou ainda "Bibi Santeiro". Morador de Canindé, Deoclécio Soares Diniz ganhou fama produzindo imagens sacras em grandes tamanhos. A arte de santeiro, sustento de tantas famílias em seu município, aprendeu com o pai, Manoel Profiro dos Santos, também escultor, que, por outro lado, não pretendia que o filho seguisse seu mesmo destino.
Reconheceu seu talento e lhe deu incentivo, no entanto, após ver sua primeira escultura em madeira. O primeiro trabalho ainda se encontra erguido na matriz de Massapê, uma estátua de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Comum às casas de Canindé, o ofício de santeiro não permite que muitos nomes se destaquem. Em seis décadas de labuta, Seu Bibi, no entanto, orgulha-se de ter suas imagens espalhadas por diversas cidades brasileiras, como Piauí, Maranhão e Rio de Janeiro.
No Ceará, suas imagens em grandes dimensões pontuam a paisagem de Ipueiras (Nossa Senhora de Fátima), Mulungu (São Sebastião), Caucaia (Santa Edwirges), e em Fortaleza, na igreja de Nossa Senhora da Saúde, no Mucuripe. A maior de todas e um de seus maiores orgulhos também é a estátua de São Francisco, em seu próprio município, que atinge 31,25 metros.
Deixando o sertão, rumo ao litoral, vem de Trairi a mais nova mestra. Dona Raimunda Lúcia Lopes é conhecida popularmente, na localidade de Timbaúba, onde reside, por Dona Raimundinha. Filha de Antonio Lopes Sobrinho e Zélia de Souza Lopes, nasceu em Trairi, mas residiu em Fortaleza e em São Paulo, trabalhando como bordadeira e costureira. Assim, aprendeu sobre o mercado do produto artesanal, auxiliando na venda de suas próprias peças e na de seus familiares.
Sua dedicação ao trabalho com rendas de bilro levou-lhe a assumir o cargo de Coordenadora da Associação das Produtoras Rurais de Artesanato de Timbaúba (Agrupart). Atualmente, sua técnica e experiência lhe permite aplicar rendas nas roupas e criar seus próprios desenhos.
Grupos
A partir de hoje, os municípios de Barbalha e Maracanaú se unem aos de Senador Pompeu, Juazeiro do Norte e Quixadá, localidades que já tiveram grupos contemplados pelo edital dos Tesouros Vivos.
No Sítio Cabaceiras, zona rural de Barbalha, o Grupo de Incelenças da Comunidade atua há pelo menos meio século. É composto atualmente por 17 mulheres e uma criança, que nas apresentações veste-se de anjinho. As integrantes são convidadas para, através dos cantos de benditos, encomendarem as almas em velórios. Quase sempre fazem também companhia aos grupos de Penitentes da região.
O grupo é reconhecido na comunidade, tendo participado de eventos, mostras, e filmes ("Corisco e Dadá" e "Lua Cambará", de Rosemberg Cariri), além de uma participação no programa Globo Repórter. Mais recentemente, gravaram um documentário com o pernambucano Ariano Suassuna.
Também conhecida por Dona Terezinha, Maria Rodrigues da Silva, responsável pelo grupo, nasceu ali mesmo no Sítio Cabaceiras, onde até hoje mora. As rezas alimentam a alma, mas o corpo foi sustentado com a lida no campo, plantando, colhendo e "quebrando coco babaçu", como diz.
Estudo não tem, mas aprendeu com Dona Josefa Vitorino, sua avó, as cantigas, rezas, benditos e ladainhas pela região. Coube a ela, então, o repasse da tradição para outras mulheres da comunidade até formar o grupo que lidera hoje e que leva o nome de Grupo das Sentinelas da Irmandade da Cruz.
Já de Maracanaú provém o segundo grupo contemplado: o Pastoril Nossa Senhora de Fátima. Tradição cultural religiosa trazida pelos colonizadores, reminiscências do teatro religioso medieval, o Pastoril, vem sendo mantido, enquanto manifestação popular, como atividade principal do grupo, iniciado por Rita Gomes da Costa em 1946.
Antes dela o auto já era encenado nas festas natalinas por uma tia, chamada Benvinda, e por familiares, nos bairros Pirambú e Tirol, em Fortaleza. Com a morte da tia, Dona Rita assumiu a organização do Pastoril, formando o grupo e dando-lhe o nome pelo qual é conhecido ainda hoje.
A manifestação sempre acompanhou a família: do bairro Tirol foi para o Conjunto Ceará, e depois para Maracanaú, acompanhando Dona Rita. Ivanila, sua filha, atual responsável pelo Pastoril, assumiu as tarefas da mãe quando ela faleceu, em 2004.
Francisca Ivanila Gomes da Costa Marques, a "Dylla Costa" continuou o trabalho em Maracanaú, zelando pelo grupo, que já recebeu vários destaques, entre os quais o Prêmio Culturas Populares, da Secretaria da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura. Além do trabalho com o Pastoril Nossa Senhora de Fátima, Dylla também é conhecida por ter ampliado a tradição para Fortaleza (Grupo Pastoril Estrela Luminosa) e Pacatuba (Pastoril Tia Rita).
NÚMERO
60 é o número de vagas do programa Tesouros Vivos. Segundo a Secult, uma ampliação desta política já foi proposta, dada a quantidade de municípios cearenses
4 mestres passam a representar Canindé no programa Tesouros Vivos, com a diplomação de Deoclécio. Já com a rendeira Dona Raimundinha, Trairi passa a ter doi
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