terça-feira, 16 de outubro de 2012

Caucaia: Migrações rurais

As estiagens prolongadas são fatores desencadeantes de migrações rurais. Isso, em face da queda da produção primária, da liberação da mão de obra disponível e do desânimo geral que se abate sobre os grupos ocupados com a agricultura familiar, que perdem qualquer perspectiva econômica de sobrevivência.

No Polígono das Secas, a ausência de chuvas na estação costumeira do plantio provoca a evasão de trabalhadores rurais desde passado remoto. Na década de 40 do século XX, a iniciativa governamental deu impulso ao deslocamento, em massa de nordestinos para a Região Norte, onde teriam trabalho garantido na extração do látex destinado à produção da borracha.

Em plena guerra mundial, o Brasil possuía plantação nativa e a técnica rudimentar de produção de borracha, enquanto mercados desenvolvidos careciam dessa matéria-prima abundante na Amazônia. A ida de retirantes para o chamado Inferno Verde registrou vários ciclos. Porém, o estímulo para a produção de borracha foi o mais expressivo, com respaldo governamental.

Ao longo,ainda do século XX, nordestinos se prestaram para outras aventuras, como a do povoamento do Maranhão chuvoso, projeto respaldado pela Sudene, e, logo após a seca total de 1970, o povoamento de áreas abertas ao longo da Rodovia Transamazônica. Em todas essas transferências humanas houve de tudo: insucesso na empreitada por enfermidades mesológicas, inadaptação ao meio hostil e falhas do poder público no apoio à experiência de colonização.

Rigorosamente, não haveria necessidade das migrações pontuais se as recomendações dos especialistas no semiárido nordestino fossem postas em prática. O agrônomo José Guimarães Duque reuniu na obra "O Nordeste e as Lavouras Xerófilas" um elenco de culturas agrícolas, adaptadas às condições do meio, capazes de abastecer vasto segmento industrial com seu aproveitamento.

Assim como a carnaúba, há inúmeras outras da convivência do homem rural com potencial econômico para superar o atraso secular da região. Contudo, não ouviram os técnicos do Dnocs, nem levaram em conta as recomendações para a expansão das lavouras que modificam a aridez dos sertões.

A indiferença do poder público para com o sertanejo tem alimentado seus deslocamentos Brasil afora. São Paulo e Rio de Janeiro, outrora, mercados de trabalho dos cearenses, foram substituídos pela Zona Franca de Manaus e pela expansão agrícola de Mato Grosso. Para o Centro-Oeste, a maioria dos cearenses tem migrado por períodos de seis meses, correspondentes ao plantio agrícola de cada ano.

A Região Metropolitana de Fortaleza também recebe contingentes de trabalhadores rurais, em busca de oportunidade de emprego nas novas indústrias do Eusébio, Aquiraz, Maracanaú, Maranguape, Horizonte, Pacajus, Caucaia e Pecém e em São Gonçalo do Amarante. A saída das pessoas acaba desequilibrando a densidade demográfica desses Municípios. Assim, o contingente rural de 2.671 habitantes em Itaitinga foi reduzido para apenas 252 moradores.

Os censos têm constatado esse fenômeno em escala ampla. As estatísticas acusam queda na taxa de crescimento da população rural da ordem de 57,6%. E até no crescimento total da população, como ocorreu em 21 cidades, dentre elas Guaramiranga. As transformações econômicas, os polos industriais e a melhoria nas condições de vida não conseguiram, ainda, barrar o êxodo rural.

DN

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