segunda-feira, 6 de julho de 2015

Caucaia: Suposta carta escrita por presos ameaça agentes penitenciários do Ceará

Uma carta, supostamente escrita por detentos, reivindica melhorias na Unidade Penitenciária Francisco Adalberto de Barros Leal (UPFABL), antiga CPPL de Caucaia, conhecida como "Carrapicho", e na Unidade Prisional Agente Luciano Andrade Lima (CPPL I), em Itaitinga. No texto datado em 3 de julho, os agentes penitenciários são ameaçados de morte, caso não sejam atendidas as exigências.

 De acordo com o Sindicato dos Agentes e Servidores do Sistema Penitenciário do Ceará (Sindasp/CE), a carta foi entregue ao motorista do ônibus incendiado no bairro Canindezinho, no último domingo, 5, por três bandidos envolvidos na ação criminosa. No texto, é exigido "respeito com os presos e suas visitas", "atenção com a falta de água e de energia", "cuidado com as comidas" e para não retirar "os presos de cela para bater".

 Para o presidente do Sindasp, Valdemiro Barbosa, a carta foi escrita dentro de uma unidade prisional e passada a uma visita no último domingo. Em seguida, esta pessoa teria entregado ao grupo criminoso que ateou fogo no ônibus. Segundo ele, o Sindicato teve conhecimento sobre o fato nesta segunda-feira, 6. "A categoria está apreensiva. Estamos tomando as providências e já acionamos a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus). A gente percebe a total inversão de valores. Os agentes que têm que manter a ordem passaram a ser caçados por bandidos de forma explícita", disse Valdemiro.

 As reivindicações da carta sobre as condições precárias das unidades são compartilhadas pelo Sindasp. "O que foi relatado é verdade. As unidades estão sucateadas, não há investimento do Governo. As unidades estão em condições insalubres. Está muito complicado", comentou o presidente do Sindicato. Valdemiro afirmou à reportagem que a associação está formalizando um pedido de audiência com o Governo para debater o assunto e tomar as providências necessárias.

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Após a divulgação da carta, agentes penitenciários procuraram o Sindicato. De acordo com Valdemiro, o último caso de agente penitenciário assassinado ocorreu em 2012, na CPPL I. “Recebi vários telefonemas e mensagens de agentes que estão nestas unidades. A gente sabe que o risco é muito grande. O último agente assassinado trabalhava na CPPL I. Os bandidos mais perigosos estão na CPPL I. Junto com a apreensão da categoria, têm o sentimento de indignação pelo que estamos vivendo e o sentimento de cobrança com a Sejus para que tome providências necessárias", contou o presidente.

 Um agente penitenciário, que preferiu não ser identificado, relatou a situação dentro das unidades prisionais. "O clima está pesado. Eles (detentos) ficam intimidando os agentes penitenciários. Em relação à segurança, é pequena, não tem qualificação dos agentes para ter acesso ao armamento. Eles já chegaram a dizer que sabiam o carro que a gente chega, onde a gente pega o ônibus. Através das visitas, eles sabem o horário que a gente chega, nossa fisionomia e a roupa que está vestindo. Eles têm todo o aparato para fazer qualquer coisa".

 Ainda segundo o agente, os detentos contribuem para o estado insalubre das unidades prisionais. "Eles recebem alimentação e ficam jogando no pátio. Quando recebem em dia de domingo, eles não querem e deixam expostas. Os gatos que têm lá começam a comer e fica toda a sujeira dentro da unidade. Eles reclamam, a gente comunica a direção e a limpeza é feita. Mas, a cultura deles é de destruição. A gente limpa, eles sujam", comentou.

 Resposta da Sejus
A Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) enviou uma nota ao O POVO Online comentando o caso. A pasta disse que está acompanhando as investigações da Polícia Civil sobre a queima do ônibus e, caso se confirme alguma relação com internos do sistema penitenciário, o órgão adotará as providências cabíveis.

A Sejus também comentou as reclamações ligadas ao sistema, como falta de água e energia, a alimentação e maus tratos dos presos.

"O fornecimento de água e energia nas unidades é feito regularmente, tendo carros-pipas à disposição para complementar o fornecimento caso haja algum desabastecimento. Com relação aos alimentos, não existe qualquer desperdício ou descarte dos alimentos levados pelos familiares. Todos os alimentos são vistoriados antes de entrar e somente são dispensados se for identificado algum ilícito nos mesmos. A Sejus repudia veementemente a informação de que os presos sofram maus tratos por parte da administração prisional e pelos agentes penitenciários. A atual gestão pauta suas ações na humanização do sistema e denúncias nesse sentido são prontamente investigadas e, caso confirmadas, todas as providências necessárias serão adotadas", informou a Sejus através de nota.

De acordo com a Secretaria, a pasta tem realizado ações para oferecer melhores condições às unidades, assim como reduzir o excedente populacional. Para a Sejus, "o Sindicato parece desconhecer as recentes ações da gestão nesse sentido".
Com informações da repórter Jéssika Sisnando

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