Quando há alternância
entre ciclos políticos no poder central, essa transição costuma se
espalhar de forma mais lenta no Interior. Ao ascender ao Governo do
Estado, como regra, o grupo demora um pouco a se consolidar como
hegemônico também nos municípios Estado afora. O PSDB perdeu o controle
do governo cearense em 2006, mas se manteve como maior partido, em
número de prefeituras, na eleição de 2008. O predomínio tucano no
Interior não chegou ao fim como resultado de derrotas eleitorais, mas de
manobras de bastidor. Passado o pleito de 2010, parlamentares e
gestores migraram em direção ao recém-criado PSD, naquilo que o
presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, qualificou como “ataque
especulativo da família Gomes”. Referia-se ao respaldo dado pelo clã que
comanda o Palácio da Abolição às filiações em massa de ex-tucanos à
nova sigla. A era PSDB chegou ao fim, mas não se estabeleceu, ainda,
novo ciclo hegemônico nas prefeituras do Interior. A maioria delas apoia
o Governo do Estado, é verdade. Mas sempre foi assim e é provável que
sempre seja. A questão é que, como consequência da partilha do poder
estadual entre diversas forças partidárias, não se conseguiu, até agora,
constituir predomínio claro de algum agrupamento. Talvez ocorra nestas
eleições, mas não é o que indicam as pesquisas. Os levantamentos
minimamente críveis já divulgados sobre as disputas Ceará afora indicam
que, para o partido do governador Cid Gomes (PSB), as perspectivas não
são as melhores.
A FORÇA DO GOVERNADOR NO INTERIOR
Até
ontem, haviam sido divulgadas pesquisas do Ibope sobre as eleições para
14 prefeituras do Interior, todas contratadas pelo Sistema Verdes
Mares. Em sete delas, o PSB integra a coligação que está atrás: Aracati,
Caucaia, Crato, Iguatu, Lavras da Mangabeira, Quixeramobim e Russas. Em
outros cinco casos, o candidato apoiado pela legenda do governador está
na dianteira: Icó, Juazeiro do Norte, Quixadá, Sobral e Tauá. Com um
detalhe – em nenhum deles o PSB tem o candidato a prefeito. Há ainda os
casos de Santa Quitéria e Marco, nos quais os candidatos que o PSB apoia
estão tecnicamente empatados na liderança. Claro que as consultas
envolvem apenas 14 dos 183 municípios – fora a Capital. Mas o recorte
inclui algumas das principais prefeituras das diversas regiões
cearenses. Fornece-se, desse modo, excelente recorte para compreender
como está a disputa pelo poder. E é curioso constatar que, no segundo
ciclo de eleições municipais após a chegada de Cid Gomes ao Governo do
Estado, não se conseguiu constituir predomínio mais claro.
Não
deixa de ser algo natural. Também o PSDB, no auge de seu poderio, só
consolidou-se como força majoritária em meados da década de 1990. Em
1992, quando Ciro Gomes era governador, seu candidato saiu derrotado em
seu berço político – Sobral.
Mas o estilo político de Cid, adepto da conciliação e dos pactos com potenciais adversários, é fator extra para a desagregação.
POSSÍVEIS DERROTAS EMBLEMÁTICAS
Há
vários aliados de peso do governador Cid Gomes envolvidos em disputas
nas quais podem sair derrotados. O caso mais sintomático provavelmente é
o de Lavras da Mangabeira, reduto político maior de Eunício Oliveira
(PMDB), hoje o principal aliado de Cid. A irmã do senador é a atual
prefeita. Lá, o PSB tem candidato próprio, mas contra a vontade do
Palácio da Abolição, que preferiria o alinhamento com Eunício. De todo
modo, quem lidera não é nenhum dos dois, mas o Dr. Tavinho (PRB), que
está em conflito com seu próprio partido. Já em Aracati, o secretário do
Turismo, Bismarck Maia (PSB), tentou construir grande acordo, mas
perdeu o controle do processo. Regina Cardoso (PSB) saiu candidata à sua
revelia, mas acabou desistindo. No Ibope, Ivan Silvério (PDT) está em
vantagem. Em Crato, o deputado estadual Sineval Roque (PSB), alinhado
aos Ferreira Gomes há longa data, está num distante terceiro lugar. Em
Caucaia, a mega-aliança inclui PSB, PT, DEM, PDT e outros menos cotados
em torno do prefeito Washington Gois (PRB). Mas quem lidera é a
ex-prefeita Inês Arruda (PMDB). Trata-se do segundo maior município do
Estado.
SITUAÇÃO DO PT É AINDA PIOR
Com
presença no segundo turno incerta em Fortaleza, a situação do PT é muito
complicada no Interior. Está atrás em Juazeiro do Norte e Quixadá. Dos
municípios onde foram feitas pesquisas do Ibope, o partido só lidera em
Sobral. Mas o prefeito Clodoveu Arruda, o Veveu, tem imagem mais ligada
ao governador que ao próprio PT. Além disso, os petistas estão em
coligações que lideram as pesquisas em Aracati, Tauá e Iguatu. E apoia
candidatos que dividem a liderança em Santa Quitéria e Marco.
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